MIME-Version: 1.0 Content-Type: multipart/related; boundary="----=_NextPart_01DC6467.2C0D4AF0" Este documento é uma Página da Web de Arquivo Único, também conhecido como Arquivo Web. Se você estiver lendo essa mensagem, o seu navegador ou editor não oferece suporte ao Arquivo Web. Baixe um navegador que ofereça suporte ao Arquivo Web. ------=_NextPart_01DC6467.2C0D4AF0 Content-Location: file:///C:/2669C712/2072.htm Content-Transfer-Encoding: quoted-printable Content-Type: text/html; charset="windows-1252"
I <=
/span>read,
|
Emanuelle Silva de Oliveira https:=
//orcid.org/0009-0009-3400-3625 |
=
MBA em Marketing. Universidade de São=
Paulo
(USP) – Brasil. emanuelleoliver11@gmail.com |
|
Ana Paula Kie=
ling https://orcid=
.org/0000-0001-8513-8903 |
Doutora em
Administração. Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) – Brasil.=
anakieling@gmail.com . |
|
Matheus Lucas=
de
Almeida https://orcid=
.org/0000-0002-6215-9928 |
Doutor em Ciê=
ncias
da Linguagem. Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) – Brasil. matheus.lucas=
@professor.ufcg.edu.br |
RESUMO
As redes sociais
propiciaram que pessoas com interesses em comum se conectassem em ambientes
virtuais. Assim, as comunidades literárias on-line reúnem leitores que busc=
am
promover o compartilhamento e o diálogo dentro de plataformas como Instagra=
m e
TikTok, incentivando o hábito da leitura. O objetivo deste trabalho foi
compreender as percepções do leitor de livros físicos e digitais sobre o
consumo e engajamento nas comunidades literárias presentes nas redes sociai=
s.
Para tal, foi realizada uma pesquisa qualitativa, com coleta de dados reali=
zada
por meio de entrevistas com 19 leitores de livros de ficção ativos em
comunidades literárias. A partir das análises, identificou-se que os princi=
pais
motivadores para o consumo estavam relacionados a aspectos estéticos e técn=
icos
do livro, bem como a aspectos sociais, advindos principalmente de indicaçõe=
s e
discussões na comunidade. Além disso, foi possível perceber a grande influê=
ncia
das redes sociais, bem como dos produtores de conteúdo para promover a inte=
ração
e o engajamento das comunidades literárias.
Palavras-chave: redes sociais; livros; engajamento; comunida=
des
literárias.
ABSTRACT
S=
ocial
media platforms have enabled people with common interests to connect in vir=
tual
environments. Thus, online literary communities bring together readers who =
seek
to promote sharing and dialogue within platforms such as Instagram and TikT=
ok,
encouraging the habit of reading. The objective of this study was to explore
readers' perceptions of physical and digital books in terms of consumption =
and
engagement within literary communities on social networks. To this end, a
qualitative study was carried out, with data collected through interviews w=
ith
19 fiction book readers active in literary communities. From the analysis, =
it
was identified that the main motivators for consumption were related to
aesthetic and technical aspects of the book, as well as social aspects, com=
ing
mainly from referrals and community discussions. It was also possible to
identify the great influence of social media and content creators in promot=
ing
interaction and engagement in literary communities.
Keywords: social media; books; engagement; literary
communities.
Recebido em 27/12/2024. Aprovado em 04/11/2025. Avaliado pelo s=
istema
double blind
https://doi.org/10.2227=
9/navus.v16.2072
1 INTRODUÇÃO
Observe De acordo com Gabriel (2019), o ser humano é uma
tecnoespécie, ou seja, somos capazes de aprender e de nos transformar a par=
tir
de nossas criações e, ao longo dos anos, os laços entre tecnologia e humani=
dade
se tornaram cada vez mais estreitos. Essa predisposição à transformação pode
ser vista refletida, por exemplo, nas interações cada vez mais complexas das
pessoas com as telas, as quais conquistam um espaço de destaque no cotidian=
o,
proporcionando acesso a novos meios de comunicação digital e mídias de inte=
ração
on-line (Kotler; Kartajaya; Setiawan, 2017).
À vista disso, a facilidade proporcionada pe=
lo uso
de dispositivos como smartphones, tablets e laptops tem atraído o público e
possibilitado a interação entre grupos e pessoas em espaços on-line (Recuer=
o,
2009). Vale destacar que as redes sociais existem muito antes do advento da
tecnologia, pois dizem respeito às relações entre pessoas com interesses em
comum, o que hoje é facilitado pela difusão e abrangência dessas redes no
ambiente virtual (Gabriel, 2010).
Existem diversos fatores que justificam a
aceitação das redes sociais pelo público brasileiro. Dentre eles, está a
possibilidade de exploração das conexões estabelecidas entre grupos com
interesses, comportamentos e até pensamentos semelhantes. Essa conexão, que
fomenta mais do que o sentimento de pertencimento, tem sido uma das
responsáveis pelo surgimento de novas tendências e hábitos de consumo. Dent=
ro
dessa perspectiva, entende-se que uma rede social é constituída por dois
elementos principais, a saber: os atores e suas conexões (Recuero, 2009).
Dessa forma, ao reunir pessoas com comportam=
entos
e interesses em comum, as empresas exploram as comunidades como estratégia =
para
aproximar o consumidor da marca, construindo assim uma relação afetiva e de
confiança com os membros e, por conseguinte, estimulando o consumo de produ=
tos
ou serviços da marca (Scatulino; Troccoli; Zafaneli, 2016). Além disso, ess=
es
espaços permitem que as marcas conheçam de maneira mais próxima a opinião d=
os
clientes sobre sua experiência de uso do produto (Almeida et al., 2011).
Neste contexto, tem sido cada vez mais comum
encontrar comunidades virtuais destinadas a diferentes nichos e objetivos, =
como
as comunidades literárias, as quais são grupos de leitores que promovem de
maneira ativa o incentivo à leitura por meio de mídias sociais, como YouTub=
e,
Instagram e TikTok, que tiveram um crescimento exponencial de audiência e de
criadores de conteúdo nos últimos anos (Catanho, 2020).
