MIME-Version: 1.0 Content-Type: multipart/related; boundary="----=_NextPart_01DC3EA4.427CDC30" Este documento é uma Página da Web de Arquivo Único, também conhecido como Arquivo Web. Se você estiver lendo essa mensagem, o seu navegador ou editor não oferece suporte ao Arquivo Web. Baixe um navegador que ofereça suporte ao Arquivo Web. ------=_NextPart_01DC3EA4.427CDC30 Content-Location: file:///C:/2669CA96/2136.htm Content-Transfer-Encoding: quoted-printable Content-Type: text/html; charset="windows-1252"
Motivational factors and permanenc=
e in
volunteering: the experience of volunteer firefighters in Caçador/SC
Juciele Marta Baldissarel=
li https://orcid.org/0000-0003-2021-9547=
|
=
Doutora em Contabilidade e Administraç=
ão.
Universidade Alto Vale do Rio do Peixe (UNIARP) – Brasil.
juciele.marta@uniarp.edu.br |
Ana Luci de Oliveira =
https://orcid.org/0009-0002-2788-2026 |
Acadêmica
do curso de Administração. Universidade Alto Vale do Rio do Peixe (UNIARP=
) –
Brasil. analuci2510@gmail.com |
Tatiane Atanásio dos Santos Bernardy https://orcid.org/0009-0008-7831-1841 |
Doutoranda
em Desenvolvimento e Sociedade. Universidade Alto Vale do Rio do Peixe
(UNIARP) – Brasil. tatiane@uniarp.edu.br |
RESUMO
Palavras-chave: bombeiros voluntá=
rios;
voluntariado; permanência no voluntariado; reconhecimento social.
ABSTRACT
This study investigated the motivational factor=
s influencing
individuals to join and remain in the Volunteer Fire Department of Caçador/SC. Employing a quantitative and descriptive =
design,
the research was conducted with 49 active volunteers selected through
convenience sampling, based on an invitation extended to all members of the=
organization
during the data collection period. Data were obt=
ained
through a structured online questionnaire, comprising sociodemographic
questions and statements regarding motivations and satisfaction, and were a=
nalyzed
using descriptive statistics. The results indicated that most participants
joined primarily out of personal interest and a desire to contribute to the
community, reporting high levels of weekly dedication and a strong intentio=
n to
continue serving. The main motivational drivers were associated with positi=
ve
social impact, symbolic recognition, and the pleasure and learning provided=
by the volunteer activity. The study concludes that intri=
nsic
and prosocial motivations play a pivotal role in fostering engagement and s=
ustaining
volunteer work in emergency services. =
span>
Keywords: volunteer firefighters; volunteering; retention =
in
volunteering; social recognition.
Recebido
em 12/05/2025. Aprovado em 09/10/2025. Avaliado pelo sistema double blind
https://doi.org/10.22279/navus.v16.213=
6
1
INTRODUÇÃO
O voluntariado constitui uma prática social
relevante no contexto contemporâneo, especialmente quando vinculado a servi=
ços
de emergência e resposta a desastres. A atuação de voluntários em instituiç=
ões
como os Corpos de Bombeiros representa não apenas um suporte logístico e hu=
mano
às estruturas públicas, mas também evidencia um compromisso ético e comunit=
ário
orientado por valores como altruísmo, solidariedade e pertencimento social.=
Ao
mesmo tempo, a compreensão das motivações que sustentam esse engajamento
torna-se cada vez mais necessária, sobretudo diante de crescentes dificulda=
des
enfrentadas por organizações voluntárias no recrutamento, retenção e
valorização de seus membros (Nowakowska, 2022; =
Voronina & Basheva, 2=
022).
Em ambientes como o Corpo de Bombeiros Voluntár=
ios
de Caçador/SC, essa análise ganha maior relevância, considerando-se o grau =
de
exigência emocional e técnica dessas atividades. Estudos recentes têm
demonstrado que a motivação para o voluntariado é multifatorial e abrange
dimensões tanto intrínsecas — como a realização pessoal, o desejo de contri=
buir
com a sociedade e o desenvolvimento de habilidades — quanto extrínsecas, co=
mo o
reconhecimento social, o prestígio e eventuais benefícios indiretos associa=
dos à
atividade (Bryniewicz & Czapiewski,
2024; Gazzale, 2019). A literatura internacional
evidencia ainda que fatores como o espírito de camaradagem, o senso de dever
comunitário e a possibilidade de socialização entre pares são centrais para
explicar não apenas a entrada, mas também a permanência prolongada desses
indivíduos nas corporações voluntárias (Freise =
&
Walter, 2024; Breen et al., 2024).
Ademais, há evidências de que aspectos contextu=
ais,
como o histórico familiar de envolvimento com o voluntariado, o apoio
institucional, as condições de infraestrutura e a valorização simbólica dos
voluntários desempenham papel significativo na manutenção do engajamento. A
ausência de políticas eficazes de reconhecimento, associada a estruturas
organizacionais engessadas ou mal adaptadas à realidade dos voluntários, po=
de
gerar frustração, esgotamento emocional e abandono das atividades (Voronina, 2021; Petterini=
&
Demarchi, 2019).
O voluntariado desempenha um papel fundamental =
no
fortalecimento do tecido social, promovendo a coesão comunitária e fomentan=
do
valores como solidariedade, empatia e responsabilidade cívica. Além de
representar uma forma de participação ativa na vida pública, a prática
voluntária amplia o capital social ao incentivar a colaboração entre difere=
ntes
grupos sociais e promover redes de apoio locais. O engajamento voluntário
contribui significativamente para o bem-estar psicológico dos participantes=
, ao
oferecer sentido existencial e oportunidades de autorrealização (Voronina & Basheva, 2=
022; Breen et al., 2024).
Ao mesmo tempo, a sociedade se beneficia da
ampliação do alcance de serviços essenciais, como os de emergência e
assistência humanitária, especialmente em contextos ond=
e
o aparato estatal não consegue atuar de forma plena. Em setores de alta
complexidade e risco, como o combate a incêndios, o voluntariado não apenas
supre lacunas operacionais, mas reforça a resiliência comunitária em situaç=
ões
de crise. A literatura evidencia que os voluntários em serviços de emergênc=
ia,
além de atuarem diretamente em situações críticas, funcionam como agentes de
mobilização e educação social, disseminando práticas de prevenção, seguranç=
a e
cidadania (Freise & Walter, 2024; Nowakowska, 2022).
