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The role of public policies in the circular economy: a theoretical
review from the perspective of sustainable management
|
|
Mestranda
do PPGA da Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC) – Brasil. natalia_oliveira@unoesc.edu.br |
RESUMO
Este a= rtigo analisa criticamente o papel das políticas públicas na promoção da economia circular, buscando compreender como elas influenciam, viabilizam ou limitam= a transição para modelos econômicos circulares em diferentes contextos. Por m= eio de uma revisão integrativa e qualitativa da literatura produzida entre 2016= e 2024, foram selecionados artigos científicos, legislações, documentos institucionais e experiências práticas da União Europeia e da América Latin= a. A análise bibliográfica com categorização temática permitiu estruturar os principais conceitos e modelos teóricos sobre economia circular e propor uma tipologia de políticas públicas, organizada em políticas regulatórias, incentivos econômicos e capacitação-educação. Os resultados destacam que, embora a economia circular seja valorizada como estratégia de desenvolvimen= to sustentável, persistem desafios relacionados à fragmentação institucional, à baixa integração entre níveis de governo e à inclusão social, especialmente= de trabalhadores informais e economias populares. A tipologia proposta oferece= uma ferramenta analítica para orientar gestores e formuladores na construção de estratégias mais eficazes, inclusivas e adaptáveis às especificidades locai= s.
Palavras-chave:
economia circular; políticas públicas; sustentabilidade; desenvolvim=
ento
sustentável.
ABSTRACT
This article critically exam=
ines the
role of public policies in promoting the circular economy (CE), aiming to
understand how they influence, enable, or constrain the transition to circu=
lar
economic models in different contexts. Through an integrative and qualitati=
ve
literature review of publications from 2016 to 2024, scientific articles,
legislation, institutional documents, and practical experiences from the
European Union and Latin America were analyzed. The thematic bibliographic
analysis allowed the identification of key concepts and theoretical models =
on
CE and the development of a public policy typology, organized into regulato=
ry
policies, economic incentives, and education-training initiatives. The resu=
lts
show that, despite the growing recognition of CE as a sustainable developme=
nt
strategy, challenges persist regarding institutional fragmentation, limited
coordination across government levels, and social inclusion, particularly
concerning informal workers and popular economies. The proposed typology of=
fers
an analytical tool to guide policymakers and managers in designing more
effective, inclusive, and context-adapted circular strategies.
: circular economy; public policies; sustainability; sustainable
development.
Recebido em 10/07/2025. Aprovado em 10/11/2025. Avaliado pelo s=
istema
double blind
1
INTRODUÇÃO
Nas últimas = décadas, o modelo econômico linear — baseado em extrair, produzir, consumir e descar= tar — tem se mostrado insustentável, pois pressupõe um fornecimento ilimitado de recursos naturais e uma capacidade infinita do meio ambiente para absorver resíduos (Murray, Skene e = Hayne, 2017). Essa lógica capitalista, intensificada após a Segunda Guerra Mundial, gerou um ritmo crescente de produção e consumo (Custódio, Junqueira e Torres Manrique, 20= 24), resultando em degradação ambiental devido à atividade extrativista, à polui= ção e à vida curta dos produtos, muitas vezes causada pela obsolescência planej= ada (Custódio, Junqueira e Torres= Manrique, 2024; Murray, Skene e Hayne, 2017; Núñe= z-Cacho et al., 2018). Se o consumo continua a crescer, a exploração de recu= rsos naturais finitos intensifica a escassez, acelera a perda de biodiversidade e gera um aumento exponencial de resíduos, evidenciando que o modelo de econo= mia linear não pode mais ser mantido (Custódio, Junqueira e Torres Manrique, 20= 24).
Nesse contex= to, a Economia Circular (EC) surge como uma alternativa promissora, que busca um modelo econômico mais sustentável e eficiente (Custódio, Junqueira e Torres Manrique, 20= 24). A EC é um sistema industrial concebido para ser restaurativo ou regenerativo, substituindo o conceito de "fim de vida" (do berço = ao túmulo) pela restauração (Custódi= o, Junqueira e Torres Manrique, 2024; Milios, 2017; Murray, Skene e Hayne, 2017). Ela propõe uma reorganização sistêmica da economia, promovendo o redesenho de processos e sistemas para maximizar a função do ecossistema e minimizar a geração de resíduos. Os princípios fundamentais incluem a reutilização, a remanufatura, a reciclage= m (Murray, Skene e Hayne, 2017= ) e a extensão da utilidade dos produtos pelo maior tempo possível (Milios, 2017).
Apesar do cr= escente interesse acadêmico e político na EC, endossada por instituições internacio= nais e governos (Valenzuela e Böhm, 2017), a literat= ura ainda apresenta lacunas relevantes. A própria conceitualização da EC é complexa, englobando abordagens complementares como ecodesign, ecologia industrial e lean manufact= uring (Milios, 2017). Contudo, o discurso dominante tende a uma estratégia de despolitização que vê o desperdí= cio apenas como um "processo quebrado= " a ser consertado (Valenzuela e Böhm, 201= 7).
A crítica ma= is notável reside na ausência de considerações em relação à dimensão social no discurso atual da EC. Embora elementos como a criação de empregos existam na narrativa, a ênfase no aspecto material e econômico tende a ignorar questõe= s de bem-estar humano, justiça social e equidade intergeracional (Murray, Skene e Hayne, 2017). Adicionalmente, há uma escassez de estudos que articulam, de forma sistemát= ica, o papel das políticas públicas na promoção da EC. A transição para a circularidade depende de mudanças organizacionais, de treinamento e de novos hábitos de consumo, o que exige um "novo paradigma no desenvolvimento = de políticas" que dite uma visão holística em nível de sistemas (Milios, 2017).
