Small business entrepreneurs=
hip in
Brazilian immigrant communities established in the southeastern United Stat=
es:
a current panorama
|
Roberto Pessoa de Queiroz Falcão |
Doutor em Administração. Universidade = do Grande Rio (UNIGRANRIO) – Brasil. |
|
Eduardo Picanço Cruz https://orcid.org/0000-0003-4484-3256 |
Doutor
em Engenharia Química. Universidade Federal Fluminense (UFF) – Brasil. |
|
Diana Freitas de Oliveira |
Mestre em Administração. Universidade = do Grande Rio (UNIGRANRIO) – Brasil. |
RESUMO
A comunidade de brasileiros nos EUA já ultrapassa dois milhões= de indivíduos, segundo estimativas do MRE, e para se inserirem no mercado de trabalho americano, os imigrantes brasileiros muitas vezes iniciam uma jorn= ada de trabalhos temporários e depois se engajam em atividades empreendedoras. Essas atividades muitas das vezes estão ligadas a negócios de pequeno e méd= io porte (PME) de diferentes segmentos de atuação, quer seja como prestadores = de serviços ou proprietários de estabelecimentos comerciais locais. Nesse sent= ido, buscou-se entender quais são as barreiras que impactam o crescimento e a evolução dos negócios de empreendedores brasileiros de pequenas e médias empresas (PMEs) nos Estados Unidos? O objetivo = do trabalho foi o de identificar e analisar as barreiras que afetam o crescime= nto e a evolução de PMEs fundadas por empreendedores brasileiros nos Estados Unidos, considerando-se o perfil sociodemográfico de 652 imigrantes e analisando os casos específicos de 20 empreendedores brasileiros de PMEs nos EUA e as particularidad= es dos diferentes setores de atuação. Concomitantemente com a realização de entrevistas com empreendedores, foram conduzidas 2 entrevistas com gerentes= do Banco do Brasil e mais dois do corpo consular, além de um levantamento de c= ampo de 38 negócios estabelecidos por brasileiros localmente. Foi evidenciada uma comunidade brasileira com predominância feminina e alto grau de escolaridad= e, e negócios voltados, sobretudo para própria comunidade. São discutidos aspect= os específicos englobando os níveis micro, meso e = macro da incorporação mista dos empreendedores.
Palavras-chave: Empreendedorismo =
de
imigrantes. Incorporação mista. Empreendedo=
rismo
étnico.
ABSTRACT
The Brazilian community in the United States has
surpassed two million individuals, according to estimates from the Brazilian
Ministry of Foreign Affairs. To integrate into the American job market,
Brazilian immigrants often begin with temporary jobs and later engage in
entrepreneurial activities. These activities are frequently tied to small a=
nd
medium-sized enterprises (SMEs) across various sectors, either as service
providers or owners of local businesses. In this context, the study sought =
to
understand the barriers that impact the growth and development of businesses
owned by Brazilian entrepreneurs in the United States. The objective of the
study was to identify and analyze the barriers affecting the growth and
evolution of SMEs founded by Brazilian entrepreneurs in the U.S., consideri=
ng
the sociodemographic profile of 652 immigrants and examining specific cases=
of
20 Brazilian SME entrepreneurs across different sectors. Alongside intervie=
ws
with entrepreneurs, two interviews were conducted with managers from Banco =
do Brasil and two with consular officials, as well as a =
field
survey of 38 businesses established by Brazilians locally. The findings
revealed a predominantly female Brazilian community with a high level of
education, with businesses primarily focused on serving the Brazilian
community. Specific aspects are discussed, encompassing the micro, meso, and macro levels of mixed incorporation of these
entrepreneurs.
Keywords: Immigrant entrepreneurship. Mixed embeddedness. =
Ethnic entrepreneurship.
Recebido em 08/06/2024. Apr= ovado em 05/11/2024. Avaliado pelo sistema double blind peer review. Pu= blicado conforme normas da APA.
https://doi.org/10.22279/navus.v14.194=
3
1
INTRODUÇÃO
No tocante à importância numérica dos imigrantes, segundo o relatório do The World Bank (2023), o número de migrantes internacionais, em todo o mundo, atingiu a ci= fra de 184 milhões de pessoas, ou seja, 2,3% da população mundial vivem fora do= seu país de cidadania. Isto realça a crescente complexidade da mobilidade human= a, que será cada vez mais impulsionada por fatores como as alterações climátic= as, os conflitos, as tendências demográficas divergentes e a desigualdade de rendimentos. Destes, grande parte se destina à América do Norte e Europa.
Já a imigraç= ão brasileira para os Estados Unidos não é um fenômeno totalmente recente, ten= do se intensificado a partir dos anos 1980, conforme relatos de diversos autor= es que pesquisaram o tema, os quais relatam três principais ondas migratórias, sendo: (i) antes de 1990 (primeira onda); (ii) = entre 1991 e 2000 (segunda onda); (iii) depois de 2001 (terceira onda) (Sales, 1992, 2005; Cruz, Falcão, Barreto, 2017a). As estimativas oficiais do MRE (2023) apontam para um contingente que já se aproxima de dois milhões de indivíduos, embora não estejam contabilizados, nesses números, a imigração ilegal.
Em linha com= o que evidenciou Sales (1992, 2005), Fusco (2002) afirmam que os imigrantes brasileiros, que emigraram antes de 1990, pertenciam sobretudo à classe méd= ia, aceitando engajar-se em atividades de baixa qualificação nos Estados Unidos, Japão e Europa. Parte desses, se tornaram empreendedores, criando negócios muitas vezes voltados para uma crescente comunidade brasileira estabelecida localmente. Mais recentemente, evidências apontam para um empreendedor com perfil de investidor seja em empresas ou comprando imóveis para obtenção do chamado golden visa, sobretudo nas comunidades = mais robustas como ou destinos turísticos como a Flórida (Cruz et al, 2017a; Montezuma & Mcgarrigle, 2019).
O presente t= rabalho buscou, portanto, identificar um perfil sociodemográfico mais atualizado dos imigrantes brasileiros e especificamente dos empreendedores brasileiros de = PMEs nos EUA, analisando problemas recorrentes nos diferentes setores/nichos de atuação, visando identificar as barreiras que pudessem afetar o crescimento e a evolução de seus negócios.
A pergunta de pesquisa para o presente trabalho é: quais são as barreiras que impactam o crescimento e a evolução dos negócios de empreendedores brasileiros de pequ= enas e médias empresas (PMEs) nos Estados Unidos?
Há uma lacun=
a de
pesquisa clara no estudo, pois, sabendo-se que apesar da população de
imigrantes brasileiros nos EUA ser considerável (acima de 2 milhões de
indivíduos), pouco se pesquisou sobre as barreiras que afetam os negócios,
baseado em suas características sociodemográficas. Por exemplo, Margolis (1995) realizou um dos primeiros trabalhos p=
ioneiros
revelando as características da comunidade brasileira nos EUA, embora não t=
enha
feito coletas de dados sistemática, e sim uma abordagem de campo com inspir=
ação
etnográfica. Mais recentemente, Penz, Amorim,
Nascimento e Rossetto (2017) conduziram um estudo a respeito da influência =
do
índice de prontidão tecnológica na orientação empreendedora, embora não ten=
ham
incluído em seu estudo, os empresários de pequenos negócios de setores
tradicionais (estética, alimentação, artes marciais,
Para operacionalização da coleta e análise de dados, primeiramente foi veiculado= em 87 grupos de Facebook um questionário do tipo survey para uma amostra de 652 respondentes imigrantes brasileiros estabelecidos n= os EUA. Em uma segunda etapa, de triangulação de dados, realizada em uma viage= m de coleta de dados na Flórida, foi feito um levantamento de campo de 38 negóci= os estabelecidos por brasileiros, localmente. Já em uma terceira etapa, foram conduzidas entrevistas (presenciais ou virtuais) com 20 empreendedores brasileiros, atuantes em diferentes segmentos de negócio, destacando-se tan= to os empreendedores imigrantes que têm como público-alvo suas comunidades étnicas, como também os que atendem ao público local. Ao se utilizar o framework de análise da incorporação mista (mixed embeddedness), as entrevistas trouxeram insights sobr= e todo o percurso que os levaram a empreender, barreiras e dificuldades, além de oportunidades de negócio identificadas pelos empreendedores em questão, trazendo uma visão geral da comunidade empreendedora brasileira nos Estados Unidos.