No contexto brasileiro, onde desigualdades
regionais afetam a distribuição de recursos públicos, iniciativas voluntári=
as
têm sido decisivas para assegurar cobertura em áreas historicamente
desassistidas. Esse é o caso de municípios do estado de Santa Catarina, ond=
e a
atuação de bombeiros voluntários chega a dobrar a taxa de cobertura do serv=
iço
de emergência. Assim, o voluntaria=
do não
apenas complementa a ação estatal, mas revela-se como uma força propulsora =
de transformação
coletiva e também de inovação social (Petterini & Demarchi, 2019).
Com base nessa perspectiva, a presente pesquisa=
foi
estruturada com o objetivo de investigar os fatores que motivam indivíduos a
ingressarem e permanecerem no Corpo de Bombeiros Voluntários de Caçador/SC.=
O
estudo está ancorado na abordagem teórico-metodológica proposta por Vladimirovna (2019), que desenvolveu um questionário
psicometricamente validado capaz de identificar múltiplas dimensões da
motivação voluntária, tais como autoafirmação, aprovação social, interesses
altruísticos, aspirações espirituais e satisfação pessoal. Tais dimensões se
revelam especialmente úteis para o contexto estudado, na medida em que
possibilitam a construção de perfis motivacionais detalhados, orientando
políticas mais eficazes de seleção, retenção e valorização dos voluntários.=
Além disso, estudos mais recentes reforçam a
pertinência de modelos motivacionais baseados na teoria funcionalista, como=
o
proposto por Clary e Snyder (1998), que compree=
nde o
voluntariado como uma prática orientada por diferentes funções psicológicas,
incluindo a expressão de valores, o desenvolvimento de carreiras, a proteção
emocional e a busca de compreensão pessoal (Voronina=
span>
& Basheva, 2022; Breen=
et al., 2024). Ao adaptar essas referências ao contexto local da pesquisa,
espera-se contribuir para o fortalecimento das estratégias institucionais de
valorização do voluntariado, reconhecendo a diversidade de motivos que
impulsionam os sujeitos e ampliando o reconhecimento de sua importância soc=
ial.
Dessa forma, esta investigação propõe-se não ap=
enas
identificar os motivos predominantes entre os bombeiros voluntários de
Caçador/SC, mas também a fornecer subsídios práticos e teóricos para gestor=
es,
formuladores de políticas e pesquisadores interessados na sustentabilidade e
expansão do voluntariado em serviços essenciais. O estudo configura-se,
portanto, como uma contribuição tanto empírica quanto aplicada para a
compreensão aprofundada do fenômeno do voluntariado em contextos críticos de
ação pública.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 O voluntariado no contexto social contempor=
âneo
O voluntariado, enquanto prática social
institucionalizada, passou por significativas transformações ao longo das
últimas décadas, deixando de ser uma atividade assistencialista e periférica
para assumir um papel estruturante na manutenção e ampliação do bem-estar
coletivo, da solidariedade ativa e da coesão social. Em um cenário de
complexificação das demandas sociais e de limitação da capacidade estatal, a
atuação de voluntários tornou-se essencial não apenas como complemento às
políticas públicas, mas como expressão de cidadania ativa e agência social.
Neste sentido, o voluntariado contemporâneo não pode ser compreendido apenas
como uma manifestação de altruísmo individual, mas como um fenômeno relacio=
nal,
político e cultural que articula dimensões éticas, subjetivas e estruturais=
(Voronina & Basheva, 2=
022; Freise & Walter, 2024).
As sociedades contemporâneas, marcadas por cris=
es
ambientais, econômicas e sanitárias recorrentes, têm experimentado uma
crescente valorização de redes locais de apoio, nas quais o voluntariado
desempenha papel central. A literatura destaca que os voluntários são
frequentemente os primeiros a responder a desastres naturais, emergências de
saúde pública e colapsos institucionais, oferecendo suporte imediato e
preenchendo lacunas de cobertura do sistema público (B=
reen
et al., 2024). Tal protagonismo tem levado à reconfiguração da relação entre
sociedade civil e Estado, com uma progressiva institucionalização do
voluntariado em políticas de segurança pública, defesa civil e saúde
comunitária. Essa reconfiguração, contudo, demanda cuidados, pois o risco de
transferência de responsabilidades do Estado para o cidadão voluntário pode
comprometer os princípios de equidade e universalidade dos serviços (Petterini & Demarchi, 2019).
O voluntariado deve, portanto, ser reconhecido =
como
um mecanismo de participação cidadã qualificada, dotado de função política e
educativa. Ao envolver sujeitos na resolução de problemas coletivos, ele
fortalece o capital social, entendido aqui como o conjunto de redes, normas=
e
confiança que facilitam a ação coletiva (Putnam, 2000). A prática voluntári=
a,
especialmente quando mediada por organizações bem estruturadas, contribui p=
ara
o aprendizado cívico, a criação de vínculos comunitários e o empoderamento =
de
grupos historicamente marginalizados. Conforme destacam Bryniewicz
e Czapiewski (2024), o voluntariado em serviços=
de
emergência, como os bombeiros voluntários, reforça os laços entre indivíduo=
s e
territórios, promovendo um sentimento de pertencimento que é, simultaneamen=
te,
afetivo e identitário.
No Brasil, o voluntariado tem desempenhado um p=
apel
particularmente relevante na garantia de serviços essenciais em áreas
geograficamente vulneráveis e com menor presença estatal. O caso de Santa
Catarina é emblemático: enquanto a média nacional indica que apenas 10% dos
municípios contam com unidades de bombeiros, a presença do voluntariado no =
estado
eleva essa cobertura para cerca de 50%, demonstrando sua eficácia como solu=
ção
comunitária de base (Petterini & Demarchi, =
2019).
No entanto, o crescimento dessa prática precisa ser acompanhado por polític=
as
públicas que garantam formação, estrutura, proteção e reconhecimento legal =
aos
voluntários, sob risco de precarização das relações de trabalho e fragilida=
de
institucional.