Diante dessa= lacuna, este artigo busca responder à seguinte questão de pesquisa: como as polític= as públicas têm influenciado, viabilizado ou limitado a transição para modelos econômicos circulares em diferentes contextos? A relevância do tema está re= lacionada ao reconhecimento da EC como estratégia essencial para o desenvolvimento sustentável, cuja efetividade depende de políticas públicas bem estruturada= s, integradas e adaptáveis às realidades locais e regionais. Compreender e sistematizar essas políticas é fundamental para orientar gestores, formulad= ores e pesquisadores (Custódio, Junque= ira e Torres Manrique, 2024).
O objetivo g= eral do estudo é realizar uma revisão integrativa e análise crítica das principais abordagens teóricas sobre EC, com ênfase no papel das políticas públicas. Especificamente, busca-se: (1) sistematizar os marcos conceituais da EC; (2) propor uma tipologia original de políticas públicas voltadas à EC; (3) identificar experiências internacionais e latino-americanas que exemplifiqu= em diferentes modelos de atuação pública; e (4) apontar lacunas e caminhos para pesquisas futuras.
Do ponto de = vista teórico, o artigo sistematiza as políticas públicas em uma tipologia estruturada e apresenta uma agenda de pesquisa capaz de orientar o desenvolvimento de estudos futuros e a formulação de políticas mais eficaze= s. A metodologia adotada consistiu em uma revisão integrativa e qualitativa da literatura e de documentos institucionais produzidos entre 2016 e 2024, con= templando artigos de periódicos de alto impacto, marcos legais e estratégicos naciona= is e internacionais, além de estudos de caso na América Latina e União Europeia.= Essa análise permitiu compreender diferentes perspectivas sobre a atuação públic= a na transição para a EC, considerando tanto contextos internacionais quanto especificidades latino-americanas e brasileiras.
A estrutura = do artigo é organizada da seguinte forma: a Seção 2 apresenta a metodologia; a Seção 3 discute conceitos, diretrizes, barreiras e lacunas das políticas públicas; a Seção 4 compara União Europeia e América Latina e apresenta a tipologia desenvolvida; e a Seção 5 reúne as conclusões, a agenda de pesqui= sa, as considerações finais e as implicações práticas.
2 METODOLOGIA
Este artigo = adotou uma revisão integrativa e qualitativa da literatura com o objetivo de sistematizar e analisar criticamente as principais abordagens, conceitos e modelos teóricos sobre economia circular (EC), enfatizando o papel das políticas públicas.
Trata-se
de um estudo teórico-conceitual, de caráter exploratório e interpretativo, =
que
busca consolidar o conhecimento existente e propor uma tipologia de polític=
as
públicas voltadas à EC.
2.1 Procedimentos de Pesquisa<= o:p>
A
pesquisa foi conduzida em três etapas complementares:
· O levantamento foi realizado entre abril e j= unho de 2025, em bases de dados acadêmicas nacionais e internacionais, tais como Scopus, Web of Science, ScienceDirect, Scielo e Google Scholar.
· Foram utilizados os descritores em português, inglês e espanhol: economia circular, circular economy= , public policy, policy framework, sustainability= policies, economía circular, políticas públicas= .
· O recorte temporal compreendeu publicações e= ntre 2016 e 2024, período em que o debate sobre economia circular ganhou maior destaque nas agendas políticas e acadêmicas.
· O levantamento inicial identificou 142 publicações. Após leitura de títulos e resumos, 58 estudos foram considerad= os relevantes. Desses, 25 artigos científicos, cinco documentos institucionais (Ellen MacArthur Foundation, OECD, União Europeia), duas leg= islações brasileiras e uma política pública latino-americana (Colômbia) foram selecionados para análise mais aprofundada.
b) Análise qualitativa e
categorização temática:
· As publicações selecionadas foram analisadas= de forma interpretativa, com foco nos trechos mais relevantes para o objeto do estudo.
· A organização dos achados foi realizada por = meio de categorização temática, que permitiu identificar três eixos principais de políticas públicas relacionadas à economia circular:
1. &nb=
sp;
Políticas
regulatórias: marcos legais e diretrizes normativas;
2. &nb=
sp;
Políticas
de incentivo econômico: subsídios, instrumentos financeiros e compras públicas sustentáveis;
3. &nb=
sp;
Políticas
educacionais e de capacitação: formação, campanhas de conscientização, inse=
rção
da EC em currículos.
c) Construção da tipologia: <= o:p>
· Com base na comparação entre experiências europeias (ex.: EU Circular Economy Action Plan) e latino-ame= ricanas (Brasil e Colômbia), foi proposta uma tipologia de políticas públicas para a economia circular.
· A proposta buscou identificar padrões recorrentes, lacunas e possibilidades de integração entre as dimensões normativas, econômicas e educacionais.
2.2 Critérios=
de Inclusão
e Exclusão
<= span style=3D'mso-list:Ignore'>o&nb= sp; Foram incluídas publicações que:
· Apresentaram modelos, políticas ou estratégi= as diretamente relacionados à EC;
· Abordaram a implementação da EC em diferentes escalas e contextos territoriais;
· Contribuíram para compreender o papel das políticas públicas na transição circular.
· Foram excluídas publicações que:
· Tratavam do tema EC apenas sob perspectiva técnica/industrial, sem relação com políticas públicas;
· Não apresentavam informações metodológicas ou dados relevantes para análise crítica.
2.3 Limitaçõe=
s metodológicas
· A pesquisa tem caráter teórico e não realizou validação empírica da tipologia proposta;
· Não foram conduzidos estudos de caso ou entrevistas com gestores e formuladores de políticas;
· A análise depende da disponibilidade e acess= o às publicações, o que pode ter restringido a abrangência de documentos governamentais de alguns países.