2 IMIGRAÇÃO BRASILEIRA NOS EUA
Os imigrantes podem ter percursos regulares,
ingressando em países seja com visto de estudante, visto de trabalho,
matrimônio ou de investidor (Peixoto, 2007; Cruz, Falcão, Mancebo, 2020). J=
á os
percursos irregulares, podem ser compostos pelo ingresso ilegal pelas
fronteiras, ou pela extensão de sua estadia irregularmente após expirarem s=
eus
vistos de turistas (Caponi & Plesca, 2014). Independentemente do modo de
entrada, o autoemprego ou empreendedorismo de imigrantes é uma opção de
sobrevivência (Portes & Zhou, 1992).
Nesse sentido, como nem todos os imigrantes
possuem qualificação profissional ou recursos financeiros para realizarem u=
ma
trajetória regular (Cruz et al, 2020), as diversas estratégias migratórias
envolvem a percepção, por parte do indivíduo (ou de sua família) acerca de =
seus
estoques de (i) capital econômico – economias e possíveis formas de capital=
e
financiamento para montarem negócios; (ii) capital social – redes de contat=
os
com outros brasileiros (amigos e familiares), ou no caso de negócios (de
fornecedores, clientes e de outros empresários); de (iii) capital humano –
qualificação educacional e experiência profissional (Bourdieu, 1986). É dig=
no
de nota que em contextos migratórios brasileiros, manifestam-se sinais de
desconfiança e trapaça entre empreendedores (Casado, Falcão, & Cruz, 20=
22),
o que afeta o capital social dentro dessas comunidades,
Os EUA constituem o principal destino de
imigrantes brasileiros, conforme apontam as estimativas oficiais do MRE (20=
23),
já ultrapassando dois milhões de indivíduos. Segundo Martes (2001) e Martes=
e
Rodrigues (2004), a perda da mobilidade social é um dos fatores que motivam=
as
pessoas a procurar sua sorte no exterior. Nos EUA, muitos imigrantes
brasileiros iniciam sua jornada desempenhando funções sem prestígio, porém
mesmo assim, alguns avaliavam sua experiência de forma positiva, especialme=
nte
ao considerarem os direitos que tinham nos EUA (enfatiza-se o acesso à educ=
ação
básica pública de qualidade, segurança e poder de compra para adquirir bens
como veículos, imóveis e bens de consumo), destacando-se como algo superior=
à
realidade brasileira, o que poderia também ser gerador de satisfação e
qualidade de vida.
De acordo com dados da City-Data (2023), ao =
se considerar
as cidades e suas regiões metropolitanas, estima-se que as maiores
concentrações de imigrantes brasileiros estão em: Boston (Massachusetts), N=
ew
York (New York), Miami e Orlando (Flórida) e Los Angeles, (Califórnia). Nes=
se
sentido, por estado, Massachusetts lidera com 23%, seguido pela Flórida com
20%, New Jersey com 10,4%, Califórnia com 8,7% e Nova York com 7,1%.
Martes (2001) e Martes e Rodrigues (2004) ai=
nda
apontam que, dentre os trabalhos realizados pelos brasileiros, destacavam-se
muitas tarefas subalternas, como limpeza de casas e de escritórios, deliver=
y no
ramo de alimentação (entrega de pizzas e comestíveis), lavar pratos e limpar
mesas de restaurantes. A autora evidenciou que poucos possuíam pequenos
negócios que atendiam à própria comunidade de imigrantes, como restaurantes
brasileiros, salões de beleza e lojas que comercializavam produtos do Brasi=
l, sendo
que outros eram trabalhadores autônomos. Vale ressaltar que os imigrantes
brasileiros mencionavam serem tratados com mais respeito do que as pessoas =
que
desempenham essas mesmas funções no Brasil.
É possível ainda compreender a relevância do
imigrante para o crescimento econômico tanto de país de origem quanto para o
país anfitrião (Cruz et al, 2020). Ao país de origem, sua contribuição se dá
principalmente por meio da transferência de recursos financeiros arrecadados
(remessas). Já no tocante ao país anfitrião, sua contribuição se dá no
preenchimento de demandas por mão de obra em setores específicos (sobretudo=
no
setor de serviços), pelo pagamento de impostos, e até na criação de empregos
gerados pelos empreendedores. Há também uma contribuição no sentido de
incrementar sua diversidade cultural (Portes & Zhou, 1992). Portanto, a
academia tem apontado para o empreendedorismo como uma das formas de inclus=
ão
nas sociedades receptoras e consequentemente de ascensão econômica do imigr=
ante
(Akbar, 2019).
3 EMPREENDEDORISMO DE IMIGRANTES
Segundo Filion (2021), o empreendedor é
caracterizado por seis componentes principais: (i) inovação, (ii)
reconhecimento de oportunidades, (iii) gestão de riscos, (iv) ação, (v)
utilização de recursos e (vi) valor agregado. Em seu texto, o autor conclui=
que
existem diferentes níveis de inovação e de expressão empreendedora.
Questionando sobre as causas da pobreza em
minorias, Portes e Zhou (1992) sugerem o empreendedorismo como uma alternat=
iva
para sair desta situação econômica, apontando ainda que essas pessoas que
empreendem sob estas condições enxergam oportunidades de criar negócios
voltados aos habitantes locais, ou a grupos coétnicos (semelhantes à sua
etnia), desta forma diferenciando-se o empreendedorismo de imigrante e/ou
étnico, respectivamente.
Nesse sentido, a estrutura de oportunidades =
e o
direcionamento do público-alvo dessas empresas podem depender não só do gra=
u de
afiliação dos imigrantes com suas comunidades, como também do próprio taman=
ho
dessas comunidades versus a oportunidade de atuar para o público local (Cru=
z et
al, 2020).
Vandor e Franke (2016) destacam que as
experiências interculturais aumentam a capacidade desses indivíduos para a
identificação de ideias de negócios promissoras. Assim, eles encontram novos
produtos e serviços, identificam preferências dos clientes, e desenvolvem
estratégias de comunicação, criando soluções inovadoras em seus países de
destino. Com isso surge a possibilidade do empreendedorismo de imigrante e o
empreendedorismo étnico.
Martes e Rodriguez (2004) entendem que, no c=
aso
dos empreendedores étnicos, prevalecem as particularidades de sua cultura em
busca do povo que se assemelha a cultura, as ideias e os objetivos do negóc=
io.
Além disso, afirmam que os empreendedores imigrantes socialmente identifica=
dos
com suas comunidades étnicas são os mais propensos a se tornarem empreended=
ores
de enclaves étnicos, enquanto estiverem ligados às suas comunidades por
tradição, prestígio ou mesmo por mero destino. Portanto, não é incomum que =
eles
se envolvam em atividades para melhorar o status das suas comunidades, como=
o
levantamento de fundos, para construir instalações comunitárias. Tanto Zhou
(2004) quanto Sanders e Nee (1987) destacam que o enclave étnico é o local =
onde
membros de grupos e comunidades étnicas residem e tem seus negócios.
Seguindo esta tendência analítica, os poucos
trabalhos sobre brasileiros no exterior disponíveis de autores como Cruz,
Falcão, Martes e Rodrigues citados neste trabalho, voltam-se para a observa=
ção
de atuação dos empreendedores imigrantes brasileiros dentro e fora de encla=
ves
étnicos. Os artigos começaram a aparecer nos periódicos acadêmicos no início
dos anos 2000 e ganharam força em meados de 2016 e, conforme esperado, trat=
avam
prioritariamente dos brasileiros nos EUA – maior colônia da diáspora migran=
te brasileira.
Em seguida observa-se o surgimento de publicações relacionadas os
empreendimentos de brasileiros na Austrália, Portugal, Canadá, Alemanha, Pa=
íses
Nórdicos e outros países europeus.