Levando esses fatores em consideração, busca=
-se
responder ao seguinte questionamento: quais as percepções dos leitores de
livros físicos e digitais sobre o engajamento e o consumo nas comunidades
literárias presentes nas redes sociais? A pesquisa se justifica por ser de =
suma
importância analisar a relação dos leitores com os livros e como a comunida=
de
literária interage e se engaja na promoção e no consumo de livros no mercado
brasileiro, principalmente porque esse novo comportamento pode ditar o rumo=
que
os livros seguirão no futuro (Cantergi, 2019). Ainda, conforme Romeiro et al. (2015), estudos que permitem
analisar o que determina a compra de livros no contexto on-line são essenci=
ais
para a análise e delimitação do perfil de compra no segmento, frente às
mudanças ocasionadas pelo aumento do uso de tecnologias móveis.
Assim sendo, este trabalho, de natureza
qualitativa, segue as orientações de Creswell (2010) e tem como objetivo
compreender as percepções do leitor de livros físicos e digitais sobre o
consumo e o engajamento nas comunidades literárias presentes nas redes soci=
ais.
Para tal, foi aplicado um questionário com 19 leitores de livros de ficção =
que
interagem em comunidades literárias presentes nas redes sociais, a fim de
entender suas visões no que diz respeito ao mercado editorial.
Além da introdução e das referências, o estu= do está dividido em três partes. Na fundamentação teórica, discutem-se as comunidades on-line, os influencers literários e seus papéis na construção = das escolhas leitoras. Em seguida, explicitam-se os procedimentos metodológicos para a geração dos dados e, por fim, analisam-se e discutem-se as percepçõe= s de leitores acerca do fenômeno estudado.
2 FUNDAMENTAÇÃO= TEÓRICA
2.1 Comunidades
on-line e literatura nas redes sociais
As comunidades on= -line nas redes sociais constituem um fenômeno social complexo e em constante evolução, moldado pelas dinâmicas da internet e pelas interações dos usuári= os. Essas comunidades, como aponta Rheingold (2000) em seu trabalho seminal, ocorrem a partir da interação frequente e significativa de pessoas em ambie= ntes on-line, nos quais surgem grupos sociais conectados por interesses comuns.<= o:p>
No entanto, a dinâmica dessas comunidades te=
m sido
profundamente transformada nos últimos anos, impulsionada pela ascensão de
novas plataformas e pela evolução dos algoritmos. Tufekci (2017) destaca o
papel central dos algoritmos na organização e moderação dessas comunidades,
visto que eles moldam as interações e os conteúdos que os usuários veem. Es=
sa
personalização algorítmica permite que os usuários encontrem conteúdos
relevantes e se conectem com pessoas que compartilham seus interesses.
Nesse contexto, surgem as comunidades literá=
rias,
as quais, além de viabilizarem o acesso a informações sobre livros, podem m=
udar
as percepções que os usuários têm sobre a literatura (Fiorin; Hergesel, 202=
3).
Dentro dessas comunidades, os chamados bookfluencers
exercem um papel fundamental, uma vez que se dedicam a compartilhar suas
próprias experiências de leitura, utilizando recursos de interação disponív=
eis
nos aplicativos para gerar vínculo e engajar outros leitores (Reddan, 2022)=
.
Conforme divulgado pela CNN Brasil (2025), o
segmento identificado pelas hashtag=
s #Booktok
e #BookTokBrasil soma mais de 60 milhões de publicações globalmente até jun=
ho
de 2025. Tal dado é um impulsionador para a compreensão do fenômeno e de co=
mo
esse conteúdo se relaciona com os interesses de seus usuários, tendo em vis=
ta a
facilidade com que as pessoas expõem suas opiniões nas redes sociais, sejam
elas positivas ou negativas, impactando o consumo. Para os leitores de livr=
os,
essa realidade não é diferente, uma vez que o hábito de compartilhar está
diretamente associado à vontade de estabelecer conexões e promover diálogos=
na
comunidade (Camargo, 2016). Conforme Kotler, Kartajaya e Setiawan (2017), os
consumidores desenvolveram uma relação de dependência com as opiniões dos
outros, e isso se deve, em grande parte, à conectividade e à quantidade
ilimitada de informações expostas nos meios de comunicação.
Além disso, essa conectividade, tanto dos me=
ios de
comunicação quanto de novos formatos de produtos, mudou o modus operandi=
de diversos setores, incluindo a indústria editorial e as livrarias físicas
(Kotler; Kartajaya; Setiawan, 2017). Atualmente, um livro que antes só pode=
ria
ser encontrado em sua versão impressa pode ser disponibilizado também de
maneira eletrônica, nos formatos de e-book e audiobook. De acordo com
Heller e Junior (2017), o uso de softwares de leitura em dispositivos variad=
os tem
se tornado cada vez mais comum. Por conseguinte, caso deseje comprar um liv=
ro,
o consumidor não precisa mais ir a uma livraria, bastando apenas abrir
aplicativos de leitura e, com poucos cliques, o e-book ficará dispon=
ível
em uma biblioteca on-line, podendo ser lido em um dispositivo de leitura,
celular, computador ou tablet (Marassi, 2014). Assim, os consumidores expos=
tos
a esse contexto, no qual há acesso facilitado a uma variedade de aparelhos
tecnológicos para leitura e estudo, têm estado cada vez mais envolvidos com
essa dinâmica de convergência das mídias (Jenkins, 2009).
Muito se discute sobre o futuro dos livros
impressos e, por consequência, das livrarias e bibliotecas físicas, tendo em
vista todas essas transformações tecnológicas da atualidade. Nesse contexto=
, os
influenciadores literários são uma realidade e possuem valor para o setor
editorial (Depexe; Freitas, 2023), como apresentado a seguir.
2.2 Influenciadores
literários, Booktok e Book=
gram
As redes sociais,=
como
Instagram e TikTok, têm transformado significativamente o cenário literário,
impulsionando a figura dos influenciadores literários. Esses influenciadores
tornaram-se agentes culturais que utilizam diversas estratégias de conteúdo=
para
engajamento via comentários e curtidas, tais como postagens de promoção de
livros, divulgação de eventos literários e "dias especiais” com ofertas
para compra de livros (Seo et al., 2019; Pretel-Jiménez; Del-Omo; Ru=
iz-
Viñals, 2024), de modo a construir comunidades, moldar hábitos e preferênci=
as
de leitura entre os usuários.