3 ECONOMIA CIRCULAR E POLÍTICAS PÚBLICAS
3.1 Origens e evolução do conceito de economia circular
A economia c= ircular (EC) emergiu como resposta às limitações crescentes do modelo econômico lin= ear, baseado em extrair, produzir, consumir e descartar. Suas origens são divers= as e interdisciplinares, articulando-se com correntes como a ecologia industrial= , o design regenerativo, a economia do desempenho e os sistemas fechados de produção.
Segundo Geissdoerfer et al. (2017), a EC constitui um novo paradigma de sustentabilidade, cujo objetivo= é desacoplar o crescimento econômico do uso intensivo de recursos naturais. Para os auto= res, a EC vai além da reciclagem ao integrar estratégias como redução de resíduo= s, remanufatura, reutilização, regeneração de recursos e compartilhamento. A E= C se aproxima conceitualmente de noções como economia verde, ecodesign e desenvolvimento sustentável, o que amplia sua riqueza conceitual, mas igualmente contribui para sua complexidade e dispersão.
Kirchherr, Reike e Hekkert (20= 17), reforçam essa complexidade ao analisarem 114 definições sobre EC, evidenciando a ausência de um consenso conceitual, o que representa uma barreira para sua aplicação prática. Os autores observam que muitas definições se concentram = em aspectos ambientais e técnicos, negligenciando dimensões sociais, culturais= e distributivas. Essa crítica é particularmente relevante para países do Sul Global, onde desigualdades socioeconômicas e injustiças ambientais podem ser perpetuadas por modelos circulares que priorizam a eficiência, mas ignoram = os impactos sociais.
Ainda segund= o os autores, a EC continua sendo um conceito predominantemente centrado em aspe= ctos técnicos e ambientais, enquanto dimensões sociais permanecem marginalizadas= .
Murray, Skene e Hayne (2017= ) acrescentam que, embora a EC seja promissora, ela corre o risco de ser capturada por interesses corporativos e tratada como um modismo empresarial se não houver= um aprofundamento crítico de suas bases teóricas e implicações estruturais. Os autores argumentam que a transição para a EC requer mudanças profundas nas cadeias de valor globais e políticas públicas integradas que envolvam a sociedade civil de forma mais substancial.
Apesar da am= pliação do debate, permanece uma lacuna teóric= a relevante: poucos estudos propõem modelos organizados que classifiquem, comparem ou tipifiquem as diferentes formas como as políticas públicas de EC vêm sendo implementadas nos países. A elabor= ação de uma tipologia aplicável à administração pública sustentável pode contribuir= para superar abordagens fragmentadas e ampliar a aplicabilidade prática da EC em diferentes contextos socioeconômicos.
3.2 Princípios e diretrizes da economia circular
A EC é frequentemente apresentada como uma abordagem sistêmica capaz de reconfigur= ar processos produtivos, padrões de consumo e modelos de negócio. De acordo co= m a Ellen MacArthur Foundation (2021b), principal referência institucional sobr= e o tema, estabelece três princípios fundamentais para a EC:
a) Eliminar resíduos e poluição desde o design;
b) Manter produtos e materiais em uso pelo maior tempo possível;
c) Regenerar sistemas naturais.
Esses princí= pios propõem uma ruptura com o modelo linear, incentivando a circulação contínua= de materiais e a redução de impactos ambientais. Bocken= span> et al. (2016) ampliam essa concepção ao relacionar a EC a estratégias de design circular e a modelos de negócio inovadores, como aluguel, leasing e produto como serviço, além do fechamento de ciclos de materiais por meio da logística reversa e da remanufatura.
Embora essas diretrizes sejam amplamente aceitas, parte da literatura crítica, especialm= ente aquela vinculada a debates do Sul Global e à justiça ambiental, alerta que = a EC pode ser insuficiente para promover transformações sociais profundas se não incorporar explicitamente preocupações com equidade, inclusão e soberania s= obre os recursos. Segundo Valenzuela e Böhm (2017), = há um risco de a EC reproduzir lógicas extrativistas e relações centro-periferia, caso os modelos sejam transferidos de países desenvolvidos para países em desenvolvimento, sem adaptações socioculturais.
Essa crítica= torna-se particularmente relevante ao se observar os contrastes entre o contexto eur= opeu e o brasileiro, onde as capacidades institucionais, a infraestrutura e os desafios sociais são significativamente diferentes. Modelos de negócios circulares que funcionam na União Europeia, por exemplo, podem não ser viáv= eis em comunidades periféricas brasileiras sem o suporte de políticas públicas adaptadas, investimento em capacitação e mecanismos que suportem as barreir= as culturais e socioeconômicas locais.
3.3 Políticas públicas para a economia circular: comparações e lacuna=
s
Governos desempenham papel central na promoção da EC, tanto como
reguladores quanto como agentes fomentadores de novos modelos econômicos. A
União Europeia é frequentemente citada como referência com seu Plano de Ação
para a Economia Circular (2020) (em inglês, Circular E=
conomy
Action Plan, ou CEA=
P 2020),
que integra políticas regulatórias, instrumentos econômicos e incentivos pa=
ra o
consumo sustentável em setores estratégicos. O plano busca, de forma
articulada, apoiar a inovação, reduzir a pressão sobre os recursos naturais=
e
contribuir para a neutralidade climática até 2050 (Eur=
opean
Commission, 2020).
No Brasil, o reconhecimento institucional da EC é demonstrado por
iniciativas como a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída
pela Lei n. 12.305/2010, que visa a real inserção da EC como política públi=
ca
econômica brasileira. O marco legal da PNRS introduziu instrumentos como a
logística reversa, que representa um dos elementos da economia circular.