Identificou-se que o ambiente institucional =
do
país em questão é um fator determinante dos tipos de micro e pequenos negóc=
ios
encontrados nestes países (Cruz & Falcão, 2020), isso leva as publicaçõ=
es a
considerarem a teorias de incorporação mista ou mixed embeddedness (Klooste=
rman
& Rath, 2018), descrita na próxima seção. Do ponto de vista prático,
observou-se que os micros e pequenos negócios de brasileiros no exterior são
iniciados a partir de oportunidades observadas, mas que servem para suprir
necessidades financeiras e ocupacionais, afinal, a dificuldade em validar os
diplomas leva a alguns imigrantes a empreenderem (Cruz, Falcão, Barreto,
2017b).
Cruz, Falcão e Mancebo (2020) apresentaram os
principais tipos de negócios que os micros e pequenos empreendedores
brasileiros atuam no exterior. Esses autores classificaram os negócios em
quatro categorias, baseando-se no trabalho de Zhou (2004): (i) mercado de n=
icho
étnico, que envolve o chamado “mercado da saudade” de produtos brasileiros,=
os
empreendedores étnicos voltados para os imigrantes (concessionarias de carr=
o,
serviços de advocacia e contabilidade, por exemplo, e a mídia étnica (jorna=
is e
revistas), (ii) mercado de produtos exóticos para os consumidores locais,
envolvendo o mercado da cultura brasileira (música, comida, produtos nacion=
ais,
etc) voltado para o público estrangeiro, (iii) as empresas que não demonstr=
am
serem gerenciadas por imigrantes e atuam nos mercado de forma ampla e
competitiva, e (iv) os negócios específicos de cada país e/ou atividades das
minorias intermediarias (Bonacich, 1973).
Por fim, outro achado de Cruz et al (2017b),
relataram, contrariamente aos achados de Portes e Zhou (1992), uma desconfi=
ança
mútua entre imigrantes e até muitos relatos de sabotagens de negócios. São
denúncias anônimas feitas por brasileiros, contra outros empresários
compatriotas, muitas vezes apenas para atrapalhar o negócio alheio. Isto faz
com que muitos brasileiros evitem se relacionar, inclusive profissionalment=
e,
com outros compatriotas. No trabalho original de Portes e Zhou (1992), foi
identificado na realidade um sentimento de confiança mútua e laços de apoio,
reforçados dentro e pela comunidade de imigrantes chineses, dominicanos e
cubanos nos Estados Unidos.
4 INCORPORAÇÃO MISTA
Como arcabouço, adotou-se o conceito de
incorporação (embeddedness) de Polanyi em 1957 (Gemici, 2008), entendendo c=
omo
interações sociais afetam comportamento e instituições (Corrêa & Vale,
2014). Das contribuições da sociologia industrial e geografia econômica, e =
da
questão da teoria sociológica sobre como relações sociais influenciam
comportamento e instituições (Jones & Ram, 2007), Granovetter (1985)
postulou que comportamento econômico está condicionado à inserção em rede
social. Esse autor desafiou ideia neoclássica de atividade econômica atomiz=
ada,
defendendo sua inserção em estruturas sociais na sociedade industrial. O
conceito de incorporação baseia-se em dimensões: relacional (relações pesso=
ais)
e estrutural (estrutura social). Assim, o framework da mixed embeddedness [=
ME],
Kloosterman, Van Der Leun e Rath (1999) defenderam posição socioeconômica do
empreendedor imigrante considerando redes sociais, fatores socioeconômicos,
políticos e institucionais. Kloosterman e Rath (2018) propuseram visão equi=
librada
do empreendedorismo imigrante, considerando contexto de negócios e influênc=
ia
do Estado. Análise do capital social (Bourdieu, 1986; Coleman, 1998) difere=
na
aplicação da incorporação mista em comparação à isolada. Argumenta-se que
Aldrich e Waldinger (1990) foram precursores do modelo interacionista, mas =
sua
descrição das estruturas de oportunidades era simplista. A incorporação mis=
ta
evolui, englobando (i) desvantagens de mercado, (ii) tradição europeia vers=
us
perspectiva americana e (iii) estruturas de oportunidades mais dinâmicas.
Com essas três distinções em mente, Klooster=
man
(2010) expandiu o conceito de estruturas de oportunidade dentro dessa abord=
agem
interacionista, incluindo vários outros determinantes na análise das ativid=
ades
empreendedoras dos imigrantes, a saber: inovações tecnológicas, práticas
socioculturais, networking com a população local e não apenas com conaciona=
is,
e mudanças no comércio global.
No modelo interacionista de Kloosterman (201=
0), a
variável de recursos é dividida entre um nível baixo (ensino médio ou infer=
ior)
e alto (ensino profissional ou acadêmico) combinado com fluxo e altos nívei=
s de
capital financeiro e redes sociais homogêneas e heterogêneas.
Para se utilizar o framework da ME, deve-se
analisar o (i) nível micro - de empreendedores e de suas características
individuais incluindo seu capital humano e características culturais e
comportamentais; o (ii) nível meso – englobando a estrutura de oportunidade
local e a interação entre empresas, e o (iii) nível macro – incluindo esfer=
as
institucionais e legais da incorporação (Kloosterman & Rath, 2018).
No nível individual (micro), diferentes fato=
res da
incorporação mista sinalizariam barreiras potenciais ou seriam promotores de
estruturas de oportunidades distintas. Tal análise exige um aprofundamento =
da
compreensão das relações entre agência individual, desigualdades estruturai=
s e
institucionais e limites sociais coletivos (Romero & Valdez, 2016)
exemplificados pelo fato de que os imigrantes são comumente empurrados para=
o
autoemprego devido às suas condições socioeconômicas na chegada ao novo paí=
s e
barreiras como xenofobia, legislação trabalhista precária e condições gerai=
s de
trabalho, baixa proficiência no idioma (Collins & Low, 2010) ou mesmo
carência de habilidades técnicas, ou até dificuldades em validar seus diplo=
mas
(Cruz et al, 2020).
O capital social, por sua vez, é considerado=
como
parte da construção do capital humano, muitas vezes incluído nos recursos
pessoais disponíveis para o empreendedor imigrante (Bourdieu, 1986). O mesmo
ocorre com o capital econômico; até certo ponto, eles se reforçam mutuament=
e.
Por exemplo, o capital econômico facilita a aquisição de competências técni=
cas
e intelectuais, favorecendo assim a acumulação de capital humano, que, por =
sua
vez, pode facilitar o estabelecimento de novos laços sociais, reforçando as=
sim
o capital social (Kloosterman & Rath, 2018). Estas relações são
consequentemente abordadas numa perspectiva multinível, ou seja,
considerando-se as relações interpessoais e interorganizacionais, quer
localmente quer transnacionalmente, procurando delinear a configuração
específica do processo de integração destes empreendedores, como priorizam =
as
relações estabelecidas e as redes constituídas entre coétnicos ou conaciona=
is
(Rath & Kloosterman, 2000). Mais recentemente, Ram, Jones e Villares-Va=
rela
(2017) propuseram uma reformulação do ME em relação a questões de (i) o pap=
el
da regulamentação, (ii) a incorporação da exclusão racista, (iii) estrutura=
s de
gênero da migração e processos do mercado de trabalho, (iv) guetização do
mercado e (v) maior sensibilidade ao seu contexto histórico.
Conforme proposto por Dheer (2018), os estud=
os que
englobam a incorporação mista de imigrantes devem incluir: (i) as estrutura=
s de
oportunidade, (ii) os recursos dos empresários migrantes, (iii) o contexto
sociocultural e institucional mais amplo, e (iv) suas estratégias de negóci=
os,
de forma sistemática. Em resumo, é possível concluir que a ME beneficia os
empreendedores, enriquece as comunidades e as economias onde estão operando=
. Há
de se levar em consideração ainda, as características culturais dos brasile=
iros
(Da Matta, 1984), como a malandragem e o “jogo de cintura” (ou flexibilidad=
e),
que os distingue em muitas situações e comportamentos.