Ao analisarem as estratégias de conteúdo
utilizadas por esses influenciadores, Pretel-Jiménez, Del-Omo e Ruiz-Viñals
(2024) destacam a importância de diferentes tipos de postagens e seus
respectivos impactos. De acordo com a pesquisa realizada pelos autores, fot=
os
de autores e capas de livros, por exemplo, tendem a gerar mais engajamento,=
ao
passo que postagens que expressam sentimentos pessoais podem ter impacto
negativo. Essa contribuição é particularmente relevante, pois sublinha a
importância de estratégias personalizadas de conteúdo para maximizar o
engajamento e a eficácia nas iniciativas de marketing nas redes sociais.
Ao explorar como as novas plataformas digita=
is têm
transformado a forma como os jovens se relacionam com a literatura,
especialmente a poesia, Quiles Cabrera (2020) argumenta que a emergência de
espaços literários digitais é fundamental para a formação de leitores, pois
esses ambientes multimodais respondem a um modelo de leitura que se adapta =
às
necessidades e interesses dos usuários. De acordo com o autor, os booktubers e bookstagrammers possuem grande influência na criação de uma pon=
te
entre a literatura clássica e as novas formas de escrita, tornando-as
acessíveis e atraentes para os jovens leitores.
Segarra-Saavedra e Torres-Huamanyauri (2024)=
, ao
analisarem a comunidade de leitores BookTok,
apontam que a colaboração entre influenciadores e editoras contribui para
aumentar as vendas de livros e incentivar a leitura entre os jovens. Além
disso, as entrevistas realizadas pelos autores revelam que os influenciador=
es
acreditam que suas recomendações ajudam a despertar o interesse pela leitur=
a em
um público mais jovem, o que sinaliza que o engajamento do público é
fundamental para o sucesso dos influenciadores literários e suas atividades=
nas
redes.
Nicoll (2023), por sua vez, explora as vanta=
gens
das comunidades BookTok e Bookstagram para os autores, desta=
cando
como essas plataformas podem ser utilizadas para engajar leitores e promover
obras literárias. De acordo com Nicoll (2023), os autores podem ser
beneficiados ao utilizar as redes sociais para gerar engajamento e entusias=
mo
em torno das obras literárias. Além disso, ela enfatiza a importância dos
criadores de conteúdo nas comunidades literárias BookTok e Bookstagram, =
ressaltando
seu papel fundamental na disseminação de informações e na criação de uma re=
de
de apoio para autores.
Ao realizarem uma análise sobre a relação en=
tre a
indústria editorial e a plataforma TikTok no Brasil, Depexe e Freitas (2023)
destacam o papel do TikTok como um espaço de promoção e divulgação de livro=
s,
desafiando os modelos tradicionais de marketing literário. Ainda, os
pesquisadores ajudam a desvelar estratégias utilizadas por autores, editora=
s e
influenciadores digitais para promover livros no TikTok e identificam uma
variedade de formatos e conteúdos, desde vídeos curtos e divertidos até
discussões mais aprofundadas sobre temas literários.
Ao analisar essas práticas, Depexe e Freitas
(2023) evidenciam como o TikTok se tornou um espaço de experimentação e
inovação para a indústria editorial, abrindo novas possibilidades de intera=
ção
com o público leitor. As autoras comprovam haver um estímulo à leitura em
plataformas como Instagram, TikTok e YouTube, o que, consequentemente,
repercute na compra de livros.
A emergência dos influenciadores literários =
marca
uma nova era na promoção da leitura. Ao utilizarem plataformas como TikTok e
Instagram para divulgação de livros, esses agentes culturais contribuem par=
a a
construção de uma nova cultura literária. Consequentemente, essa nova dinâm=
ica
potencializa a indústria editorial e influencia a forma como a literatura é
consumida pelas novas gerações.
3 MATERIAL
E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O estudo em quest=
ão é
uma pesquisa qualitativa exploratória, a qual, segundo Creswell (2010), par=
te
de uma perspectiva construtivista com foco nas experiências individuais, de
modo a desenvolver uma teoria ou entender um padrão. Ainda, conforme o auto=
r, esse
tipo de pesquisa permite que sejam realizadas entrevistas abertas, método de
geração de dados utilizado neste trabalho. Com esse propósito, a coleta de
dados foi realizada por meio de entrevistas com 19 leitores de livros de fi=
cção
ativos em comunidades literárias.
A definição da amostra seguiu o modelo de bo=
la de
neve, uma técnica de amostragem que se utiliza de redes de referência. Toda=
via,
houve a preocupação de selecionar de maneira intencional os participantes da
pesquisa, de modo a oferecer uma compreensão mais clara do objetivo deste
trabalho (Creswell, 2010). Para tal, foi desenvolvido um roteiro contendo 13
questões que abordaram tópicos de interesse sobre o tema. O roteiro teve co=
mo
base os estudos sobre leituras compartilhadas (Rossi, 2022), sobre comporta=
mento
de compras de leitores (Cantergi, 2019) e sobre a comunidade Bookstagram (Catanho, 2020).
Antes da aplicação do instrumento, foi reali=
zada
uma etapa de pré-teste com três participantes, o que auxiliou no
desenvolvimento de práticas de aplicação e na validação quanto à clareza do
instrumento, permitindo compreender quais correções poderiam ser realizadas
para maior eficácia das perguntas. Esse processo também garantiu que as
questões formuladas realmente mediriam o que se pretendia, de acordo com o
objetivo da pesquisa (Gil, 2002).
Dessa forma, após a conclusão do pré-teste,
identificou-se a necessidade de excluir uma pergunta referente à frequência=
de
leitura, evitando duplicidade, visto que já havia uma questão semelhante e =
que
isso poderia causar confusão aos respondentes. Além disso, na pergunta núme=
ro
sete (Apêndice 1), que aborda a frequência com que os entrevistados interag=
em
nas redes sociais literárias, foi necessário adicionar uma continuação para
compreender de que forma essa interação ocorria de maneira aprofundada, evi=
denciando
o caráter qualitativo da pesquisa.