Assim, o voluntariado no contexto contemporâneo configura-se como uma das expressões mais sofisticadas da ação social colet= iva, exigindo abordagens interdisciplinares que contemplem seus impactos na prod= ução de cidadania, nas dinâmicas de poder local e na promoção de justiça social. Longe de ser um gesto apenas pessoal, ele se inscreve como prática política cotidiana, repleta de intencionalidade, negociação e construção simbólica.<= o:p>
2.=
2 Perfis
motivacionais em serviços de emergência
A atuação voluntária em serviços de emergência,
como nos Corpos de Bombeiros Voluntários, configura-se como uma das
manifestações mais complexas e exigentes do engajamento social. Diferenteme=
nte
de outras formas de voluntariado, que podem assumir caráter pontual, flexív=
el
ou de baixo risco, o serviço voluntário em contextos de emergência demanda =
um alto grau de comprometimento, preparo técnico, capa=
cidade
emocional e disponibilidade permanente. Essa exigência se expressa não apen=
as
nas atividades operacionais, mas também nas rotinas de treinamento, nos
vínculos institucionais e na capacidade de enfrentar situações de risco e
pressão constantes (Freise & Walter, 2024; =
Voronina, 2021). Tal cenário coloca em evidência a
necessidade de compreender os perfis motivacionais que sustentam esse
engajamento ao longo do tempo, especialmente diante das exigências físicas,
psicológicas e sociais que a função impõe (Nowakowska<=
/span>,
2022).
A literatura aponta que os voluntários inserido=
s em
ambientes de alto risco não são motivados apenas por impulsos altruístas
espontâneos, mas por um arranjo sofisticado de fatores intrínsecos e
extrínsecos que respondem a necessidades pessoais, sociais e identitárias (=
Nowakowska, 2022). Fatores como o desejo de contribui=
r com
a segurança da comunidade, o sentimento de pertencimento a uma instituição
respeitada, a busca por reconhecimento social e a aspiração ao desenvolvime=
nto
de competências técnicas e relacionais coexistem em uma estrutura motivacio=
nal
multifacetada (Freise & Walter, 2024). Essa
multiplicidade reflete o que Clary e Snyder (19=
98)
definem como funções psicológicas do voluntariado, as quais não apenas
justificam o ingresso na atividade, mas também moldam a permanência e a
evolução do envolvimento ao longo do tempo.
Em estudo realizado com voluntários da brigada =
de
incêndio da Alemanha, Freise e Walter (2024)
identificaram que muitos voluntários ingressam na corporação motivados por
ideais de contribuição social e solidariedade, mas permanecem vinculados à
organização por aspectos afetivos, relacionais e identitários. O voluntaria=
do,
nesses contextos, deixa de ser apenas um gesto e se converte em parte da
construção do self, integrando valores pessoais a práticas cotidiana=
s de
serviço e abnegação. Essa dimensão simbólica é reforçada pela percepção de =
que
o trabalho realizado é socialmente necessário e moralmente valorizado, o que
sustenta uma motivação contínua, mesmo diante de adversidades operacionais.=
Além disso, o voluntariado em emergências é
frequentemente marcado por um processo de ressignificação dos vínculos soci=
ais.
A convivência intensa com outros voluntários, o enfrentamento conjunto de
situações-limite e o compartilhamento de um código ético comum produzem o q=
ue Nowakowska (2022) denomina de “cultura da missão”, em=
que o
sentido de pertencimento e responsabilidade coletiva transcende as motivaçõ=
es
iniciais e fortalece o laço institucional. Essa cultura se configura como um
poderoso vetor de coesão interna, gerando formas de lealdade que são
dificilmente replicáveis em outras esferas do voluntariado.
Entretanto, é preciso destacar que o perfil
motivacional desses voluntários não é estático, mas se transforma ao longo =
do
tempo, influenciado pelas experiências vividas, pelo suporte institucional
recebido e pelas condições organizacionais de atuação. A ausência de
reconhecimento, a sobrecarga emocional ou a percepção de desorganização
institucional podem comprometer a continuidade do engajamento e gerar
sentimento de frustração ou abandono (Voronina,
2021). Por isso, compreender as motivações de forma longitudinal — atentand=
o-se
às suas transformações — é essencial para o planejamento de estratégias de
gestão que priorizem não apenas a entrada de novos membros, mas a retenção
qualificada daqueles que já compõem o corpo voluntário.
Nesse sentido, a identificação e análise dos pe=
rfis
motivacionais dos bombeiros voluntários não se restringe a uma curiosidade
teórica, mas constituem uma ferramenta indispensável para o fortalecimento
institucional, a melhoria das condições de trabalho voluntário e a consolid=
ação
de políticas públicas que valorizem essa forma de engajamento como expressão
legítima de participação cidadã e defesa da vida.
2.3 Reconhecimento, retenção e valorização de
voluntários=
A permanência do voluntário em instituições
sociais, particularmente aquelas que operam em contextos de risco elevado, =
como
os corpos de bombeiros, não pode ser explicada exclusivamente por
predisposições altruístas ou pela simples vontade de ajudar. Tais elementos,
embora fundamentais para o ingresso na atividade voluntária, mostram-se
insuficientes para sustentar o engajamento a médio e longo prazo. É nesse p=
onto
que a literatura destaca o papel crucial das estratégias institucionais de =
re=
conhecimento,
valorização simbólica e suporte contínuo na estruturação de
vínculos duradouros entre o voluntário e a organização (Freise
& Walter, 2024; Voronina & Basheva, 2022).
A motivação do voluntariado, tal como postulado=
por
Clary e Snyder (1998) em sua teoria funcionalis=
ta,
assume diferentes funções psicológicas para o indivíduo: valores, compreens=
ão,
carreira, social, proteção e autoestima. Dentro dessa perspectiva, o
reconhecimento institucional atua diretamente sobre essas funções,
particularmente aquelas associadas ao desenvolvimento pessoal, à integração
social e à confirmação de identidade. Pesquisas recentes evidenciam que a
ausência de feedback institucional, a invisibilidade do esforço voluntário =
ou a
indiferença por parte das lideranças contribuem significativamente para a
evasão, o esgotamento emocional e a descontinuidade do serviço (Nowakowska, 2022; Voronina,
2021).
Mais do que incentivos materiais — como subsídi=
os
logísticos, bonificações ou vantagens operacionais —, o reconhecimento
simbólico tem se mostrado um dos elementos mais poderosos para a retenção.
Cerimônias públicas, menções de destaque, feedbacks individualizados=
e
participação ativa nas decisões institucionais são práticas que reforçam o
pertencimento e a valorização identitária dos voluntários (Gazzale,
2019). Tais ações não apenas reafirmam o valor do trabalho desenvolvido, mas
também legitimam o voluntariado como prática social dotada de relevância
pública e política.