5 METODOLOGIA
Para o presente trabalho exploratório, busco=
u-se
empreender quatro etapas de pesquisa: (i) levantamento bibliográfico no tema
(apresentado anteriormente); (ii) survey com coleta de dados sociodemográfi=
cos de
imigrantes brasileiros e motivações para imigrar para os EUA (n=3D652); (ii=
i)
tabulação de negócios por meio de coleta de folhetos em locais públicos dos
Estados Unidos e de anúncios em revistas da comunidade brasileira (n=3D38);=
e
(iv) coleta de dados de empreendedores brasileiros nos EUA por meio de entr=
evistas
e observações de campo (n=3D20)e de triangulação (n=3D4); (v) análise de da=
dos. A
seguir detalham-se as diferentes etapas de coleta e análise de dados.
Survey com imigrantes brasileiros
O levantamento das dados sociodemográficos e
motivações para imigrar para os EUA (etapa ii) foi realizado por meio de um=
a survey
(questionários respondidos por uma amostra de 652 imigrantes brasileiros que
vivem nos EUA, com 28 perguntas, sendo 16 questões abertas e 12 fechadas do
perfil sociodemográfico dos respondentes). Foi utilizado o Google Forms e o
questionário foi distribuído por meio de redes sociais, em 87 grupos do
Facebook e via mensagens no inbox de contatos do LinkedIn dos pesquisadores,
sendo atingidas mais de 46 mil pessoas (Baltar & Icart, 2013). Para fin=
s do
cálculo amostral utilizou-se a estimativa populacional do MRE (2023) de 2
milhões de imigrantes brasileiros nos EUA, arbitrando-se um intervalo de
confiança de 95% e margem de erro de 4%, chegando-se a um tamanho mínimo de
amostra de 380 (Hair, Black, Babin, Anderson, & Tatham, 2009). Essa eta=
pa
teve duração de 10 meses, sendo iniciada em 2022 e terminada em 2023.
Tabulação de negócios por meio de coleta de
folhetos em locais públicos dos Estados Unidos e de anúncios em revistas da
comunidade brasileira (etapa iii) e entrevistas com
empreendedores (etapa iv)
A coleta de folhetos e anúncios de negócios brasileiros, fotografia de negócios e produtos e gravação de vídeos de loca= is de concentração de negócios brasileiros foi realizada concomitantemente com= as entrevistas com empresários, no período compreendido entre os dias 25/07/20= 23 e 11/08/2023, em visita às regiões do Sul e Centro da Flórida (cidades de Mia= mi, Boca Raton, Deerfield Beach, Delray Beach, Coconut Creek e Orlando). Nessa ocasião também foram realizadas entrevistas semiestruturadas com empreended= ores (n=3D20), entrevistas de triangulação de dados (n=3D4) com gerentes de duas agências do Banco do Brasil, e funcionários do consulado de Orlando. A pesq= uisa de campo foi financiada pela FAPERJ APQ1.
Análise d=
os dados
da survey e entrevistas (etapa v)
Após a colet= a de dados da survey, foi utilizado o software Excel= para tratamento das informações. De acordo com o que é preconizado pela literatu= ra (Hair et al, 2009), nessa etapa foram usadas ferrament= as de estatística descritiva para as questões fechadas e estatística inferencial = para análise das questões abertas.
Já no caso d= as entrevistas, visando o aprofundamento do entendimento do fenômeno aqui apresentado, foi realizada a transcrição integral após sua gravação em áudi= o, devidamente autorizadas pelos entrevistados (Denzin & Lincoln, 2006).
As 20 entrev= istas dos empreendedores e as quatro entrevistas de triangulação (com gerentes do Ban= co do Brasil e do corpo consular) tiveram em média 40 minutos e foram realizad= as de acordo com a conveniência dos voluntários. A escolha dos respondentes se= guiu os critérios de acessibilidade, podendo estes terem participado anteriormen= te do questionário proposto ou não, sendo importante que os participantes convidados fossem selecionados segundo as características desejadas, tais c= omo: (i) empreendedores brasileiros estabelecidos na região; (ii) proprietários de empresas formais, de qualquer ramo, com alguma identidade = ou envolvimento com a comunidade brasileira local – excluindo todas as empresas que operassem na informalidade, ou serviços não registrados para fins fisca= is.
Para a fase = de análise das entrevistas transcritas, foi utilizado o software Atlas.Ti para tratamento, codificação. Seguiram-se as indicações de Gioia, Corley e Hamilton (2013), empregando uma abordagem indutiva sistemática para o desenvolvimento das categorias que emergiram dos depoimentos. Portanto, a análises e codificaçõ= es foram realizadas em quatro etapas, conforme explanado a seguir: (i) análise= de primeira ordem, incluindo a busca de termos centrados no informante; (ii) análise de segunda ordem, buscando-se semelhanças= e diferenças e visando reduzir as categorias específicas; (iii) estabelecimento de rótulos ou descritores frasais, agregando dimensões; e (= iv) construção de um diagrama de estrutura de dados. = Já a análise das entrevistas de triangulação foi realizada seguindo o mesmo méto= do das entrevistas com empreendedores, no entanto o roteiro de entrevistas foi mais fluido, buscando-se entender os movimentos migratórios da comunidade e= a mudança de perfil recente dos imigrantes brasileiros nos EUA. Os informantes ajudaram a complementar a visão do perfil e das atividades empreendedoras d= os membros da comunidade.
Os folhetos e anúncios coletados serviram para compor uma visão mais abrangente de negóci= os os quais os pesquisadores não tiveram acesso, quer seja pela recusa dos empreendedores a realizar as entrevistas, quer pela falta de tempo para condução de entrevistas de acordo com a agenda dos candidatos a entrevista.=
6 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
6.1 Resultados da Survey
Os dados for= am estratificados e analisados estatisticamente a fim de gerar um entendimento= do perfil sociodemográfico e compreender opiniões e comportamentos dos brasile= iros imigrantes e suas respectivas particularidades, conforme a tabela 1.=
Tabela 1
Perfil do imigrante brasileiro nos Estados Unidos
|
Idade
(anos) |
Como
chegou ao EUA? |
Quanto
tempo pretende ficar? |
|||||
|
18-24 |
6,1% |
Casado ou para casar-se com
pessoa que vive nos EUA |
11,2% |
Menos de 1 ano |
2,0% |
||
|
25 a 34 |
29,8% |
Visto de estudante |
26,2% |
De 1 a 5 anos |
8,9% |
||
|
35 a 44 |
31,6% |
Visto de trabalho |
24,1% |
Mais de 5 anos |
7,5% |
||
|
45 a 54 |
20,6% |
Visto de turista |
23,5% |
Para sempre |
58,6% |
||
|
55 ou mais |
12,0% |
Visto de investidor EB5 |
0,5% |
Não sei |
23,0% |
||
|
|
Para acompanhar cônjuge que
obteve emprego |
11,8% |
|
||||
|
Sexo |
Já tinha cidadania american=
a |
2,7% |
Onde
se formou? |
||||
|
Masculino |
36% |
|
Universidade privada do Bra=
sil |
50,3% |
|||
|
Feminino |
64% |
Universidade pública do Bra=
sil |
42,3% |
||||
|
|
Formação |
Em universidade no exterior
(inclui EUA) |
7,4% |
||||
|
Tempo
nos EUA |
Ensino fundamental |
2,5% |
|
||||
|
Menos de 1 ano |
13,5% |
Ensino médio |
15,2% |
O
que está fazendo atualmente? |
|||
|
Entre 1 e 4,9 anos |
32,4% |
Graduação |
39,1% |
Buscando oportunidades para=
abrir
um negócio |
2,0% |
||
|
Entre 5 e 9,9 |
25,1% |
Pós-Graduação - Lato Sensu<= o:p> |
24,7% |
Buscando oportunidades para
trabalhar |
2,1% |
||
|
Mais de 10 anos |
29,0% |
Mestrado |
13,0% |
Somente cuidando da casa e/=
ou da
família |
7,8% |
||
|
|
Doutorado |
5,5% |
É empresário |
9,7% |
|||
|
Pensa
em abrir um negócio? |
|
Fazendo turismo |
0,3% |
||||
|
Como
está morando atualmente? |
Só estudando |
5,5% |
|||||
|
Não |
49,1% |
Alojamento fornecido pelo
trabalho/casa do contratante |
2,6% |
Só trabalhando |
42,0% |
||
|
Sim |
50,9% |
Com a família |
76,2% |
Trabalhando e estudando |
16,9% |
||
|
Dividindo apartamento com a=
migos |
9,8% |
Fazendo trabalho voluntário=
|
0,9% |
||||
|
Sozinho |
11,4% |
Outros |
12,8% |
Nota: Elaboração própria baseado em dados da survey (= 2023).