Adicionalmente, o Projeto de Lei (PL) 1874/2022, avança na criação de uma
política específica para a EC. Contudo, a efetivação e o alcance das ações
circulares permanecem limitados, visto que a PNRS tende a focar na perspect=
iva
do descarte de resíduos, em vez da implementação real de uma economia circu=
lar.
A transição carece de consolidação, coordenação e, principalmente, de
financiamento robusto. Custódio, Junqueira e Torres Ma=
nrique
(2024), reforçam que o município é o ator estatal mais estratégico para imp=
lementar
a economia circular, devido à sua proximidade com a sociedade. Entretanto, =
no
nível municipal, persistem lacunas, sendo a falta de recursos financeiros um
problema central, pois, embora recebam obrigações, os municípios não recebe=
m os
fundos necessários para a implementação de políticas de educação, inovação e
incentivo. Os autores concluem que não faz sentido conceder poderes e não
fornecer instrumentos econômicos de mudança, sem os quais as políticas,
incluindo a implementação efetiva do princípio de Resíduo Zero, "ficam
apenas no papel" e não podem ser implementadas com a eficácia esperada=
.
Na Co=
lômbia,
Vargas González (2021) aponta que os avanços na política nacional de EC
dependem da articulação entre regulação, inovação e participação social,
destacando a importância da integração multinível para superar desigualdades
regionais.
Ao co=
mparar os
cenários europeu e latino-americano, observa-se que, enquanto a UE investe =
em
metas vinculantes, financiamento integrado e abordagem sistêmica, países co=
mo
Brasil e Colômbia ainda enfrentam forte
fragmentação institucional e desafios na integração de políticas circulares=
. Esse
contraste evidencia uma lacuna empírica e normativa: há pouca sistematização
sobre como diferentes países organizam, coordenam e operacionalizam suas
políticas de economia circular, especialmente na América Latina.
3.4 Desafios e barreiras na implementação pública da economia circula=
r
Apesar do avanço das agendas circulares, a implementação pública da EC
enfrenta desafios complexos e interdependentes. Kirchh=
err,
Reike e Hekkert (20=
17),
destacam que a ausência de
consenso conceitual dificulta a formulação de políticas públicas coerentes,=
o
que leva à fragmentação de estratégias e à dificuldade de coordenação entre
setores e níveis de governo.
Murray, Skene e Hayn=
e
(2017) reforçam que, em mui=
tos
países, as práticas circulares são abordadas superficialmente, frequentemen=
te
apresentadas como soluções isoladas ou como marketing ambiental, sem integr=
ar
transformações profundas nas estruturas de governança. Este desafio torna-se ainda mais crítico em países do Sul
Global, onde barreiras institucionais, restrições orçamentárias e desiguald=
ades
sociais dificultam a adoção de práticas sustentáveis de maneira estrutural.=
Nesse sentido, Schröder, Anggraeni e
Weber (2019), alertam que, embora a
economia circular seja amplamente promovida como um caminho promissor para a
sustentabilidade, suas limitações sociais e institucionais ainda são pouco
consideradas.
A
economia circular (EC) tem sido cada vez mais promovida como um novo modelo
para o desenvolvimento sustentável. Seus defensores argumentam que, ao redu=
zir
o uso de materiais e o desperdício, e ao aumentar a reutilização, a recicla=
gem
e a regeneração dos sistemas naturais, a EC pode contribuir significativame=
nte
para a sustentabilidade ambiental. No entanto, tem-se dado menos atenção a =
como
as práticas de EC podem afetar outras dimensões do desenvolvimento sustentá=
vel,
particularmente os aspectos sociais e econômicos (Schröder, Anggraeni
e Weber, 2019, p. 77).
Essa
perspectiva reforça que uma abordagem efetiva da EC nas políticas públicas =
deve
ir além da dimensão ambiental e incorp=
orar
dimensões sociais, econômicas e de governança, com especial atenção às
realidades locais e às desigualdades estruturais. =
span>
Chenavaz e Dimitrov (2024)=
identificam
diversas barreiras que limitam a efetividade das políticas circulares:
· &nb=
sp;
Barreiras
culturais: normas sociais e hábitos de consumo que favorecem o descarte ráp=
ido;
· &nb= sp; Barreiras comportamentais: inércia institucional e resistência individual à mudança;<= o:p>
· &nb=
sp;
Barreiras
regulatórias: leis desatualizadas e sobreposição de competências;
· &nb=
sp;
Barreiras
técnicas: falta de infraestrutura e tecnologia;
· &nb=
sp;
Barreiras
logísticas: dificuldades na coleta, transporte e reaproveitamento de materi=
ais.
Hartl=
ey et
al. (2023) argumentam que muitas dessas barreiras são agravadas por
regulações contraditórias e desatualizadas. Yu et al. (2022) destacam
que políticas eficazes exigem adaptabilidade, com monitoramento contínuo, a=
justes
permanentes e participação de múltiplos atores.
A literatura também aponta que a transição circular precisa ser
politicamente ambiciosa e socialmente inclusiva. Valenzuela e Böhm (2017) e Schröder, Anggraeni e
Weber (2019), alertam para os risc=
os de
“greenwashing” institucional e captura corporat=
iva.
Custódio, Junqueira e Torres Manrique (2024) ac=
rescentam
que, no Brasil, a ausência de recursos e coordenação local fragiliza a incl=
usão
de catadores e cooperativas, enquanto Vargas González (2021) demonstra que, na Colômbia, a integração multinível é
fundamental para enfrentar desigualdades regionais e promover maior
legitimidade social.