Após realizar os ajustes necessários no instrumento de coleta, as entrevistas foram agendadas pelo aplicativo Google Agenda e realizadas por videoconferência, via Google Meet. As entrevistas ocorreram de 05 a 12 de janeiro de 2024 e tiveram duração média de 15 minut= os. Todas as entrevistas foram gravadas mediante leitura e assinatura prévia do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), por meio da ferramenta de assinatura digital DocuSign. O Quadro 1, apresentado a seguir, contém as informações de perfil dos entrevistados:
Quadro 1 – Perfil dos entrevistados
|
Identificação |
Cidade |
Idade |
Escolaridade |
Profissão |
Livros lidos nos últimos 12 meses |
|
Entrevistado 1 |
São Paulo, SP |
19 |
Superior incompleto |
Estágiaria |
44 |
|
Entrevistado 2 |
Campo Grande, MS |
34 |
Mestrado |
Psicóloga |
76 |
|
Entrevistado 3 |
Diadema, SP |
22 |
Pós-graduação |
Professora |
20 |
|
Entrevistado 4 |
Limeira, SP |
23 |
Superior completo |
Professora |
15 |
|
Entrevistado 5 |
Porto Alegre, RS |
25 |
Superior completo |
Desempregada |
53 |
|
Entrevistado 6 |
Tijuca, RJ |
19 |
Superior incompleto |
Assistente administrativo |
44 |
|
Entrevistado 7 |
Estância, SE |
25 |
Pós-graduação incompleta |
Auxiliar administrativo |
69 |
|
Entrevistado 8 |
São José, SC |
33 |
Superior completo |
Policial militar |
75 |
|
Entrevistado 9 |
Vitória da Conquista, BA |
25 |
Mestrado incompleto |
Professora |
5 |
|
Entrevistado 10 |
Campinas, SP |
37 |
Pós-graduação completa |
Professora |
12 |
|
Entrevistado 11 |
Bom Jesus dos Perdões, SP |
20 |
Superior completo |
Desempregada |
28 |
|
Entrevistado 12 |
Niterói, RJ |
42 |
Pós-graduação completa |
Professora |
55 |
|
Entrevistado 13 |
Três Passos, RS |
33 |
Superior completo |
Designer gráfico |
23 |
|
Entrevistado 14 |
São Paulo, SP |
25 |
Doutorado incompleto |
Bióloga |
10 |
|
Entrevistado 15 |
Santos, SP |
25 |
Superior incompleto |
Estagiária |
30 |
|
Entrevistado 16 |
São José, SC |
19 |
Superior incompleto |
Desempregada |
40 |
|
Entrevistado 17 |
Uberaba, MG |
24 |
Superior incompleto |
Criadora de conteúdo |
116 |
|
Entrevistado 18 |
Miracema, RJ |
26 |
Pós-graduação incompleta |
Designer |
98 |
|
Entrevistado 19 |
Jaraguá do Sul, SC |
21 |
Médio completo |
Auxiliar administrativo |
50 |
Fonte: Elaborado pelos autores. <= /p>
Os dados coletados
foram analisados utilizando técnicas de análise de conteúdo, tomando como b=
ase
principal a conceituação de Bardin (1977). A autora afirma que a análise de
conteúdo consiste em um conjunto de técnicas que permitem a leitura dos dad=
os
após sistematização, permitindo a decodificação das respostas, isto é, das
mensagens, a partir de processos de inferência, o que auxilia na identifica=
ção
de indicadores não explícitos na comunicação.
Dessa forma, foi realizada a transcrição das
entrevistas por meio da plataforma Transkriptor, com refinamento por parte =
dos
pesquisadores. Os dados foram armazenados integralmente em um arquivo do
Microsoft Word e a análise do conteúdo foi feita de maneira manual, tendo c=
omo
auxílio o aplicativo Microsoft Excel para uma melhor visualização das
informações. Isso contribuiu para a realização da análise temática do mater=
ial
e posterior categorização com base semântica e expressiva das respostas, a
partir do método de Bardin (1977).
4 RESULTADOS
E DISCUSSÃO
A partir da análise temática propo=
sta por
Bardin (1977), foi possível organizar os dados coletados em duas categorias
principais: motivações para o consumo de livros e engajamento na comunidade.
Vale ressaltar que os resultados representam um recorte específico da
comunidade de leitores no Brasil, não sendo generalizáveis. No quadro 2, estão apresentadas as
especificações da primeira categoria citada, bem como suas subcategorias.
Quadro 2 – Categoria de análise: motivações para o consumo de livros
|
Categoria de análise |
Unidade de registro |
Unidade de contexto |
|
Motivações para o consumo de livros |
Aspectos estéticos |
Uma boa capa faz um bom livro? A relevância do fator estético e de títulos atraentes como incentivo ao con= sumo de livros por parte dos leitores da comunidade. |
|
Aspectos técnicos |
Análise inicial sobre o conteúdo do livro. A credibilidade do autor e o vínculo com os leitores. A influência por gêne= ro e temática de preferência. O poder de uma boa sinopse. |
|
|
Aspectos sociais |
Postam, logo, leio? A indicação de livros na comunidade. Explorando o fator de identificação co= mo promotor de influência. |
Fonte:
elaborado pelos autores.
A impor=
tância
do aspecto estético como motivação para consumo mostrou-se expressiva entre=
os
entrevistados, sendo a capa do livro um elemento central na tomada de decis=
ão
para boa parte dos respondentes. De acordo com a Entrevistada 09, a capa é o
seu principal fator motivador para leitura, não somente em relação à ilustr=
ação
e design, mas também devido às recomendações feitas por outros autores que
aparecem na mesma, como mencionado na passagem a seguir: ”capa, acho que=
é
um dos principais. A autora e normalmente se tem na capa algum é...comentár=
io,
sabe de alguma autora que eu gosto? Aí me incentiva muito a ler o livro”
(Entrevistada 09).
A capa =
do
livro, embora possa ser considerada por alguns leitores um elemento
superficial, pode servir como uma vitrine de exposição positiva para a obra,
uma vez que, à primeira vista, é um dos poucos fatores passíveis de opinião.
Além disso, outro fator estético de interesse entre os respondentes é o tít=
ulo
do livro. Para a Entrevistada 09, por exemplo, o título precisa chamar sua
atenção para despertar o interesse na leitura.