Para compree= nder os motivos que os respondentes deixaram o Brasil, foram destacados os quatro principais, denotando um perfil de migração econômica, sobretudo devido aos altos índices de motivações como “oportunidade de trabalho” (16,9%) e a “fa= lta de oportunidade no Brasil” (13,9%) que poderiam ser agrupados. Já as motiva= ções relativas a “estudar” (13,5%) e “realizar intercâmbio” (5,2%), também estão relacionadas a um crescimento profissional futuro. Estas são seguidas por u= ma busca por “qualidade de vida” (12,1%) e “segurança” (7,5%), recorrente na maioria das surveys realizadas pelos autores em outros países. Já as questões de relacionamento e família: “questões amoros= as” (9,7%) e “questões familiares” (9,8%), ficam em segundo plano. Por último, emergem as “questões políticas” (5,4%).
Referente à = sua adaptação nos EUA, dentre as principais dificuldades apontadas pelos respondentes da survey no país, foram destacada= s o idioma (23,0%) e a cultura (15,6%). Os demais motivos são distribuídos em fatores como: inserção do mercado de trabalho, solidão/saudades burocracias, custo de vida etc. Contudo, 58,5% da amostra afirma que apesar das dificuld= ades enfrentadas, não pretendem voltar ao Brasil.
6.2 Apresentação dos dados da observação de campo
A visita de = campo serviu para ilustrar e identificar a distribuição de negócios brasileiros no local. Foram identificados pequenos e médios negócios dos ramos de alimenta= ção (padarias, confeitarias, mercadinhos e restaurantes), serviços migratórios, empresas de seguros, imobiliárias, jornais comunitários, empresas de reform= as e construção civil, dentre outros. Ainda em conversas com o cônsul de Orlando= , os pesquisadores estimaram uma população de em torno de 400.000 brasileiros estabelecidos na região do Sul e centro da Flórida, o que se reflete em uma comunidade brasileira em franco crescimento, cujos imigrantes chegados aos = anos de 1990 e 2000 já estão passando seus negócios para segunda geração. Confor= me afirma o cônsul, percebe-se o chamado mercado da saudade: “É impressionante= a variedade de marcas brasileiras nos supermercados que atendem à comunidade brasileira na região, que incluem desde produtos alimentícios dos mais vari= ados (como sucos, achocolatados, doces, balas, salgadinhos congelados), até cosm= éticos e produtos de limpeza brasileiros” (Cônsul de Orlando).
Em alguns ce= ntros comerciais da região encontram-se até cinco negócios variados como segurado= ras, restaurantes, salão de beleza e mercadinhos lado a lado. Segundo afirmou um gerente de mercadinho brasileiro local, já existem oito importadoras de produtos brasileiros na região, as quais distribuem para os diversos supermercados da Florida. Em observações de campo os pesquisadores também perceberam a presença de alguns produtos brasileiros industrializados e fabricados nos Estados Unidos, como o Guaraná Brazilia= (de New Jersey) e fábricas de linguiça locais (figura 1).
Figura
1.
Produtos
brasileiros industrializados nos EUA
Nota: Arquivo pessoal.
Há também os= que afirmam ter lucrado com a pandemia, como os mercadinhos brasileiros, confeitarias e até uma loja de costura, com o crescimento de vendas online,= e consequente demanda por delivery de alimentos e serviços de ajuste de costu= ras, roupas e bainhas.
Outro fenôme= no curioso observado pelos pesquisadores foi o fluxo de novas ondas migratória= s, composta pelas novas gerações que buscam o sonho americano. Na maioria das lojas, restaurantes e comércio brasileiros visitados, encontraram-se recepcionistas, atendentes ou secretárias jovens brasileiras com boa aparên= cia. Há também um crescente incremento de novas modalidades de networking, como = os grupos de negócios (a exemplo do Brazilian Busi= ness Group), dos grupos de mulheres e das igrejas (em geral neopentecostais). Foi realizada também uma visita a diversos pontos de concentração de negócios de brasileiros, a exemplo do Sample Square (Pompano Beach, Sul da Florida) e do Mall onde se loca= liza o Banco do Brasil Americas (Orlando, Central Flor= ida).
Figura
2
Fachada
de lojas
Nota: Arquivo pessoal.
6.3 Apresentação dos dados das entrevistas
Durante a visita =
de
campo, os pesquisadores fizeram várias incursões no sentido de obterem o ma=
ior
número de entrevistas possível. No entanto, destacam-se duas das principais
dificuldades enfrentadas: (i) conseguir um horário na agenda ocupada dos mi=
cros
e pequenos empresários; e (ii) vencer a desconfiança que muitos têm em dar
entrevistas, principalmente pois alguns ainda não estão totalmente
documentados. Na tabela 2 apresentam-se os dados dos 20 empreendedores
imigrantes entrevistados.
Tabela 2
Participantes das entrevistas semiestruturadas
|
Número
entrevistado |
Idade |
Sexo |
Anos
nos EUA |
Cidade
de Moradia |
Negócio (setor/nicho) |
|
Pompano Beach, =
FL |
Construção civil |
||||
|
Consultoria financeira |
|||||
|
Cocounut Creek, =
FL |
Jornalista - comunicação |
||||
|
Pompano Beach, =
FL |
Corretor de imóveis |
||||
|
Tradução de texto |
|||||
|
Pompano Beach, =
FL |
Ótica |
||||
|
Pompano Beach, =
FL |
Venda de carro |
||||
|
Corretora de imóveis e
consultoria financeira |
|||||
|
Nutrição e saúde |
|||||
|
Jornalista - comunicação |
|||||
|
Floricultura |
|||||
|
Website e redes sociais |
|||||
|
Venda de ticket para
entretenimento |
|||||
|
Designer de interiores |
|||||
|
Consultoria - contabilidade=
|
|||||
|
Jornal - venda de seguro |
|||||
|
Venda de imóveis |
|||||
|
Empreiteira - construção ci=
vil |
|||||
|
Instalação de ar-condiciona=
do |
|||||
|
DeerfieldPublicidade e propaganda |
Nota: Elaborado pelos autores.<= o:p>
A partir da = análise das perspectivas da abordagem teórica da incorporação mista (mixed embeddedness) (Kloosterman & Rath, 2= 001) sobre os estudos migratórios, destacam-se as conexões, contextos sociais, econômicos e institucionais nos quais os empreendedores e grupos étnicos es= tão inseridos. Dos 20 entrevistados, apenas dois informaram ter chegado ao país= com a intenção de montar um negócio. Um abriu uma filial, sendo esta uma extensão da empresa existente no Brasil e o outro, começando do zero, m= as atuando no mesmo ramo anterior, aproveitando o know-how adquirido no Brasil. Ademais, vale ressaltar que os outros 19 entrevistados, tinham perspectivas= de trabalho formais e que com as dificuldades e necessidades que foram surgind= o ao longo do tempo, empreender passou a ser algo primordial para a sobrevivênci= a e tornou-se a renda principal, possibilitando a permanência e a vida em solo americano. Para análise das entrevistas buscou-se agrupar temas emergentes referentes aos percursos migratórios e características pessoais dos empreendedores (nível micro), aspectos dos negócios (nível meso) e aspectos institucionais (nível macro).