Portanto, a implementação pública da EC exige abordagens integradas,
contínuas e adaptáveis, que articulem mudanças culturais, regulatórias e
institucionais, considerando as especificidades locais e as complexas
interações entre os diversos atores sociais e econômicos.
4 MODELOS E ABORDAGE=
NS DE
POLÍTICAS PÚBLICAS
4.1 Tipologia de abordagens públicas
As po=
líticas
públicas voltadas à economia circular (EC) podem ser organizadas em três
abordagens principais: regulatória, incentivadora e estratégica. Essa tipol=
ogia
busca sistematizar as formas pelas quais diferentes governos promovem a
transição circular, considerando os instrumentos utilizados, seus impactos
potenciais e os desafios envolvidos. A proposta dialoga com autores como =
span>Murray, Skene e Hayn=
e
(2017), Silva (2019) e Kirchherr, Reike e Hekkert
(2017), ao reconhecer que a EC requer transformações sistêmicas profundas nos modelos de produçã=
o e
consumo. Nesse sentido, Murray, Skene
e Hayne, 2017, p. 370 afirmam que:
A
Economia Circular é um modelo econômico em que o planejamento, o fornecimen=
to
de recursos, a aquisição, a produção e o reprocessamento são projetados e
gerenciados, tanto como processo quanto como resultado, para maximizar o
funcionamento do ecossistema e o bem-estar humano, sendo o objetivo final d=
esta
abordagem conseguir o desacoplamento do crescimento econômico da depleção d=
os
recursos naturais e da degradação ambiental (Murray, S=
kene
e Hayne, 2017, p. 370).
Ao
considerar esses fundamentos, a estrutura proposta neste estudo organiza as
abordagens de maneira interdependente e
visual, contribuindo para o desenvolvimento de políticas públicas mais
integradas e eficazes na promoção da circularidade.
Com
base na literatura especializada e em evidências práticas, a Tabela 1 apres=
enta
uma tipologia de abordagens públicas para a economia circular, classificand=
o-as
em três categorias principais — regulatória, incentivadora e estratégica — e
descrevendo suas características, exemplos, potenciais, limites e riscos (E=
llen
MacArthur Foundation, 2021a; Núñez-Cacho et =
al.
2018; Brasil, 2010).
Tabela 1 – Tipologia de
Abordagens Públicas para Economia Circular
|
Abordagem |
Características |
Exemplos |
Potenciais |
Limites e Riscos |
|
|
|
Diretivas da UE; PNRS; metas de reciclagem; design ecológico |
|
Possível resistência; burocracia e inércia institucional |
|
Incentivadora |
|
|
|
Risco de dependência excessiva e má alocação de recursos |
|
Estratégica<=
/span> |
|
|
|
Exige forte capacidade estatal e visão integrada |
Fonte: Com base em Ellen
MacArthur Foundation (2021a); Núñez-Cacho et=
al.
(2018); Brasil (2010).
A abordagem regulatória impõe normas mínimas obrigatórias e é fundame=
ntal
para estabelecer um ambiente jurídico previsível. Mili=
os
(2017) reconhece a Responsabilidade Estendida do Produtor (EPR) como um
conceito que deveria incentivar atitudes proativas na indústria, mas critica
que os sistemas EPR atuais não fornecem incentivos suficientes de design pa=
ra a
reciclabilidade, pois reduzem a ambição das empresas individuais. Milios (2017) sugere que, para corrigir essas falhas =
de
mercado, o EPR precisa ser aprimorado com regras obrigatórias de ecodesign,
para se tornar uma intervenção política mais eficaz na internalização de cu=
stos.
Silva (2019) defende que a regulação, especialmente por meio do planejamento
urbano territorial, é relevante e pertinente para reorientar o uso do solo e
lidar com as mudanças complexas e relações de poder inerentes à EC nas cida=
des
brasileiras.
Entretanto, uma ênfase exclusiva na regulação, especialmente em países
como o Brasil, pode gerar uma fragmentação normativa com baixa eficácia
prática, sobretudo em contextos subnacionais com institucionalidade limitad=
a.
Isso evidencia a necessidade de complementação das normas por meio de
instrumentos mais dinâmicos e adaptáveis, capazes de responder às realidades
locais e promover a transição para a circularidade de forma eficaz.
A abordagem incentivadora busca induzir comportamentos desejados por =
meio
de instrumentos econômicos, como subsídios e créditos fiscais. Tais
instrumentos corrigem distorções e tornam a circularidade mais atrativa
financeiramente (Milios, 2017). No contexto urb=
ano
brasileiro, Silva (2019) ressalta que as políticas econômicas (como polític=
as
de taxas e tributos, isenções ou subsídios e compras públicas), podem
reorganizar a cadeia de valor e viabilizar novos modelos econômicos. Silva =
(2019)
enfatiza ainda que, tais instrumentos de estímulo são subutilizados, mas se
tornam mais eficazes e são os principais elementos para viabilizar novos
modelos econômicos, quando articulados dentro de um plano mais amplo de
estratégias de ação para atender aos princípios da EC e integrados ao
planejamento urbano territorial.
O principal risco dessa abordagem reside na criação de dependência de
subsídios ou na concentração de benefícios em setores específicos, sem prom=
over
transformações sistêmicas. É necessário garantir critérios transparentes e
acompanhamento contínuo para evitar distorções.
A abordagem estratégica está relacionada a planos integrados de longo
prazo, políticas educacionais, investimentos em infraestrutura e integração
entre diferentes níveis de governo. Para Milios=
(2017), sem uma visão estratégica interministerial,=
os
esforços regulatórios e incentivadores, quando adotados de forma isolada,
tendem a ser insuficientes. Silva (2019) argumenta que, no Brasil, a falta
dessa visão limita a eficácia de políticas circulares, especialmente nas
cidades.