Esses fatores estéticos podem justificar o s=
ucesso
do Bookstagram, uma vez que a
plataforma é centrada no compartilhamento de imagens, e os produtores de
conteúdo literário e editoras utilizam essa característica da comunidade co=
mo
apelo para o convencimento e até incentivo ao consumo do livro. A estética
agradável e aconchegante apresentada pelos influenciadores ao se referirem =
a um
livro torna a leitura uma atividade desejável (Reddan, 2022). Ao explorar os
conteúdos da comunidade, é comum encontrar postagens como "Os livros m=
ais
bonitos da minha estante" e "Li pela capa e amei". Esse tipo=
de
abordagem apenas reforça o quão suscetíveis alguns leitores podem ser, tend=
o em
vista a aparência dos livros como motivador para o consumo.
Contudo, uma boa capa não caracteriza
necessariamente um bom livro. Isso se reflete na percepção dos entrevistados
acerca dos aspectos técnicos que os motivam a consumir os livros. Para gran=
de
parte dos respondentes, fatores como autor, gênero, temática, sinopse e esc=
rita
são de extrema importância para determinar o interesse pela leitura. Para a
Entrevistada 04, se a escrita do livro não a agradar, provavelmente ela
encerrará a leitura antes de finalizá-lo, como expresso no trecho abaixo:
Fatores? Tem que ser alguma temática que eu goste, que eu me identifique, acho que é= o principal. E muitas vezes a escrita do escritor. Então, se eu pegar um livro para ler e eu não curtir a escrita, eu provavelmente vou parar (Entrevistad= a 04).
De modo a ter acesso a informações sobre a obra e o autor, os leito=
res
tendem a recorrer às redes sociais para realizar essa busca e, posteriormen=
te
determinar se haverá ou não o consumo (Marassi, 2014). A relação do autor c=
om
os fãs e a forma como esse relacionamento é estabelecido por meio das
interações nas comunidades desempenham um papel importante, gerando admiraç=
ão e
um senso de “defesa” por parte dos leitores, que se tornam defensores fiéis=
do
autor e de suas obras (Marassi, 2014). De acordo com a Entrevistada 09, é c=
omum
acompanhar outros livros do mesmo autor, caso já tenha tido uma boa experiê=
ncia
prévia.
Ainda dentro dessa perspectiva, o gênero e a temática de preferência
foram fatores que apareceram recorrentemente durante a pesquisa. A Entrevis=
tada
11 relatou sentir-se inspirada por assuntos e situações semelhantes aos que=
já
consome e a identificação advinda desse contexto pode ser uma grande aliada
para a indução ao consumo. Nas redes sociais, é comum encontrar conteúdos no
estilo “Se você gostou deste, vai gostar daquele”, bem como algoritmos de
indicação a partir de temas de preferência do usuário, como destacado pela
Entrevistada 09 no trecho a seguir: “Tenho
muitos livros salvos também para comprar por causa disso. O pessoal fala, n=
é?
“Ah, tal livro é legal”, “se você gosta de tal livro, você vai gostar desse=
”, a
gente acaba salvando os títulos para talvez comprar” (Entrevistada 09).
Dessa forma, entende-se que os aspectos estéticos e técnicos estão
diretamente relacionados à promoção e ao compartilhamento de conteúdo nas r=
edes
sociais, o que direciona o diálogo desta pesquisa para os aspectos sociais =
que
motivam os leitores ao consumo. Isso ocorre porque a maioria dos respondent=
es
se apoia nos relacionamentos e interações em ambientes de socialização on-l=
ine
para coletar informações como resenhas, indicações e opiniões acerca de um
livro.
De acordo com Camargo (2016), graças à disseminação das mídias digita=
is,
há uma variedade de percepções sobre um mesmo produto, o que é confirmado p=
ela
Entrevistada 15, que explicita a grande influência ocasionada pelo tipo de
mídia consumida por ela. Do ponto de vista dos livros, esse compartilhament=
o de
opiniões incentiva a decisão de compra e consumo de um determinado livro. A
Entrevistada 06 relata que, ao se deparar com pessoas compartilhando suas
experiências de leitura nas redes sociais, principalmente opiniões positiva=
s,
surge o interesse na obra.
O movimento boca a boca tem colocado os livros cada vez mais em
evidência, surgindo, inclusive, uma expressão para definir esse fenômeno,
conhecido como hype, isto é, no
contexto literário, livros que estão em destaque nas redes sociais e geram
grande repercussão dentro da comunidade literária. Para o Entrevistado 08, o
interesse surge justamente a partir dessa divulgação espontânea derivada do=
hype:
=
Primeiro, o que as pessoas falam daquele livro, né? Eu acompanho muit=
o...
muito... muita crítica, muito insight. Então, se eu vejo um livro que está =
num
hype muito grande, eu acabo me interessando. Por exemplo, o da Sarah J. Maa=
s,
de ACOTAR, foi uma série que eu li por causa desse hype que algumas
influenciadoras estavam falando e tal. Daí, acabei me interessando, até para
saber do que se tratava, e acabei lendo a coleção inteira (Entrevistado 08)=
.
É de suma importância
destacar o fator de identificação facilitado pelas redes sociais. Dos 19
entrevistados, 18 afirmaram já ter comprado um livro por indicação de um
produtor de conteúdo literário. Isso se dá, principalmente, pela confiança e
relação a longo prazo estabelecida entre o leitor e o influenciador, que
compartilham interesses em comum (Camargo, 2016). Logo, é evidente que as
principais motivações de consumo não estão associadas ao preço do livro, o =
que
diverge do que propõe Camargo (2016). Apesar de ser um fator de grande
relevância, essa preocupação não foi mencionada por nenhum dos 19 responden=
tes,
o que pode ser um reflexo da situação econômica dos entrevistados ou da for=
ma
de consumo e compartilhamento dos livros na comunidade, que será analisada a
seguir, na categoria de Engajamento na comunidade literária, apresentada no=
Quadro
3.