6.3.1 Nível micro – o percurso mig=
ratório
e características pessoais dos empreendedores
Diversos pod= em ser os motivos que impulsionam a mudança para outro país. Portanto, para compreender fatores da mudança foram destacados os respectivos motivos e al= inhados a duas categorias principais: Desenvolvimento Profissional e Questões Pessoais/Familiares, a partir disso 16 dos 20 respondentes foram motivados = por objetivos profissionais e por questões pessoais e familiares.
Os motivos p= essoais englobam situações pessoais, como: doenças de familiares, que exigia o cuid= ado de outras pessoas; traumas por assaltos e violência, problemas de saúde proveniente a estresse, excesso de trabalho e relacionamentos, englobando o início de uma nova história e o divórcio, com as perspectivas de recomeçar a vida em um outro cenário. Para se compreender os fatores relacionados aos objetivos profissionais desses 16 respondentes, destaca-se primeiramente a oportunidade profissional. Entende-se como aquelas pessoas que vão em busca= de salários melhores, oportunidades de trabalhos que nem sempre são de cargos = de liderança, mas que poderão proporcionar qualidade de vida: “Na verdade, foi= a pós-graduação, eu achei que eu ia ficar um ano e meio e ia voltar, né? Entã= o, foi realmente a pós, porque esse curso da pós ele era muito, ele chama aqui= , né?”(ENT03). “Eu vim trabalhar fazendo parte de um grupo= de profissionais internacionais de várias partes do mundo”= (ENT10).
A busca por qualidade de vida tem sido declarada constantemente em outros contextos de brasileiros no exterior, que pode ser entendida como algo relacionado à segurança material e financeira, ligada a uma oportunidade de se realizar profissionalmente, adquirir bens materiais como um imóvel, automóvel, e ben= s de consumo. No entanto, muitas vezes essa é uma visão romantizada, onde os brasileiros por vezes lamentam estar trabalhando em demasia, cunhando a expressão “escravos unidos”. Como propõe que seja feita a análise, Ram, Jones e Villares-Varela (2017), ressaltam a necessidade de se incorporar a exclusão racista (ou mesmo social) de muitos indivíduos brasileiros, que em seu país de origem não se veem capazes de acumular capital, de viver dignamente ou ter um veículo. Neste ponto o “son= ho americano” vem de encontro a esse anseio por qualidade de vida. Muito embor= a, ainda possa haver no ambiente da comunidade de imigrantes, estruturas de gê= nero e de exclusão nos processos do mercado de trabalho (quer seja devido à validação de diplomas ou de proficiência do idioma), pode ser gerada uma guetização do mercado, com empreendedores com foco apenas na comunidade brasileira local, como visto adiante. Os brasileiros têm muitas vezes um capital humano ligado às habilidades técnicas e às suas soft-skills (Bourdi= eu, 1986), por exemplo, flexibilidade, ou habilidade em se saírem bem no trabal= ho em ambientes caóticos (Da Matta, 1984). Sabe-se que a maioria dos imigrantes que vem dispostos a trabalhar em qualquer tipo de tarefa se destacam e muit= as vezes se tornam bem-sucedidos, vencendo as barreiras de exclusão impostas p= elo mercado (Ram, Jones, & Villares-Varela,2017= ).
Recomeçar a = vida, recomeçar a carreira, ou uma vontade de viver algo novo, está conectado à possibilidade de trazer para sua família para uma situação de segurança econômica, aliada à satisfação profissional. Há os que citam “fazer dinheir= o”, ou seja, os que saíram do Brasil com o objetivo de trabalhar, criar fundo de reserva financeira e retornar ao Brasil com uma condição financeira melhor.= Mas com o passar do tempo, decidiram por estabelecer sua vida nos EUA e afirmam= não ter mais a pretensão de retornar ao país de origem. Como exemplo apresenta-= se a declaração de ENT12 “Eu tomei a decisão, né? Quando eu sofri esse assalto, = né? E aí foi a partir dali que eu telefonei para eles(amigos) e tomei a decisão= ”.
Há indivíduo= s que foram transferidos do Brasil, que trabalhavam em empresas de grande porte e= que receberam uma promoção para crescer e se desenvolver em outros cargos. A pa= rtir disso, fizeram a mudança e com o passar do tempo, tiveram oportunidade de a= brir o seu próprio negócio. ”Quando eu vim aqui, eu v= im transferida do banco, né?”(ENT4).
Obter uma bo= lsa de estudos também é uma possibilidade citada aos que ingressam nos EUA como at= leta (ou possuem alguma habilidade especial). ”Tive oportunidade de treinar muito um esporte para ganhar bolsa nos Estados Unid= os, então escolhi o tênis”(ENT02).
Já as questõ= es pessoais e familiares para imigração incluíram problemas de saúde e doenças= de família, segurança e relacionamento. Para o processo migratório ser bem-sucedido, há necessidade de uma boa integração à sociedade local e adaptação ao país e suas normas (Kloosterman &a= mp; Rath, 2018). Portanto, foram analisadas questões relacionadas ao comportamento e atitudes as quais interferem diretamente no processo de socialização (Bourdieu, 1986). Para compreensão desta visão, fo= ram expostas características que definem o perfil do empreendedor brasileiro, s= endo elas extraídas de expressões utilizadas e repetidas por diferentes respondentes. Foi dividido o comportamento positivo, como: “estratégico, comunicativo e resiliente”, destacando-se as habilidades criativas e de persuasão (Bourdieu, 1986). Em contraponto, para fatores negativos, foram elencados “a não disponibilidade em aprender/ ouvir os mais experientes”, s= endo isto citado em conversas sequenciais, destacando a “falta de humildade”, “f= alta de postura profissional” e a “falta de planejamento”, como fatores que podem interferir no processo de adaptação, demonstrando impaciência e imediatismo deles. Há também as questões do sotaque brasileiro, que por vezes gera preconceito por parte de recrutadores que estão com oportunidades de empreg= o, mesmo que o candidato seja fluente no idioma exigido e houver a percepção do sotaque, este candidato poderá ser desclassificado, dificultando sua recolocação profissional (Collins & Low, 20= 10). Como exemplos de declarações, “Não deu muito certo no começo até que, me ofereceram um trabalho em engenharia e foi a melhor coisa para mim. Porque = eu tentei abrir a empresa de consultoria, mas não tinha tanto no know-how”(ENT02). ”Então você ve= m para um país você tem que respeitar a cultura e a forma que funciona o sistema. = Não ir contra o sistema. Aqui você tem que ir a favor do sistema e se adaptar ao sistema. E, infelizmente, não sei se é cultural que é isso, mas assim, o brasileiro ainda quer dar um jeitinho”(ENT04).
Para traçar =
a visão
dos entrevistados, em relação ao comportamento do empreendedor brasileiro,
foram identificadas algumas características positivas que se destacam nos
empreendedores brasileiros, que podem ser diferenciais para a sociedade
americana, especialmente aos negócios locais, sendo como exemplos a
criatividade, comunicação, flexibilidade. ”A mai=
oria
do brasileiro é um pouquinho mais articulado para, não gosta de ficar atrás=
e
ver o que vai acontecer ele vai lá e faz acontecer”(ENT02). ”O
brasileiro é muito criativo é muito bom de cabeça. Eu acho o brasileiro
Tão importan= te quanto explorar fatores que podem facilitar a adaptação é compreender quais fatores podem prejudicá-la. Como dito anteriormente fatores como humildade = e a capacidade de ouvir e aprender com a experiência de quem já está inserido na região são itens que se repetem ao longo de algumas entrevistas, bem como preguiça e falta de paciência, falta de postura profissional (Da Matta, 198= 4), o que se relaciona diretamente com a confiança. “Eu acho que é quase que a mesma coisa que você estando aí no Brasil quando você olha para cada uma pe= ssoa e a pessoa tem cara de malandro é outra não. Porque o c= ara que quer trabalhar ele pega pá e fala assim onde que eu vou cavar. O que não quer ficar esperando e olhando o Facebook no celular”(<= /span>ENT01). “E tem muita gente e que acha que pode tudo. O jeitinho brasileiro aqui é <= span class=3DGramE>terrível”(ENT12).