O sucesso da abordagem estratégica depende de capacidade instituciona=
l,
articulação federativa e ampla mobilização social, o que ainda representa um
desafio nos países latino-americanos. Falhas na coordenação intersetorial e
ausência de metas de longo prazo minam os potenciais transformadores dessa
abordagem.
A Fun=
dação
Ellen MacArthur (2021a) propõe um roteiro estruturado para a implementação =
de
políticas públicas voltadas à EC, composto por etapas interdependentes que
orientam desde o diagnóstico inicial até o aprimoramento contínuo das ações=
. O
processo começa com a análise do contexto atual, que envolve uma análise
aprofundada das condições sociais, econômicas, ambientais e institucionais =
de
um determinado território. Essa etapa é fundamental para identificar
oportunidades, desafios e especificidades locais que influenciarão o desenho
das políticas públicas.
A par=
tir
desse diagnóstico, define-se a abordagem a ser adotada, que pode se apresen=
tar
sob três formas principais: regulatória, incentivadora ou estratégica. A
abordagem regulatória estabelece normas, padrões e requisitos legais; a
incentivadora oferece estímulos econômicos, fiscais ou financeiros; e a
estratégica integra a economia circular a planos de longo prazo e agendas
transversais de desenvolvimento. Essas abordagens não são excludentes entre=
si
e, idealmente, devem ser articuladas de maneira complementar para ampliar s=
eus
efeitos e fomentar transformações estruturais.
Em se=
guida,
desenvolve-se a formulação da política pública, preferencialmente realizada=
de
maneira colaborativa, fundamentada em evidências e alinhada aos objetivos de
sustentabilidade. A etapa de implementação intersetorial operacionaliza a
política por meio da cooperação entre diferentes setores e níveis de govern=
o, o
que demanda coordenação institucional e capacidade de articulação entre os
diversos atores envolvidos.
Para
assegurar a efetividade das ações, é imprescindível a existência de mecanis=
mos
de avaliação e monitoramento contínuos, com indicadores claros que permitam=
mensurar
resultados, impactos e eficiência dos instrumentos adotados. Por fim, a eta=
pa
de ajustes e aprimoramento das políticas garante a capacidade adaptativa do
processo, permitindo revisões periódicas fundamentadas nas evidências colet=
adas
e na participação social.
Esse =
percurso
proposto pela Fundação Ellen MacArthur (2021a) evidencia que a construção de
políticas públicas eficazes para a economia circular exige uma lógica cícli=
ca,
integrada e flexível, na qual as abordagens regulatória, incentivadora e
estratégica se complementam e convergem para fortalecer a transição circula=
r no
longo prazo.
4.2 Panorama compara=
do:
União Europeia X América Latina
4.2.1 União Europeia: modelo híbrido e sistêmi=
co X
América Latina: fragmentação e desafios institucionais
A União Europeia adota um modelo robusto, combinando regulação rigoro=
sa
com incentivos econômicos e uma estratégia de longo prazo. Geissdoerfer
et al. (2017) destacam que a UE posiciona a EC como paradigma de
desenvolvimento sustentável, integrado ao Pacto Ecológico Europeu. Kirchherr, Reike e Hekkert (2017), r=
eforçam
que a UE articula metas claras, cooperação interministerial e envolvimento
ativo do setor privado e da sociedade civil.
Nesse contexto a Responsabilidade Estendida do Produtor (EPR) é centr=
al
na política europeia e está conectada a financiamentos para inovação circul=
ar.
Este equilíbrio entre imposição legal e suporte econômico cria um ambiente =
favorável
para a adoção ampla da circularidade.
Na Am=
érica
Latina, as políticas circulares ainda carecem de sistematicidade. V), obser=
vam
que a EC é frequentemente vista como uma extensão de boas práticas ambienta=
is,
sem ser tratada como estratégia de Estado. Alguns países, como o Chile e a
Colômbia, despontam como exceções parc=
iais,
com legislações estruturadas e políticas nacionais em desenvolvimento (OECD,
2020; Ministério de Ambiente, 2019). Segundo Vargas González (2021), a Colô=
mbia
avança na transição para uma economia circular por meio de estratégias de
política pública que articulam diferentes níveis de governo, buscando integ=
rar
regulação, inovação e participação social.
O Méx=
ico, por
meio de iniciativas locais voltadas à restrição de plásticos de uso único, =
e o
Brasil, com ações centradas na logística reversa, ainda enfrentam limitações
significativas para integrar a economia circular de forma sistêmica. Entre =
os
principais entraves, destacam-se a baixa coordenação entre níveis de govern=
o, a
limitada capacidade institucional dos municípios e a insuficiente articulaç=
ão
intersetorial. No contexto brasileiro, Custódio, Junqueira e Torres Manrique (2024), ressaltam que os governos locais têm=
papel
estratégico na implementação da economia circular, mas carecem de instrumen=
tos
de governança e de recursos técnicos e financeiros que viabilizem a adoção =
de
agendas orientadas pelo princípio do “resíduo zero”. Silva (2019) complemen=
ta
que as políticas circulares no país permanecem dominadas por abordagens
normativas, com reduzida coordenação estratégica e uso limitado de incentiv=
os
econômicos.
Essas=
comparações
revelam tensões importantes:
· &nb=
sp;
Na UE, a =
EC é
política central com financiamento estável; na América Latina, é frequentem=
ente
periférica e dependente de pressões externas.
· &nb=
sp;
As capaci=
dades
institucionais subnacionais são mais consolidadas na UE, enquanto na América
Latina há grande disparidade regional e baixa infraestrutura logística para
operacionalizar a circularidade.