Quadro 3 – Categoria de análi=
se: percepções
de engajamento na comunidade literária
|
Categoria=
de
análise |
Unidade de
registro |
Unidade de
contexto |
|
Engajament=
o na
comunidade |
Redes soci=
ais |
Percepção =
das
comunidades literárias nas redes sociais. Entendendo a adesão dos leitore=
s às
redes sociais como espaço de acolhimento. |
|
Interação =
com o
conteúdo |
A importân=
cia da
interação para a promoção do consumo e engajamento da comunidade.
Compreendendo a relação dos leitores com os produtores de conteúdo literá=
rio
e o fator de identificação. |
|
|
Compartilh=
amento |
Investigan=
do a
relação da afetividade com o consumo e engajamento. O impacto da comunida=
de
literária no mercado editorial e livreiro. Entendendo os limites do
compartilhamento e a preocupação com a pirataria. |
Fonte: elaborado pelos
autores.
A percepção de
engajamento da comunidade literária é um objeto de estudo importante para e=
sta
pesquisa, visto que é esse engajamento que propicia as interações dos leito=
res
nas comunidades on-line. Assim, as redes sociais se destacam quanto às suas
capacidades de estabelecerem vínculos mais consistentes entre consumidor, g=
rupo
e produto (Marassi, 2014).
Esse alcance comunicacional proporcionado pelas redes sociais é, em
grande parte, justificado pelas conexões estabelecidas entre os atores
(Recuero, 2009), ou seja, pela forte sensação de identificação e acolhimento
que as pessoas encontram nesses espaços. Para a Entrevistada 18, as comunid=
ades
literárias representam um local de acolhimento e amizade, visto que as
discussões acabam se expandindo para outras áreas e gerando conexões genuín=
as
entre os leitores envolvidos na dinâmica, o que converge com os estudos de
Macedo (2022).
A leitura pode ser considerada uma ação essencialmente individual, mas
que, em função das redes sociais e comunidades literárias, passou a ser
compartilhada com outras pessoas, o que reforça a importância desses espaços
(Marassi, 2014). A Entrevistada 12 corrobora essa ideia:
=
Então, quando eu comecei, né? A ver que as redes sociais também podiam
ter esse viés de me trazer mais informações, de me trazer conteúdos
interessantes, livros interessantes e que eu podia, principalmente, dialogar
com as pessoas através das redes sociais. Eu acho que isso para mim foi o
primordial, ter com quem dividir a=
quilo
que eu sempre fiz muito sozinha (Entrevistada 12).
Todos os respondentes que participaram da entrevista alegaram consumir
conteúdos sobre livros nas redes sociais e interagir em comunidade. Quando
questionados sobre as redes sociais em que mais interagiam com a comunidade
literária, quase todos os entrevistados responderam ser o Instagram, seguid=
o do
TikTok e do YouTube. Desse modo, é possível perceber que o Instagram se des=
taca
entre os participantes da pesquisa. Isso pode ocorrer tanto pelos diversos
formatos compatíveis com a plataforma quanto pelos recursos de interação
disponíveis, como enquetes, comentários, curtidas e compartilhamento (Fisch=
er;
Vieira, 2023). Além disso, seu caráter aspiracional e estético, bastante
marcante, contribui para torná-lo uma rede percebida como aconchegante e do=
tada
de forte apelo sensorial pelos leitores (Reddan, 2022).
O TikTok também é muito estimado entre os entrevistados. Por tratar=
-se
de uma rede dedicada a vídeos
curtos e rápidos que podem captar=
mais
facilmente a atenção de leitores e até de não leitores, é uma
plataforma muito difundida entre diversos tipos de públicos e com grande
potencial de alcance. Em contrapartida ao Instagram, o TikTok possui um est=
ilo
mais improvisado, o que rompe as barreiras aspiracionais promovidas pelo
Instagram e estabelece um diálogo mais próximo com o público de leitores (Reddan, 2022). =
Vale
ressaltar que não houve limitação quanto às respostas e que uma única
respondente mencionou mais de uma rede social, como é possível identificar =
na
passagem a seguir:
=
Eu acordo, a primeira coisa que eu olho é o Bookstagram e, enquanto e=
stou
fazendo café, TikTok, porque eu preciso de alguma coisa para estar ouvindo e
geralmente quando eu volto para casa à noite, eu dou uma olhada no YouTube =
para
ver o que o pessoal postou e vou intercalando o YouTube, TikTok, Instagram,
direto assim, é meio viciante (Entrevistada 14).
Essa adesão e interesse em múltiplas plataformas se devem principalme=
nte
ao engajamento dos leitores, tanto em consumir quanto em produzir conteúdo =
para
mídias diferentes (Aragão; Lopes; Paiva Filho, 2021). De fato, a maneira co=
mo
os leitores interagem com o conteúdo nas comunidades reflete suas motivações
dentro desses espaços.
Além disso, percebeu-se a necessidade de um “gatilho” para desencadea=
r as
interações com o conteúdo, seja ele gerado pela curiosidade em saber mais s=
obre
um livro, como mencionado pelos Entrevistados 03 e 11, ou pela vontade de
demonstrar sua opinião em uma postagem específica. Nessa linha, a
intencionalidade é um ativo importante no que se refere ao engajamento nas
comunidades literárias.
Retomando os aspectos sociais analisados na categoria anterior que
motivam o consumo, é importante destacar que muitos dos entrevistados se ap=
oiam
na busca por resenhas, opiniões e indicações nas plataformas antes de decid=
ir
ler ou comprar um livro (Marassi, 2014). Dentro dessa perspectiva, os
produtores de conteúdo literário ocupam um papel de grande notoriedade nas
comunidades, não apenas em relação ao mercado literário, mas também em outr=
os
contextos. A partir de pesquisa, estudo e leitura, esses influenciadores se
dedicam a construir conteúdos em formatos diferentes, que atendam às
necessidades e especificidades do seu nicho, com seu esforço sendo traduzid=
o no
engajamento e no consumo do público.