Ademais outr= os comportamentos negativos estão ligados à falta de planejamento e de visão do futuro, sendo enquadrado por alguns entrevistados como imediatista e impaci= ente (Da Matta, 1984). Não há visão de médio/longo prazo, planejamentos e estratégias que possam contribuir para o desenvolvimento consolidado e organizado. “O empreendedor brasileiro chega aqui com a cultura do Brasil, = ele acha que vai ganhar dinheiro no primeiro mês... Fecharam, porque não aguent= am, eles não querem mudar”(ENT06). “E não é bom de paciência. Ele quer o resultado pra amanhã e não= tem a capacidade de enxergar muito distante. Isso são grandes inimigos. Não é bom de planej= amento”(ENT11).
A falta de h= umildade representada por expressões como, não querer ouvir ou não quer aprender, são comuns nas percepções negativas. Este ponto faz com que alguns empreendedor= es queiram contratar trabalhadores da América Central em detrimento de brasile= iros. Pessoas mais experientes se colocam a disposição em ajudar, para que este processo seja leve e flexível, porém os brasileiros determinam suas regras e traçam caminhos que podem prejudicar sua própria adaptação. Como exemplos de declarações, “E brasileiro não. Quer chegar aqui e tipo: “não, eu já sei tu= do”. Não tem a humildade de falar assim: “não, eu não sei como funciona isso. En= tão eu vou lá pedir ajudar”, entendeu? Mas, eu acho que isso é cultural mesmo. = É cultural”(ENT04). “E tem muita gente e que acha que po= de tudo. O jeitinho brasileiro aqui é terrível”(ENT= 12).
6.3.2 Nível meso – o planejamento,=
as
redes de negócios, a divulgação e a captação de clientes
Em pequenos negócios, tipicamente os empreendedores relatam sua falta de planejamento, a qual é citada em diferentes contextos das entrevistas. Ela passa pela falta= do conhecimento de questões culturais do país de acolhimento, bem como o planejamento financeiro, que em muitas ocasiões impacta no fluxo de caixa d= os negócios, tornando a manutenção dos negócios desafiadora. Como exemplo, “[O brasileiro] não é bom de paciência. Ele quer o resultado pra amanhã e não tem a capacidade de enxergar muito distante. Isso são grandes inimigos. [Ele] não é bom de planejamento”(ENT11= ).
Nesse sentid= o, como proposto por Dheer (2018), deve-se entender a interseccionalidade das estruturas de oportunidade que emergem no ambiente norte americano, dos recursos (quer seja de capital humano, social ou econômico) dos empresários migrantes, e do contexto sociocultural e institucional mais amplo dos Estados Unidos, o que vai impactar diretamente= em suas estratégias de negócios.
Dado que a comunicação é um dos fatores cruciais realização de transações comerciais, e que a dificuldade com o idioma é um dos itens de maior repetição nas entrevistas (Collins & Low, 2010), muitos c= hegam no país com vistas a aprender o idioma com a prática do trabalho. No entant= o, diferentemente de contextos europeus, onde há programas governamentais para ensino da língua local e melhoria da assilação cultural, nos EUA o aprendizdo do idioma é por = conta e esforço de cada um. Dessa forma, cria-se o bloqueio em oportunidades de trabalho e de integração. Em reuniões no qual dois dos pesquisadores participaram, apesar de algumas empreendedoras afirmarem que tinha inglês fluente, notou-se um nível intermediário de proficiência. Devido a essa limitação linguística, a rede de relacionamentos acaba se configurando dent= ro da comunidade brasileira, onde os respondentes relatam que diante de situaç= ões de desespero, o brasileiro passa a aceitar qualquer tipo de trabalho. Muitos relataram ter iniciado seu trabalho com faxina de casas (mulheres) e como servente de obras (homens). “Emprego tem, tem emprego de restaurante, tem emprego de cozinha, tem emprego de limpeza de madrugada, tem só o que o pes= soal quer escolher”(ENT07).
Ainda no que= sito do networking dentro da configuração das redes de negócios e clientes, emergem situações de trapaças e de má-fé foram citadas. Este ponto da desconfiança mútua entre brasileiros foi percebido em outros contextos de migração brasileira, por exemplo, no trabalho de Casado, Falcão e Cruz (2022). “Eu decidi comprar a floricultura só que a gente foi meio enganado [...] eu est= ava com quase falida. Caramba! Mas você comprou de um brasileiro, não? Não, de = americano”(ENT11).
Não diferent= e do que foi identificado entre brasileiros em diversos países (Cruz et al, 2020) fo= ram registrados diversos relatos de condutas questionáveis entre os membros da comunidade e os empresários. As histórias vão desde uma denúncia anônima, i= nfundada, passando por empresários que não gostam de atender à comunidade brasileira = ou que não querem contratar funcionários brasileiros, terminando por pessoas q= ue afirmam categoricamente que a escolha da cidade onde moram teve como princi= pal critério “ficar longe dos brasileiros”. Esta é uma realidade difícil de ouv= ir. Além do mais, os textos que destacam a importância da força da comunidade (= por exemplo, Portes & Zhou, 1992) insistem que deve haver um senso de confi= ança entre os membros desta comunidade. Não cabe, neste momento, estender anális= es acerca dos possíveis motivos que levam a identificação deste fenômeno entre= os brasileiros, mas o fato que pode ser evidenciado é a perda de oportunidade = de negócios e perda de empregabilidade.
Ainda se obs= ervou que a criação de negócios em terras norte-americanas demanda a superação de= uma série de desafios, a exemplo: “É uma situação única; Eu repliquei aqui minha carreira do Brasil e graças a Deus, tudo deu certo”(ENT10). A verdade eu comecei a minha companhia com zero centavo= s”(ENT18).
Os entrevist= ados têm uma atuação em diversos ramos de negócios, tais como corretagem imobiliária= e de seguros, dentro de consultoria financeira, advocacia, veículos de mídias (como revistas); loja de veículos e floricultura. Há também os que se dedic= am a área de construção (reforma e manutenção), saúde e estética, e alimentação.=
Já no tocant= e às estratégias de divulgação dos negócios, e à identificação ou criação de oportunidades de negócios (Aldrich & Waldinger, 1990; Kloosterman, 2010), os respondentes afirm= am, por exemplo, que “eu nunca fiz um trabalho de marketing nisso, eu realmente nunca precisei porque são pessoas que trabalham comigo 25, 30 anos” (ENT04). Este é apenas um exemplo, mas o fato é que neste grupo de micro e pequenos empresários, a propaganda boca-a-boca funciona melhor do que qualquer outra. Principalmente nos bairros com um menor número de brasileiros, as famílias acabam se conhecendo, trocando experiências e indicando os serviços alheios. Inclusive há empresas que trabalham somente com a indicação dos clientes, n= ão aceitando novos trabalhos de pessoas desconhecidas. Neste caso, é necessário ressaltar que o que os diferencia dos demais negócios é que este processo de indicação é algo orgânico, partindo diretamente e exclusivamente da experiê= ncia e satisfação dos clientes. Podemos citar: “A gente faz a conexão de pessoas= que estão chegando, pessoas que moram aqui, indicação que realmente é pra cresc= er, é pra comunidade ficar mais forte”(ENT08). “O meu público é americano. Comprei uma floricultura que já existia clientes”(ENT11).
Há também as indicações que são estimuladas estrategicamente pelas empresas a fim de converter um número maior de pessoas. Essas estratégias são elaboradas para= que os amigos de seus clientes possam ser convertidos, a partir do relato de uma experiência positiva, diretamente influenciada pelas redes de negócios e capital social (Bourdieu, 1986). Esse processo de indicação acontece por ser algo estimulado através de algum tipo de benefício. As estratégias acontecem por meio de fo= tos, divulgação de descontos, exposições de produtos e serviços via rede social. Notam-se em alguns perfis de empreendedores, serviços globalizados: “Eu ate= ndo pessoas no mundo todo do Brasil, na Europa, na Ásia, aqui nos Estados Unido= s (...) tudo feito online ou através de vídeo, grupos de WhatsApp e de marketing”(ENT09). “As lives que eu tenho, eu tenho um= ponto chave. Principalmente porque eu tenho além do meu escritório de contabilida= de eu tenho um negócio digital”(ENT14).