Adici=
onalmente,
observa-se que, enquanto a UE estabelece políticas uniformes e interligadas=
em
nível supranacional, a América Latina depende fortemente da atuação local e=
de
iniciativas municipais fragmentadas (Custódio, Junqueira e Torres Manrique, 2024), bem como de esforços nacionais ainda=
em
construção, como o caso colombiano (Vargas González, 2021).
4.2.2 Dimensão sociopolí=
tica e
desigualdades regionais
Além =
das
diferenças institucionais, as desigualdades regionais e as condições sociais
merecem destaque. Valenzuela e Böhm (2017) e Sc=
hröder,
Anggraeni e Weber (2019) alertam que a EC, quan=
do não
adaptada aos contextos locais, pode aprofundar exclusões sociais, especialm=
ente
quando políticas circulares priorizam cadeias formais de reciclagem e
negligenciam os trabalhadores informais, que são centrais no manejo de resí=
duos
nos países latino-americanos.
Nesse
contexto, Valenzuela e Böhm (2017) fazem uma cr=
ítica
contundente às abordagens tecnocráticas da economia circular, destacando os
riscos de invisibilização dos trabalhadores informais nas políticas de gest=
ão
de resíduos:
A
economia circular tende a ser promovida como uma estratégia técnica e apolí=
tica
de gestão de resíduos, que frequentemente ignora os contextos sociais e
históricos em que opera. Em particular, a formalização das cadeias circular=
es
pode marginalizar ainda mais os catadores e outros trabalhadores informais,=
que
desempenham um papel vital, mas invisibilizado, na reciclagem urbana,
especialmente no Sul Global (Valenzuela e Böhm,=
2017,
p. 22).
A aus=
ência de
participação social significativa e o baixo engajamento das economias popul=
ares
e solidárias comprometem a efetividade das políticas. No Brasil, Custódio,
Junqueira e Torres Manrique (2024), ressaltam q=
ue os
municípios desempenham papel estratégico no fortalecimento da economia
circular, mas ainda enfrentam fragilidades na articulação entre políticas
ambientais e sociais, o que limita a inclusão produtiva de catadores e
cooperativas locais.
De fo=
rma
semelhante, Vargas González (202=
1)
observa que a estratégia colombiana de transição para a economia circular s=
ó se
consolida quando articula a dimensão regulatória com a participação comunit=
ária
e o reconhecimento das desigualdades regionais. Isso
indica que políticas nacionais precisam dialogar com
realidades locais diversas para evitar a reprodução de exclusões sociais.
Nesse
sentido, é fundamental incluir dimensões de justiça ambiental, reconhecimen=
to
dos catadores e inclusão produtiva no desenho das estratégias circulares
regionais.
4.3 Agenda de pesqui=
sa
teórica ampliada
A tip=
ologia
proposta neste estudo representa uma contribuição original ao organizar de
forma sistemática as diferentes abordagens públicas da economia circular (E=
C)
em múltiplas escalas e contextos. Essa organização permite não apenas a
comparação entre estratégias adotadas, mas também a identificação de sinerg=
ias,
tensões e contradições nas políticas atualmente em curso. Diferentemente de
contribuições anteriores, a proposta ressalta a importância de políticas
públicas que sejam integradas, adaptáveis e sensíveis às especificidades
sociopolíticas locais, evitando soluções genéricas e promovendo maior
efetividade na transição para modelos circulares.
A par=
tir das
análises realizadas, propõe-se a ampliação da agenda de pesquisa teórica e
empírica, especialmente direcionada ao=
s seguintes
eixos prioritários:
· =
Eficácia das políticas circulares em contextos
subnacionais, especialmente em municípios com baixa capacidade de gestão e
financiamentos;
· =
Impactos sociais e distributivos das estratégi=
as
públicas de EC, incluindo os efeitos sobre populações vulneráveis e
trabalhadores informais;
· =
Interações e tensões entre instrumentos regula=
tórios
e econômicos, considerando diferentes setores e escalas territoriais;
· =
Capacidades institucionais locais e governança
multinível, essenciais para a coordenação de políticas circulares no Sul
Global;
· =
Adaptação de modelos europeus aos contextos
latino-americanos, identificando os limites da simples transferência de
políticas;
· =
Participação social e inclusão de cooperativas,
catadores e economias populares como atores estratégicos na construção de
modelos circulares mais justos.
Essa agenda visa aprofundar a compreensão das dinâmicas políticas e
institucionais que moldam a implementação da EC, contribuindo para a constr=
ução
de marcos teóricos e práticos mais sensíveis à diversidade de realidades e
desafios enfrentados, sobretudo nos países latino-americanos.
5 CONCLUSÃO
A aná=
lise
comparada evidenciou que a União Europeia consolidou um modelo híbrido e
sistêmico de economia circular, sustentado por metas vinculantes, financiam=
ento
estável e integração institucional, o que tem permitido avanços mais
consistentes rumo à neutralidade climática. Em contraste, a América Latina
apresenta iniciativas ainda fragmentadas, frequentemente restritas à gestão=
de
resíduos e pouco articuladas entre diferentes níveis de governo. Nesse cená=
rio,
países como Brasil e México avançam de forma pontual, enquanto Chile e Colô=
mbia
apresentam experiências mais estruturadas, mas que ainda enfrentam desafios=
de
coordenação e desigualdade territorial.
A dim=
ensão
sociopolítica revelou que políticas circulares na região correm o risco de
aprofundar exclusões sociais ao priorizar cadeias formais de reciclagem em
detrimento do trabalho de catadores e cooperativas. Custódio, Junqueira e
Torres Manrique (2024), destacam a centralidade=
dos
municípios e da inclusão produtiva no avanço de políticas circulares justas,
enquanto Vargas González (2021) demonstra que, na Colômbia, a transição dep=
ende
da integração multinível e da participação social para enfrentar desigualda=
des
regionais. Esses elementos reforçam a necessidade de que as iniciativas cir=
culares
latino-americanas incorporem princípios de justiça ambiental e reconheçam o
papel estruturante das economias populares.