De acordo com Fischer e Vieira (2023), nesse contexto de conectividade
das redes, o Bookstagram passa =
a ser
entendido como um mediador do consumo, efetivado por meio dos produtores de
conteúdo digital. No entanto, mais do que a rede, os influenciadores são os
verdadeiros responsáveis por mediar o consumo a partir das diversas
plataformas. Dos 19 entrevistados, somente um não consome com base em
produtores de conteúdo. A relação estabelecida torna o público fiel aos
influenciadores, que irão acompanhá-los em qualquer plataforma em que estej=
am
presentes. A Entrevistada 01 falou sobre a sua relação com os influenciador=
es
literários que acompanha e que, por gostar muito do conteúdo produzido e
confiar na opinião deles, acaba se tornando uma seguidora fiel, como mencio=
nado
na passagem a seguir:”Então, tipo, =
eu
consumo lá (Instagram, TikTok e Twitter), mas eu sou seguidora fiel, porque
assim é o que eu estou falando, eu sigo as pessoas que eu gosto em todas as
redes sociais” (Entrevistada 01).
A Entrevistada 07 também evidenciou uma situação na qual a relação co=
m o
produtor de conteúdo teve grande relevância, visto que ela, mesmo sem ter
interesse por um livro, deu “uma chance” para ele apenas por ter visto uma
resenha positiva feita por um perfil que ela seguia e do qual gostava basta=
nte.
Essas discussões e trocas proporcionadas pelas redes sociais são de suma
importância, uma vez que grande parte dos entrevistados alegou já ter mudado
sua opinião sobre um livro somente por serem expostos a perspectivas
diferentes.
Portanto, o ato de compartilhar experiências de leitura é não só rico
para leitores, mas especialmente benéfico para editoras e autores, visto qu=
e,
nesse sentido, eles podem promover essas discussões visando objetivos de
divulgação e venda ou, ainda, utilizar produtores de conteúdo literário para
serem a voz do produto: o livro (Macedo, 2022).
O movimento boca a boca entre leitores comuns nas comunidades também é
uma oportunidade de engajamento do produto. Grande parte dos entrevistados
possui o hábito de compartilhar sua experiência de leitura nas redes sociai=
s e
quase metade da amostra utiliza aplicativos de registro e acompanhamento de
leitura como Skoob e Goodreads.
Por se tratar de opiniões dadas por pessoas comuns e que, na maioria =
das
vezes, não obtiveram lucros pela divulgação, torna-se mais fácil para os
leitores estabelecerem uma relação de confiança a respeito da opinião sobre=
a
obra. Por conseguinte, os vínculos de amizade são estabelecidos e mantidos =
pela
afetividade proporcionada pelas trocas de experiências e discussões nas red=
es
sociais, onde juntos os usuários definem o valor intangível do autor e de s=
eu
livro (Kotler; Kartajaya; Setiawan, 2017).
De acordo com o Entrevistado 08, a comunidade o ajudou a se perceber =
como
parte de um grupo, uma vez que suas conexões pessoais não possuíam o mesmo
interesse que ele pela leitura, como descrito no trecho abaixo:
=
A gente passa pela infância, início da adolescência e não tem muito um
nicho em que tu se encaixe porque a leitura ainda é uma coisa que não é mui=
to
comum. Daí vai passar o tempo, tu começa a fazer amizades. As amizades acab=
am
se prolongando, tu começa a conhecer esse meio melhor, então tu se sente ma=
is
inserido até na sociedade assim (Entrevistado 08).
Além do sentimento de comunidade e pertencimento, o fato de ter muitas
informações sobre livros nas redes sociais os torna mais acessíveis para o
público, viabilizando inclusive o acesso gratuito às obras por meio da
pirataria e distribuição ilegal por membros da comunidade (Heller; Junior,
2017). Durante a entrevista, nenhum dos participantes citou o preço como
motivador para o consumo ou não de livros, diferentemente dos resultados
obtidos por Camargo (2016) em sua pesquisa. Isso elucida um desafio enfrent=
ado
há anos por diversas indústrias, como a da música e de roupas, tendo prováv=
el
relação direta com a forma como esses livros estão sendo adquiridos, bem co=
mo
seu impacto no mercado editorial e livreiro.
De maneira indireta, a Entrevistada 09 sugere que, na impossibilidade=
de
comprar o livro físico e na falta de um e-book disponível no Kindle, membro=
s da
comunidade disponibilizam links de acesso à obra. Ainda nessa perspectiva, o
Entrevistado 08 defende a viabilização de traduções piratas sob a justifica=
tiva
de que esse movimento ajuda a mostrar para as editoras que há procura pela =
obra
e que, dessa forma, possam ser publicadas aqui no Brasil.
Apesar de oportunizar o acesso à literatura para mais pessoas, a
pirataria não deve ser vista como uma solução, uma vez que exime o autor do
valor monetário de sua obra e perpetua a desvalorização dos escritores. Além
disso, ela deslegitima o trabalho de uma equipe de edição e tradução que se
dedica a entregar um produto de qualidade para os leitores.
Desta forma, identificou-se que as comunidades literárias presentes n=
as
redes sociais exercem influência significativa sobre o mercado literário ao
estabelecer novas motivações e tendências de consumo e ao direcionar o que =
deve
ou não ser lido. As opiniões e discussões que acontecem nas comunidades são=
um
ativo de valor imensurável, não apenas pela sua capacidade de converter
opiniões, mas também por promover e difundir o hábito da leitura entre os m=
ais
variados públicos.
A partir dos resultados apresentados nesta pesquisa, foi possível
identificar os stakeholders rel=
acionados
à comunidade literária. São eles: leitores, influenciadores, editoras,
livrarias e autores. Cada um deles é responsável pela manutenção do engajam=
ento
na comunidade. Para as editoras e livrarias, esse movimento é ainda mais
importante, visto que a adesão a esse ambiente é feita de maneira voluntária
pelos leitores. O investimento é baixo e tem grande potencial de alcance e
sucesso ao promover produtos, neste caso, livros (Almeida et al., 2010).
Além disso, as trocas e os compartilhamentos dos membros na comunidade
fornecem dados e insights signi=
ficativos,
que podem ditar as tendências do mercado editorial e livreiro. Os
influenciadores exercem um papel essencial ao dar voz a essas tendências,
incentivando o público a ler ou não um determinado livro. As redes sociais
fortalecem o poder desses criadores de conteúdo, oferecendo visibilidade e
diversos recursos de interação que aproximam o público do influenciador.