Em instituições que lidam com situações crítica=
s,
como incêndios, acidentes ou resgates, o impacto emocional do trabalho é
intenso e constante. Dessa forma, a valorização do voluntariado também deve
incorporar uma perspectiva de cuidado institucional=
,
com atenção à saúde mental, suporte psicológico e construção de ambientes de
apoio mútuo. Segundo Freise e Walter (2024), a
profissionalização das relações de voluntariado — sem descaracterizá-las co=
mo
espontâneas — permite a implementação de políticas de gestão mais robustas,=
que
associam reconhecimento à segurança emocional e organizacional.
Além disso, a literatura destaca que voluntários
motivados e valorizados tendem a se tornar agentes multiplicadores dentro da
organização, assumindo papéis de liderança, mentorias e mediação entre novos
membros e os valores institucionais (Bryniewicz=
&
Czapiewski, 2024). O voluntariado, assim, ultra=
passa
sua dimensão funcional e adquire um papel estratégico na sustentabilidade
institucional, sendo fundamental para a continuidade das operações, a forma=
ção
de cultura organizacional e a construção de um legado coletivo.
Portanto, refletir sobre a retenção de voluntár=
ios
em serviços de emergência requer uma abordagem interseccional, que considere
simultaneamente os aspectos simbólicos do reconhecimento, as condições
objetivas de atuação e os vínculos afetivos construídos no cotidiano
institucional. Trata-se de um compromisso ético e estratégico com aqueles q=
ue,
mesmo sem vínculos laborais, assumem responsabilidades públicas de alta
relevância social.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa de
natureza quantitativa, descritiva e de campo, cuja finalidade é analisar, de
forma sistematizada, os fatores motivacionais que influenciam o ingresso e a
permanência de voluntários no Corpo de Bombeiros Voluntários de Caçador/SC.=
A
abordagem quantitativa justifica-se por permitir a mensuração objetiva das
percepções e comportamentos dos participantes, possibilitando a identificaç=
ão
de padrões e por meio de técnicas estatísticas apropriadas (Creswell
& Creswell, 2018).
A pesquisa descritiva foi adotada com o propósi=
to
de observar, registrar, analisar e correlacionar fatos ou fenômenos sem a
interferência do pesquisador, descrevendo com fidelidade as motivações
apontadas pelos voluntários (Gil, 2017). A coleta de dados foi realizada no
ambiente da instituição pesquisada, caracterizando o estudo também como uma
investigação de campo (Lakatos & Marconi, 2017).
Os participantes da pesquisa foram bombeiros
voluntários vinculados à corporação de Caçador/SC. A seleção foi do tipo não
probabilística por conveniência, considerando-se todos os membros ativos no
período da coleta, totalizando 109 pessoas. O convite à participação foi
realizado por meio digital, utilizando-se o grupo institucional de WhatsApp=
da
corporação como canal de disseminação da pesquisa. A divulgação foi realiza=
da
com a autorização formal do comando da unidade, que endossou a importância =
do
estudo e incentivou a participação voluntária e consciente dos integrantes.=
O instrumento utilizado para a coleta foi um
questionário estruturado, aplicado de forma online, por meio da plataforma =
Google
Forms. O formulário foi construído com base=
na
fundamentação teórica apresentada, contemplando questões fechadas voltadas à
caracterização sociodemográfica dos participantes, bem como assertivas
relacionadas aos fatores motivacionais. A opção pelo formato digital visou
facilitar o acesso dos respondentes, garantir maior conforto no preenchimen=
to e
assegurar o anonimato das respostas, conforme orientações éticas da pesquis=
a em
ciências sociais aplicadas (Conselho Nacional de Saúde, 2016).
Os dados coletados foram devidamente protegidos= e armazenados de forma a garantir a confidencialidade das informações. A anál= ise estatística foi realizada por meio de estatísticas descritivas (frequência, média e desvio padrão), com o objetivo de identificar os principais fatores= de motivação entre os participantes. A abordagem quantitativa também possibili= tou a realização de correlações entre o tempo de serviço, o perfil sociodemográ= fico e os tipos de motivação predominantes, permitindo uma compreensão mais aprofundada da dinâmica do engajamento voluntário na instituição estudada.<= o:p>
4 ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO
4.1 Perfil Sociodemográfico dos bombeiros
voluntários
Dos 109 bombeiros voluntários convidados a
participar da pesquisa de forma voluntária, 49 responderam ao questionário,
compondo a amostra final do estudo. Em relação ao estado civil, a maioria d=
os
respondentes apresentou-se como casada (48,98%, n=3D24), seguida por soltei=
ros
(34,69%, n=3D17) e aqueles em união estável (14,29%, n=3D7). Apenas 2,04% (=
n=3D1) dos
participantes declararam-se divorciados. Esses dados sugerem uma predominân=
cia
de perfis com maior estabilidade familiar, característica frequentemente as=
sociada
a maior engajamento em atividades comunitárias.
Quanto ao nível de escolaridade, observou-se uma
predominância de indivíduos com ensino superior incompleto (30,61%, n=3D15).
Participantes com ensino médio completo, ensino superior completo e
pós-graduação lato sensu (especialização/MBA) representaram, cada um, 20,41=
% da
amostra (n=3D10 em cada grupo). Proporções menores foram observadas entre os
participantes com ensino fundamental completo (4,08%, n=3D2) e com pós-grad=
uação
stricto sensu (mestrado/doutorado) (2,04%, n=3D1). A alta proporção de
voluntários com formação de nível médio e superior indica um perfil
educacionalmente qualificado, o que pode refletir positivamente no desempen=
ho
das atividades de bombeirismo voluntário.
No que se refere à ocupação, a maioria identifi=
cou-se
como trabalhador CLT (69,39%, n=3D34). Outros grupos ocupacionais incluíram
autônomos (12,24%, n=3D6) e aposentados (6,12%, n=3D3), enquanto categorias=
como
empresário, estudante, professor, servidor público e bombeiro foram menos
representativas (2,04% cada, n=3D1). A prevalência de trabalhadores formais
reforça a hipótese de que a estabilidade econômica pode favorecer o engajam=
ento
em atividades voluntárias de longa duração.
Em resumo, o perfil traçado evidencia que os
bombeiros voluntários possuem, em sua maioria, estabilidade conjugal, eleva=
do
nível de escolaridade, forte vínculo empregatício formal e ampla experiênci=
a na
atividade de voluntariado, características que favorecem a continuidade e a
qualidade do serviço prestado.