Concl=
ui-se,
portanto, que a efetividade das políticas públicas de economia circular req=
uer
abordagens integradas, contínuas e adaptáveis, capazes de articular
instrumentos regulatórios, incentivos econômicos e participação social. Mai=
s do
que um arranjo técnico, trata-se de um processo político que demanda
legitimidade, coordenação institucional e inclusão. Nesse sentido, a tipolo=
gia
proposta neste estudo oferece uma contribuição analítica e prática,
sistematizando dimensões críticas para orientar gestores e pesquisadores na
construção de políticas circulares mais eficazes e sensíveis às realidades
locais.
5.1 Limitações do Es=
tudo,
Contribuições e Implicações Práticas
Este artigo apresenta algumas limitações que precisam ser reconhecida=
s. Por
se tratar de um estudo de natureza teórico-interpretativa, a tipologia prop=
osta
não foi validada empiricamente, o que restringe a avaliação de sua
aplicabilidade em contextos concretos. A ausência de estudos de caso ou de
análises quantitativas limita o potencial de generalização dos resultados e
impede testar a eficácia do modelo em diferentes realidades institucionais e
sociais. Além disso, não foram exploradas em profundidade as especificidades
setoriais nem a implementação em níveis subnacionais, aspectos que poderiam
revelar como as políticas circulares se desdobram nas escalas locais e
regionais. Outro limite refere-se ao recorte geográfico: embora o estudo
contemple a União Europeia e a América Latina, não abrange outros contextos=
do
Sul Global, como África e Ásia, cuja inclusão poderia enriquecer a análise
comparada e oferecer perspectivas adicionais sobre a adaptação das estratég=
ias
circulares.
Apesar dessas limitações, o artigo oferece contribuição ao propor uma
tipologia integrada que pode servir como referência para análises futuras, =
seja
em abordagens comparativas, seja em estudos empíricos voltados à formulação=
de
políticas públicas adaptadas às realidades locais. A principal implicação
prática reside no potencial do modelo para apoiar diferentes atores: gestor=
es
públicos podem utilizá-lo para diagnosticar as estratégias predominantes e
identificar lacunas a serem superadas; organismos internacionais podem
encontrar nele subsídios para a elaboração de diretrizes mais sensíveis às
capacidades institucionais dos países; e setores produtivos e redes
colaborativas podem orientar-se por seus parâmetros para alinhar práticas
empresariais aos instrumentos de regulação, incentivo e planejamento.
Assim, ao mesmo tempo em que evidencia os desafios e limites da pesqu=
isa,
este estudo abre caminhos para aprofundamentos futuros e oferece um instrum=
ento
analítico capaz de contribuir para a construção de políticas circulares mais
consistentes, inclusivas e adaptadas à diversidade dos contextos
socioeconômicos.
5.2 Agenda de Pesquisas Futuras
Com b=
ase nas
limitações e nas lacunas identificadas, delineia-se uma agenda de pesquisas=
capaz
de aprofundar e ampliar o debate sobre a implementação da economia circular=
. Um
primeiro passo consiste na validação empírica da tipologia proposta, por me=
io
de estudos de caso, análises de políticas em múltiplas escalas e avaliações=
de
impacto. Também se fazem necessárias comparações entre países e regiões do =
Sul Global,
de modo a verificar adaptações necessárias e restrições impostas por contex=
tos
institucionais e socioeconômicos diversos.
No âm=
bito
interno, pesquisas subnacionais e municipais podem esclarecer como as
capacidades institucionais locais influenciam a efetividade das estratégias
circulares e quais barreiras se apresentam no cotidiano da implementação. A=
lém
disso, há espaço para investigações sobre redes de governança colaborativa,
examinando como governos, setor privado, catadores, cooperativas e sociedade
civil constroem arranjos para viabilizar a circularidade.
Outro=
eixo
relevante é a integração de perspectivas de justiça ambiental e inclusão
social, considerando o papel das economias populares e solidárias e os impa=
ctos
redistributivos das políticas sobre grupos vulneráveis. A análise dessas
dimensões pode revelar tanto os riscos de aprofundamento das desigualdades
quanto as oportunidades de promover maior equidade nos processos de transiç=
ão
circular.
5.3 Considerações Finais
A transição para a economia circular exige mais do que marcos legais e
incentivos econômicos pontuais. Trata-se de um processo complexo, que deman=
da
governança pública orientada à sustentabilidade sistêmica, sustentada por
coordenação federativa eficaz, capacidades institucionais consolidadas,
participação social ativa e indicadores claros para monitoramento e
aperfeiçoamento contínuo das políticas.
Avançar nessa direção requer enfrentar barreiras estruturais, superar=
a
fragmentação de políticas setoriais e integrar de forma efetiva diferentes
instrumentos regulatórios, econômicos e estratégicos. Esse esforço pressupõe
alianças duradouras entre governos, setor produtivo, universidades,
organizações da sociedade civil e cidadãos, configurando uma ação coletiva e
multissetorial capaz de sustentar mudanças profundas e permanentes.
Consolidar a economia circular como estratégia de desenvolvimento
sustentável depende, portanto, da articulação integrada e colaborativa entre
atores e níveis de governo, garantindo que as transformações necessárias se=
jam
não apenas ambientalmente eficazes, mas também socialmente inclusivas e
adaptáveis às realidades latino-americanas e globais.
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