Por fim, os autores, além de escreverem o livro, precisam vendê-lo, s=
eja
para um leitor ou para uma editora, no caso de autores independentes. De to=
do
modo, a força motriz do engajamento são os leitores, e sempre se deve enten=
der
o que eles precisam para que os demais stakeholders
possam mantê-los engajados e, por conseguinte, consumindo.
Dessa forma, acredita-se que o estudo dos fenômenos que ocorrem nessas
comunidades pode fortalecer o mercado e direcionar empresas do segmento para
estratégias que considerem os interesses dos leitores e suas relações com os
demais stakeholders.
5 CONSIDERAÇÕES= FINAIS
A tecnologi=
a e os
meios de comunicação passaram por diversas transformações, especialmente ao
viabilizar novas formas de interagir em ambientes virtuais, unindo pessoas =
com
interesses em comum e promovendo o diálogo em comunidades on-line. Dentro d=
esse
contexto, esta pesquisa buscou compreender as percepções de leitores de liv=
ros
físicos e digitais sobre o consumo e o engajamento nas comunidades literári=
as
presentes nas redes sociais.
Dessa forma, a pa=
rtir
da aplicação e análise das entrevistas, foi possível identificar três
motivações principais para o consumo, a saber: os aspectos estéticos, técni=
cos
e sociais. De acordo com as respostas dos entrevistados, nota-se que os
leitores utilizam as comunidades literárias para buscar informações sobre
livros e que, além dos aspectos técnicos, elementos como a capa e a opinião=
de
outras pessoas podem ser determinantes para a decisão de consumir ou não um
determinado livro. No que diz respeito ao engajamento, ao analisar as
percepções dos respondentes com relação ao engajamento na comunidade,
destacam-se o Instagram, TikTok e YouTube como as redes sociais nas quais os
entrevistados mais interagem e, por tratar-se de pessoas com interesses sem=
elhantes,
a comunidade literária promove identificação e acolhimento. Consequentement=
e, o
compartilhamento permite que as pessoas conheçam novas perspectivas sobre um
livro, e as discussões fomentadas na comunidade podem impactar
significativamente a percepção dos leitores sobre ele.
Os resultados des=
ta
pesquisa apontam a importância dos espaços de compartilhamento on-line, pois
tais comunidades promovem discussões e trocas significativas. Essas interaç=
ões
fornecem informações e dados que permitem às editoras e livrarias conhecer =
melhor
seus clientes e suas necessidades, aos leitores descobrirem novos produtos e
aos influenciadores criarem conteúdos adequados ao público. Além disso, as
redes sociais facilitam a colaboração entre influenciadores, editoras e
autores, que podem se beneficiar amplamente desses espaços, uma vez que pod=
em
promover suas obras de maneira orgânica e espontânea.
Por fim, identifi= cou-se que a comunidade literária virtual tem tornado a leitura mais acessível, inclusive viabilizando o acesso a obras de forma gratuita. Assim, como suge= stão para pesquisas futuras, entende-se a necessidade de explorar a distribuição= ilegal de livros nas comunidades literárias. Ademais, é fundamental conduzir estud= os mais detalhados sobre o impacto dos bookfluencers no mercado editorial e livreiro, bem como investigar como as discussões sobre livros nas redes sociais podem se transformar em ativos valiosos para editoras e autores. Como limitação, reforça-se que este estudo não é generalizável, constituindo um recorte que delineou as percepções de um gru= po em um momento específico. Assim, pesquisas quantitativas podem colaborar co= m as investigações acerca do tema, complementando os achados aqui apresentados.<= o:p>
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ess,
2017.
Apêndice 1 - Roteiro de entrevistas
Questões de perfil
<=
span
style=3D'mso-list:Ignore'>1.&n=
bsp;
Onde você mora?
(cidade)
<= span style=3D'mso-list:Ignore'>2.&n= bsp; Qual a sua idade?<= o:p>
<=
span
style=3D'mso-list:Ignore'>3.&n=
bsp;
Qual o seu nível de
escolaridade?
<=
span
style=3D'mso-list:Ignore'>4.&n=
bsp;
Qual a sua profiss=
ão
atual?
<=
span
style=3D'mso-list:Ignore'>5.&n=
bsp;
Quantos livros você
leu nos últimos 12 meses?
Questões específicas
<=
span
style=3D'mso-list:Ignore'>6.&n=
bsp;
Quais fatores mais
motivam você a ler um livro?
<=
span
style=3D'mso-list:Ignore'>7.&n=
bsp;
Com qual frequência
você costuma acessar e interagir com conteúdos sobre livros nas redes socia=
is?
De que forma?
<=
span
style=3D'mso-list:Ignore'>8.&n=
bsp;
Em qual ou quais r=
edes
sociais você mais interage com a comunidade
<=
span
style=3D'mso-list:Ignore'>9.&n=
bsp;
Você já comprou um
livro por indicação de algum produtor de conteúdo literário (influencer)? C=
omo
isso aconteceu?
<=
span
style=3D'mso-list:Ignore'>10.&=
nbsp; O que a comunidade literária representa para você?
<=
span
style=3D'mso-list:Ignore'>11.&=
nbsp; Você tem o hábito de compartilhar sua experiência de leitura em suas
redes sociais ou em aplicativos de leitura, como Skoob e Goodreads? Se sim,=
com
qual frequência?
<=
span
style=3D'mso-list:Ignore'>12.&=
nbsp; De que maneira as interações e discussões promovidas nas redes socia=
is
literárias impactam na sua percepção sobre um livro?
<=
span
style=3D'mso-list:Ignore'>13.&=
nbsp; Na sua opinião, qual o papel das comunidades literárias on-line para
promover o hábito de ler?
Agradecimentos
Agradecemos à Fundação de
Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (FAPESC) pelo apoio
concedido na realização desta pesquisa.
Leio, logo posto? Percepções
sobre consumo e engajamento nas comunidades literárias em redes sociais
Emanuelle Silva de
Oliveira; Ana Paula Kieling; Matheus Lucas de Almeida
|
IS=
SN
2237-4558 • Navus • <=
/span>Florianópolis
• SC • <=
/span>v.
16 • p. 01- |
|
|
|
|
|
ISSN 2237-4558
• Navus • &n=
bsp;Florianópolis •
SC • v.9
• n.2 • <=
/span>p.
XX-XX • abr./jun. 2019 |
|