4.2 Experiência como bombeiro voluntário
A dimensão Experiência como Bombeiro Voluntário=
foi
avaliada considerando dois aspectos centrais: o tempo de atuação dos
voluntários e a forma como ingressaram no Corpo de Bombeiros Voluntários. E=
ssa
análise visa compreender o percurso dos participantes dentro da instituição=
e
identificar fatores que possam estar associados à sua permanência e motivaç=
ão.
Sobre o tempo de serviço como bombeiro voluntár=
io,
28,57% (n=3D14) dos participantes atuavam há mais de 11 anos. O mesmo perce=
ntual
(22,45%) foi encontrado para bombeiros com de 1 =
a 3
anos (n=3D11) e de 7 a 10 anos (n=3D11) de experiência. Participantes com de 4 a 6 anos representaram 16,33% (n=3D8), e aque=
les com
menos de 1 ano corresponderam a 10,20% (n=3D5). A distribuição dos tempos de
serviço, conforme o Figura 01. revela um corpo de voluntários heterogêneo em
termos de experiência, o que pode enriquecer a atuação por meio da troca
intergeracional de conhecimentos.
Figura 1
=
Distribuição de temp=
o de
serviço dos bombeiros voluntários
Nota: Autores, 2025.
Essa distribuição evidencia um quadro misto,
composto tanto por bombeiros voluntários experientes quanto por novos
ingressantes. A presença significativa de voluntários com mais de uma décad=
a de
atuação sugere a existência de mecanismos eficazes de retenção e forte
identificação com a atividade voluntária. Esses dados corroboram estudos
anteriores que indicam que o tempo de permanência está associado a uma forte
vinculação afetiva e identitária com a instituição (Pe=
nner,
2002).
Em relação à forma de ingresso, conforme o Figu=
ra
02, observou-se que a maioria dos participantes entrou por interesse pessoal
(63,27%). A indicação de amigos ou familiares representou o segundo maior f=
ator
de ingresso, abrangendo 28,57% dos respondentes. Em menor proporção, foram
mencionados programas de bombeiro mirim/aspirantes (2,04%), campanhas de
recrutamento (2,04%) e ingresso por laços familiares históricos (2,04%).
Figura 02
Formas de ingresso na Corporação dos Bombeiros<= o:p>
Nota: Autores, 2025.
Esses resultados sugerem que o voluntariado é
impulsionado predominantemente por motivações internas, corroborando com a
literatura sobre voluntariado de emergência, que destaca a relevância do
altruísmo e da motivação autônoma como fatores críticos para a adesão
voluntária (Snyder & Omoto, 2008). A import=
ância
das redes de relacionamento interpessoal também é evidente, o que indica que
vínculos sociais exercem papel relevante na atração de novos voluntários.
A análise da experiência dos bombeiros voluntár= ios revelou uma estrutura de permanência estável e motivada por razões predominantemente intrínsecas e relacionais. A alta proporção de voluntários experientes, aliada ao forte índice de ingresso por iniciativa própria, sinaliza um cenário favorável à sustentabilidade das atividades voluntárias= em longo prazo. Para a gestão de voluntários, esses dados indicam a importância de estratégias que reforcem a motivação intrínseca, o senso de pertencimento institucional e o fortalecimento das redes sociais internas, fatores que historicamente se associam à maior retenção e engajamento dos voluntários.<= o:p>
4.3 Mo=
tivações
e satisfação dos bombeiros voluntários
A dimensão Motivações e Satisfação foi avaliada=
a
partir de cinco questões, envolvendo a dedicação semanal dos bombeiros
voluntários, as razões que os motivaram a ingressar, a intenção de permanên=
cia,
a percepção de valorização pela comunidade e a avaliação geral da experiênc=
ia
de voluntariado. Os dados revelam um panorama de forte engajamento e elevada
satisfação entre os participantes.
No que se refere à dedicação semanal ao
voluntariado, observou-se que 16 bombeiros voluntários (32,65%) dedicavam d=
e 5
a 10 horas semanais, enquanto outros 16 respondentes (32,65%) declararam
dedicar mais de 20 horas semanais ao serviço. Além disso, 10 participantes
(20,41%) atuavam entre 11 e 20 horas semanais, e 7 voluntários (14,29%)
dedicavam menos de 5 horas semanais.
Sobre as motivações iniciais para o voluntariad=
o, o
desejo de ajudar a comunidade foi o fator mais recorrente, mencionado de fo=
rma
isolada por 9 participantes (18,37%). Além disso, esse desejo também aparec=
eu
combinado com outros fatores, como o interesse pela profissão de bombeiro,
busca por experiência profissional, e influência de amigos ou familiares. As
combinações envolvendo o desejo de ajudar e o interesse profissional foram
citadas por entre 4 (8,16%) e 9 (18,37%) respondentes, dependendo da compos=
ição.
As motivações para ingresso foram variadas, com
predominância de fatores internos, como o interesse pessoal, citado por 31
respondentes (63,27%), e a indicação de amigos ou familiares, mencionada po=
r 14
participantes (28,57%). Outros fatores, como programas de bombeiro
mirim/aspirantes e campanhas de recrutamento, foram mencionados por 1
respondente (2,04%) cada.
O predomínio de motivações intrínsecas para o
ingresso reforça a tese de que o voluntariado de emergência é movido
prioritariamente por valores pessoais e conexões sociais, mais do que por
incentivos externos (Clary et al., 1998; Penner, 2002).
Quanto à intenção de continuidade, conforme a
Figura 03, 48 voluntários (97,96%) afirmaram que pretendem continuar atuando
nos próximos anos, enquanto apenas 1 respondente (2,04%) indicou não ter es=
sa
intenção. Esta taxa extremamente alta de intenção de permanência sugere uma
forte estabilidade organizacional e elevada identificação dos voluntários c=
om a
missão institucional.
Figura 03
Intenção de continuar atuando como bombeiro
voluntário
Nota: Autores, 2025.
Em relação à percepção de valorização social, 28
voluntários (57,14%) relataram sentir-se plenamente valorizados pela
comunidade, enquanto 19 respondentes (38,78%) afirmaram sentir-se apenas
parcialmente valorizados, e 2 participantes (4,08%) disseram não se sentir
reconhecidos.
Esses resultados apontam para a existência de u=
ma
percepção majoritariamente positiva, embora ainda haja espaço para ações
institucionais voltadas a ampliar o reconhecimento público da atuação dos
bombeiros voluntários.
Finalmente, a avaliação geral da experiência de
voluntariado foi amplamente positiva, conforme a Figura 04: 30 participantes
(61,22%) classificaram sua experiência como muito satisfatória, 18 responde=
ntes
(36,73%) como satisfatória, e apenas 1 voluntário (2,04%) como insatisfatór=
ia.
Figura 04
Avaliação da experiência como Bombeiro Voluntár=
io
Esses dados reforçam a relevância do voluntaria=
do
como fonte de satisfação pessoal e de reforço de identidade social, converg=
indo
com a literatura que descreve o engajamento em atividades voluntárias como =
uma
experiência intrinsecamente gratificante e fortalecedora do self (Snyder &a=
mp; Omoto, 2008; Wilson, 2012).
A análise da dimensão Motivações e Satisfação
evidencia que os bombeiros voluntários apresentam níveis elevados de
comprometimento, motivação intrínseca e satisfação pessoal com a atividade.
Fatores como interesse pessoal, reconhecimento social e impacto comunitário
surgem como centrais na experiência de voluntariado. Para as práticas de
gestão, os resultados indicam que o fortalecimento do senso de pertenciment=
o, a
valorização pública e o reconhecimento institucional contínuo são estratégi=
as
essenciais para a retenção de voluntários e o fortalecimento de sua motivaç=
ão
ao longo do tempo.=
span>
4.4 Análise da autoafirmação e suas subescalas<= o:p>
A dimensão Autoafirmação foi avaliada por meio =
de
13 itens subdivididos em duas subescalas: Aprovação Social, que engloba
percepções sobre reconhecimento e status social, e Motivos de Benefício, que
compreende as vantagens pessoais percebidas associadas à atividade de bombe=
iro
voluntário. A análise estatística descritiva revelou médias geralmente altas
nas respostas, indicando uma percepção positiva dos voluntários sobre seu
engajamento.
Os resultados indicaram que a percepção de
Reconhecimento Social é amplamente valorizada entre os participantes. O item
"As pessoas ao meu redor consideram nobre a atuação dos bombeiros
voluntários" obteve a maior média da subescala (M =3D 6,57; DP =3D 0,7=
9),
demonstrando que os voluntários acreditam que a sociedade reconhece
positivamente a relevância e a dignidade do trabalho voluntário.
Em sequência, os itens "Sociedade me vê de
forma positiva" (M =3D 5,47; DP =3D 2,20) e "Valorização da digni=
dade ao
atuar como bombeiro voluntário" (M =3D 5,55; DP =3D 1,73) também obtiv=
eram
avaliações elevadas, reforçando a interpretação de que o prestígio moral e a
autoimagem são fortalecidos pela participação no Corpo de Bombeiros
Voluntários.
Por outro lado, itens como "Aumento do
reconhecimento social" (M =3D 4,82; DP =3D 2,16) e "Ser bombeiro
voluntário me faz sentir mais respeitado pelos outros" (M =3D 4,57; DP=
=3D
2,09) apresentaram médias moderadamente inferiores, o que sugere que, embor=
a a
atividade seja percebida como socialmente nobre, o ganho pessoal de status =
ou
respeito imediato pode não ser tão fortemente percebido.
Esses achados corroboram pesquisas anteriores s=
obre
motivação no voluntariado, que apontam o reconhecimento moral e o reforço da
identidade social como fatores-chave na permanência de voluntários, mais do=
que
o aumento de status pessoal direto (Clary et al=
.,
1998; Penner, 2002).
Na subescala Motivos de Benefício, o item com m=
aior
média foi "Ser voluntário me permite influenciar outras pessoas
positivamente" (M =3D 6,53; DP =3D 0,94), evidenciando que os voluntár=
ios
valorizam seu papel como agentes de mudança social. Esta percepção de impac=
to
social positivo aparece como uma motivação intrínseca relevante para o
engajamento no voluntariado.
Outros itens como "Acredito que essa
experiência pode trazer benefícios pessoais no futuro" (M =3D 5,65; DP=
=3D
1,75) e "O voluntariado no Corpo de Bombeiros é valorizado e
reconhecido" (M =3D 5,65; DP =3D 1,45) também foram avaliados positiva=
mente,
indicando que os voluntários reconhecem o potencial de benefícios pessoais
associados à sua atuação, embora este reconhecimento não seja a motivação
principal.
Em contrapartida, os itens "A atuação como
bombeiro voluntário pode me proporcionar oportunidades de viajar" (M =
=3D
4,29; DP =3D 2,33) e "A experiência como bombeiro voluntário pode faci=
litar
minha entrada ou novas oportunidades no mercado de trabalho" (M =3D 4,=
71; DP
=3D 2,02) obtiveram as menores médias. Tais resultados sugerem que benefíci=
os
materiais ou profissionais diretos não constituem motivações centrais para o
grupo estudado.
O item "Tenho amigos que também são bombei=
ros
voluntários ou incentivam essa atividade" (M =3D 6,49; DP =3D 0,98) re=
força a
importância das redes sociais como fator de influência para o ingresso e a
permanência dos voluntários, evidenciando que laços interpessoais podem
fortalecer o compromisso com o serviço.
De forma geral, a análise dos 13 itens permite
inferir que a autoafirmação entre bombeiros voluntários é majoritariamente
sustentada por motivações relacionais e sociais, e não por benefícios
instrumentais. A percepção de reconhecimento por parte da sociedade e o imp=
acto
positivo na vida de terceiros emergem como elementos centrais no significado
atribuído à experiência de voluntariado. Esses achados estão alinhados à
literatura contemporânea sobre motivação de voluntários, que destaca a
prevalência de motivações altruístas e de identidade social em serviços de =
alta
relevância comunitária (Snyder & Omoto, 200=
8;
Wilson, 2012).
Do ponto de vista prático, os dados sugerem que
políticas de retenção de voluntários devem reforçar publicamente o valor mo=
ral
e social do trabalho desempenhado, mais do que prometer benefícios materiai=
s ou
avanços profissionais. Estratégias como reconhecimento público, fortalecime=
nto
dos laços comunitários e valorização simbólica do voluntariado tendem a ser
mais eficazes na manutenção do engajamento em longo prazo.
4.5 Motivos processuais e significativos: Praze=
r e
aprendizado na atividade voluntária
A dimensão Motivos Processuais e Significativos=
foi
avaliada por meio de sete itens que investigam o prazer intrínseco, o
aprendizado e o desenvolvimento interpessoal proporcionados pela atividade =
de
bombeiro voluntário. A análise estatística revelou médias excepcionalmente
altas, indicando forte associação dos voluntários com essas motivações
internas.
Os itens "Prazer e satisfação ao atuar como
voluntário" e "Aprendo coisas novas no Corpo de Bombeiros"
apresentaram as maiores médias (M =3D 6,90; DP =3D 0,47 e M =3D 6,90; DP =
=3D 0,42,
respectivamente). Esses resultados sugerem que atuar como bombeiro voluntár=
io é
experienciado não apenas como uma atividade de prestação de serviço, mas co=
mo
uma fonte contínua de prazer e aprendizado, aspectos que são considerados
fundamentais para a manutenção do engajamento voluntário a longo prazo (Sny=
der
& Omoto, 2008).
De maneira semelhante, o item "Atuar como
bombeiro voluntário é interessante" (M =3D 6,86; DP =3D 0,46) e "O
voluntariado proporciona emoções positivas" (M =3D 6,80; DP =3D 0,58) =
indicam
que a prática voluntária é percebida como estimulante e emocionalmente
gratificante, o que potencializa o sentimento de pertencimento e satisfação
pessoal.
Itens relacionados ao desenvolvimento interpess=
oal,
como "Melhora da comunicação interpessoal" (M =3D 6,45; DP =3D 1,=
00) e
"Criação de novas amizades e fortalecimento de laços sociais" (M =
=3D
6,37; DP =3D 1,09), também obtiveram médias elevadas, embora com maior
variabilidade (DP em torno de 1). Estes resultados evidenciam que, para além
das motivações altruístas, o voluntariado proporciona ganhos concretos em
habilidades sociais e integração comunitária.
Por fim, o item "Participação espontânea e
natural" (M =3D 6,63; DP =3D 0,73) revelou que os voluntários tendem a
perceber sua atuação como algo que emerge naturalmente de seus valores e
inclinações pessoais, e não como uma obrigação externa. Esse achado reforça=
a
perspectiva de que a motivação intrínseca é predominante no grupo analisado,
conforme preconizado pelas teorias da autodeterminação (Deci
& Ryan, 2000).
A análise dos itens da dimensão Motivos Process=
uais
e Significativos aponta para um perfil de voluntário que encontra na ativid=
ade
de bombeiro não apenas um canal de ajuda ao próximo, mas também uma fonte
contínua de realização pessoal, crescimento emocional e socialização. Tais
resultados são consistentes com a literatura que descreve o voluntariado de
longo prazo como fortemente sustentado por fatores intrínsecos, como prazer,
autoeficácia e aprendizado, mais do que por recompensas externas (Clary et al., 1998; Wilson, 2012). Do ponto de vista =
da
gestão de voluntários, esses dados indicam que oferecer oportunidades de
desenvolvimento pessoal, estimular a aprendizagem contínua e criar ambientes
positivos de socialização são estratégias fundamentais para a retenção e o
fortalecimento do compromisso dos bombeiros voluntários.
4.6 Motivos pró-sociais: Desejo de ajudar e
contribuir para a sociedade
A dimensão Motivos Pró-Sociais foi avaliad=
a a
partir de três itens que exploram o desejo dos bombeiros voluntários de aju=
dar
outras pessoas e de contribuir para a melhoria da comunidade. Os resultados
revelaram médias extremamente elevadas, indicando forte adesão dos
participantes a motivações altruístas.
O item "Ser bombeiro voluntário me permite
ajudar pessoas em momentos difíceis" obteve a média mais alta (M =3D 6=
,88;
DP =3D 0,33), demonstrando que o ato de prestar assistência direta a indiví=
duos
em situações de vulnerabilidade é um dos principais fatores motivacionais p=
ara
a atuação voluntária.
De forma semelhante, o item "Sinto que, ao
atuar como voluntário, estou realmente fazendo a diferença na vida de outras
pessoas" apresentou uma média de 6,86 (DP =3D 0,35), evidenciando que =
os
voluntários percebem um impacto concreto e positivo de suas ações na vida da
população atendida.
O item "Acredito que minha atuação contrib=
ui
para solucionar problemas importantes da comunidade" também apresentou=
uma
média elevada (M =3D 6,59; DP =3D 0,76), embora ligeiramente inferior aos
anteriores, indicando que, além da ajuda individual, os voluntários reconhe=
cem
seu papel na transformação social mais ampla.
Esses resultados são altamente consistentes com=
a
literatura sobre motivação no voluntariado de emergência, que identifica o
altruísmo e o senso de eficácia social como elementos-chave para o engajame=
nto
duradouro (Penner, 2002; Snyder & Omoto, 2008).
A análise dos Motivos Pró-Sociais indica que os
bombeiros voluntários participantes do estudo são predominantemente orienta=
dos
por valores altruístas e por um forte compromisso comunitário. A elevada
percepção de eficácia social — isto é, a crença de que sua atuação realmente
faz a diferença — é um elemento central para a motivação e provavelmente
contribui para a persistência e o engajamento contínuo na atividade voluntá=
ria.
Esse padrão de resultados reforça a necessidade de estratégias instituciona=
is que
mantenham o foco na missão social do voluntariado, proporcionando feedbacks
positivos sobre o impacto gerado, e reforçando o significado coletivo da
atuação dos bombeiros voluntários.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo teve como objetivo investigar=
os
fatores motivacionais e o nível de satisfação dos bombeiros voluntários do
Corpo de Bombeiros Voluntários de Caçador/SC. A partir da análise dos dados=
de
49 participantes, verificou-se que o ingresso e a permanência no voluntaria=
do
são, predominantemente, motivados por fatores intrínsecos, tais como o dese=
jo
de ajudar a comunidade, o reconhecimento social percebido e a realização
pessoal proporcionada pela atividade.
Entre os principais achados, destaca-se que a
maioria dos voluntários ingressou por interesse pessoal e apresenta elevada
dedicação semanal ao serviço, sendo que muitos dedicam mais de 20 horas
semanais. A experiência voluntária foi amplamente avaliada como muito
satisfatória e marcada pela intenção de permanência a longo prazo. Além dis=
so,
as dimensões de prazer, aprendizado contínuo, formação de novos vínculos
sociais e influência positiva sobre terceiros emergiram como aspectos centr=
ais
no fortalecimento da motivação dos voluntários.
No que diz respeito à percepção de reconhecimen=
to,
a maioria dos bombeiros voluntários sente-se valorizada pela comunidade, em=
bora
uma parcela significativa tenha apontado reconhecimento parcial, sugerindo
espaço para o aprimoramento de estratégias institucionais de valorização
pública.
Apesar dos resultados expressivos, algumas lacu=
nas
foram identificadas. A pesquisa concentrou-se em um único Corpo de Bombeiros
Voluntários, o que limita a generalização dos resultados para outras regiõe=
s e
realidades institucionais. Além disso, utilizou-se apenas metodologia
quantitativa, o que restringiu a compreensão mais profunda de aspectos
subjetivos das motivações e experiências dos voluntários.
Diante dessas limitações, recomenda-se que estu=
dos
futuros ampliem a investigação para diferentes contextos geográficos e perf=
is
institucionais de voluntariado em serviços de emergência. Sugere-se ainda a
adoção de metodologias qualitativas ou mistas, que possam captar nuances
emocionais, simbólicas e sociais da vivência voluntária. Investigações
comparativas entre bombeiros voluntários e profissionais, ou entre diferent=
es
faixas etárias e tempos de serviço, também podem oferecer subsídios relevan=
tes
para políticas de gestão e retenção de voluntários.
Em suma, o estudo contribui para a compreensão =
dos
fatores que impulsionam o engajamento e a permanência no voluntariado em
contextos de alta demanda social, destacando a importância das motivações
intrínsecas, do reconhecimento simbólico e da oferta de experiências de
realização pessoal e crescimento social como elementos fundamentais para a
sustentabilidade dessas atividades.
Agradecimento: Os pesquisadores agradecem ao Fundo de A=
poio
à Pesquisa (FAP) da Uniarp pelo apoio no projet=
o de
Iniciação Científica.
REFERÊNCIAS
Breen
Bryni=
ewicz,
W., & Czapiewski, T. (2024). Contemporary motivations for service in the
volunteer fire brigades. Zeszyty Naukowe=
SGSP. https://doi.org/10.5604/01.3001.0054.3101=
span>
Clary=
, E.
G., & Snyder, M. (1998). The functional approach to volunteerism. In J.=
G.
Fisher & M. Snyder (Eds.), The
psychology of helping and altruism (pp. 151–170). W. H. Freeman=
.
Clary=
, E.
G., Snyder, M., & Stukas, A. A. (1998). Service-learning and psychology:
Lessons from the psychology of volunteerism. In R. G. Bringle & D. K. D=
uffy
(Eds.), Service-lea=
rning:
Applications from the research (pp. 156–181). Lawrence Erlbaum
Associates.
Cresw=
ell,
J. W., & Creswell, J. D. (2018). Research
design: Qualitative, quantitative, and
mixed methods approaches (5th ed.). SAGE
Publications.
Conselho Nacional de Saúde. (=
2016).
Resolução nº 510, de 07 de abril de 2016. Ministério da Saúde. https://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2016/Reso510.pdf
Deci, E. L., & Ryan, R. M. (2000). The "what" and "why" of goal
pursuits: Human needs and the self-determination=
of
behavior. Psychological Inquiry, 11<=
/span>(4), 227–268. https://doi.org/10.1207/S15327965PLI1104_01
Freise, M., & Walter, A. (2024). Motivations and expectations of German volunteer
firefighters. Journ=
al of
Civil Society, 20(2), 190–208.
Gazzale, L. (2019). Motivational implications leading to =
the
continued commitment of volunteer firefighters. International
Journal of Emergency
Services, 8(3), 246–260.
Gil, A. C. (2017). Métodos e técnicas de pesquisa
social (7ª ed.). Atlas.
Gil, =
K. V.
(2019). Development of the questionnaire of motivation =
of
volunteer activity. =
=
53;ауковий
=
74;існик
=
61;ерсонськог=
1086;
=
76;ержавного=
em>
=
91;ніверситет=
1091;, (4), 161–168.
Lakat=
os, E.
M., & Marconi, M. A. (2017). Fundamentos de metodologia
científica (7ª ed.). Atlas.
Nowak=
owska,
I. (2022). “Don’t call it work”: An interpretative phenomenological analysi=
s of
volunteer firefighting in young adults based on the volunteer process model=
. Voluntary Sector Review.
Penne=
r, L.
A. (2002). Dispositional and organizational influences on sustained
volunteerism: An interactionist perspective. Journal
of Social Issues, 58(3), 447–467. https://doi.org/10.1111/1540-4560.00270
Pette=
rini,
F., & Demarchi, M. (2019). Volunteering and firefighters’ response time=
. Economics Bulletin, 39=
(2),
1018–1029.
Putna=
m, R.
D. (2000). Bowling Alone: The Collapse and Revival of American Community. N=
ew
York: Simon & Schuster.
Snyde=
r, M.,
& Omoto, A. M. (2008). Volunteerism: Social issues perspectives and soc=
ial
policy implications. Social
Issues and Policy Review, 2(1), 1–36. <=
span
style=3D'mso-bookmark:_Hlk4746433'>https://doi.org/10.1111/j.1751-2409.2008.00009.x=
span>
Voron=
ina,
N. S. (2021). Motivating volunteers in emergencies.
Voronina=
,
N. S., & Basheva, O. (2022). =
Motivation of volunteers involved in emergency situation response: Results of a mass survey=
. Vest=
nik Institu=
ta
Sotsiologii, 13(2), 132–151.
Wilso=
n, J.
(2012). Volunteerism research: A review essay. Nonprofit and Voluntary Sector Quarterly, 41(2),
176–212. https=
://doi.org/10.1177/0899764011434558
Vladi=
mirovna,
G. K. (2019). Development of the questionnaire of motivation of
volunteer activity. Scientific
Bulletin of Kherson State University, (4), 161–168. https://doi.org/10.32999/ksu2312-3206/2019-4-21
Fatores motivacionais e
permanência no voluntariado: a experiência de bombeiros voluntários em
Caçador/SC
Juciele Marta Baldissarelli; Ana Luci de Oliveira; Tatiane Atanásio=
dos
Santos Bernardy
IS=
SN
2237-4558 •<=
/span> Navus • Florianópolis • SC •
v. 16 • p. 01- |
|
|
|
ISSN 2237-4558 • Navus • |
|