O foco na co= munidade brasileira como público-alvo, devido à sua robustez, sobretudo nas regiões = da Florida (e de outros estados onde há concentração de brasileiros), acaba se= ndo um destaque. Esta questão está em linha com Ram, Jones e Villares-Varela (2017), ao levantarem a importância da análise da incorporação mista incluindo-se a “guetização do mercado”.
Algumas empr= esas de serviços têm como estratégias trabalhar em grupos de WhatsApp e com eventos online. O WhatsApp é visto integralmente como um aplicativo e ferramenta que facilita o processo de comunicação e a interação entre as pessoas, não send= o a fonte de divulgação principal. As indicações são a principal fonte de capta= ção de clientes, criando conexões e despertando o senso de pertencimento à comunidade, explorando o capital social (Bourdieu, 1986). E por ações, como= ter a audiência bem definida, grupos fechados que promovem a interação, resulta= dos por meio feedback dos integrantes, autenticidade e transparência, reforça a comunidade bem como a participação ativa da consultora no processo de satisfação do cliente e em estratégias que vão amenizar a dor. Nesse sentid= o, ao se analisar as estratégias citadas nas entrevistas, é possível ter a compreensão de cada item essencial para difundir as ideias em categorias: “= Nós somos a única instituição brasileira no mundo que realizou eventos culturais brasileiros e premiações em várias áreas em oito países= ”(ENT10).
Destaca-se especialmente a presença no meio digital, que apesar das empresas utilizare= m o WhatsApp como ferramenta de comunicação e ter as perspectivas de se relacio= nar com o cliente, as estratégias direcionadas ao marketing digital ainda são p= ouco utilizadas por esses pequenos negócios, sendo ignorada como fonte de conver= são de novos clientes.
6.3.3 Nível macro – ambiente insti=
tucional
e burocracias
O processo de adaptação não depende apenas de fatores oriundos do empreendedor, ele deve compreender cada detalhe, especialmente aqueles relacionados à legislação relativa à sua autorização para permanecer no país e dar continuidade a seus negócios, como afirmam em seus trabalhos Kloosterman e Rath (2018). Os imigrantes brasileiros mais a= ntigos da comunidade relatam: “Com o Google, é muito mais fácil [para descobrir so= bre a legislação], bem diferente de quando eu cheguei!”(ENT19).
A partir dos relatos, foram divididos quatro grupos, que abrangem: “burocracia”, “falta = de planejamento”, “interação social” e “fraudes”. Entende-se por burocracias a legislação e suas respectivas exigências, a necessidade de fazer o que é ce= rto e necessário ao país. Não há possibilidades de dar jeitinho para resolver as coisas, conforme apontado por Da Matta (1984), como um traço cultural do brasileiro. Autorizações legais, englobando vistos e greencard, são fatores= que precisam seguir legalizados, dentro das condições possíveis, para que tenha oportunidades de trabalho e facilidades para se integrar. Podemos citar: “As coisas são muito mais difíceis, você não tem um GreenC= ard, muitos lugares não vão te aceitar […] se você não tem o seu Security number que é o CPF”(ENT01)= .
Um tema reco= rrente entre brasileiros nos EUA, empresários ou não, é a busca pelo Green Card, qualquer visto de residência permanente ou, claro, a obtenção da cidadania. Entrevistas de triangulação com advogados de imigração mostraram que existem “ondas” de tipo de aplicação e “vistos da moda”. No início, muitos (não ape= nas brasileiros) buscavam se legalizar pelo casamento, isso incluía o casamento= de fachada, quando um cidadão recebia uma quantia para assinar um registro e fingir que era casado. Esta prática começou a chamar a atenção das autorida= des dificultando o sucesso de legalização através desta modalidade.
Nos anos 200= 0, o “visto da moda” foi o de expatriação de executivos. Muitas empresas brasile= iras abriam filiais – infelizmente algumas também de fachada – para poder expatr= iar os sócios através do visto L1. Da mesma forma que o anterior, o governo ame= ricano começou a avaliar mais cuidadosamente os pedidos, criando a necessidade de entrevistas e apresentação de mais documentos. Logo, a aplicação para este visto diminuiu. Posteriormente, e ainda segue atual, entrou “na moda” o vis= to EB5 (de investidor). Brasileiros mais abastados puderam ‘comprar’ seus Green Cards com U$500.000,00, mediante algumas exigências de criação de empregos locais. Atualmente existem dois “vistos da moda”, o de investidor Europeu e= de habilidades especiais. O primeiro cresceu pela quantidade de brasileiros com nacionalidade europeia. De fato, o visto correlato ao EB5 para um cidadão europeu (o visto E2) pode ser conseguido com um valor de aporte bem menor, cerca de U$50.000,00. Já o segundo visto está relacionado ao capital humano= (Bourdieu, 1986), ou seja, o visto de habilidades especiais como artísticas ou acadêmi= cas devidamente comprovadas, sendo que diversos escritórios que tratam da legalização de brasileiros se especializaram nesta modalidade, gerando um aumento de 23% destes vistos para brasileiros em 2023 (Castro, 2023).
7 Triangulação de dados
O processo de triangulação destacou padrões e temas críticos. Por exemplo, o uso do softw= are Atlas.ti permitiu uma anál= ise sistemática dos dados qualitativos, categorizando os fatores motivacionais = em dois grupos principais: Desenvolvimento Profissional e Questões Pessoais/Familiares. As motivações profissionais foram predominantes, com 16 dos 20 respondentes citando aspirações de crescimento na carreira e melhori= a da qualidade de vida como razões principais para a mudança. Nesse sentido, ao = se utilizar o Atlas.ti, foram identificados código= s e temas recorrentes nas transcrições das entrevistas, evidenciando que as motivações profissionais frequentemente se entrelaçavam com fatores pessoai= s. As motivações profissionais incluíam: (i) busca por empregos com melhores salários ou oportunidades profissionais aprimoradas, que nem sempre eram em níveis de gestão, mas proporcionavam uma melhor qualidade de vida; (ii) busca por estabilidade financeira e segurança mat= erial, alinhando-se ao "Sonho Americano" de possuir bens e alcançar segurança econômica. Já as motivações pessoais incluíram problemas de saúde, necessidades familiares ou um recomeço após traumas, refletindo o desejo de começar uma nova vida em um ambiente seguro. Esses dados também estão prese= ntes nas respostas da survey (fatores motivacionais)= .
A coleta dos folhetos e anúncios, juntamente com as entrevistas do corpo consular e dos gerentes do Banco do Brasil permitiu uma visão mais abrangente da comunidade brasileira e de um panorama de seus negócios.
Já no tocant= e aos fatores socioculturais e estruturais adicionais, o Atl= as.ti também ajudou a identificar fatores signific= ativos que impactam a criação de negócios e a integração nos EUA. Esses fatores incluíram barreiras linguísticas, desafios legais e dinâmicas internas da comunidade. A análise de dados revelou tanto fatores facilitadores, como adaptabilidade e resiliência, quanto limitantes, como a falta de planejamen= to e de humildade profissional, que impactam a sustentabilidade dos negócios e a integração social. Dinâmicas de gênero e estruturas de exclusão também emergiram, com alguns empreendedores operando em um "gueto de mercado," focando exclusivamente na comunidade brasileira, um fenômeno alinhado à teoria da incorporação mista. Isto também é refletido pelo perfil sociodemográfico dos respondentes da survey.
A triangulaç= ão metodológica não apenas validou os achados do estudo, mas também proporcion= ou uma compreensão multidimensional das experiências empreendedoras dos imigra= ntes brasileiros nos EUA, permitindo insights abrangentes sobre a interação entre fatores pessoais e profissionais em suas jornadas de migração e adaptação.<= /span>
8 CONCLUSÃO
Lembrando qu= e o presente trabalho tinha como objetivo o de identificar o perfil sociodemográfico dos imigrantes brasileiros, e mais especificamente, dos que realizam atividades empreendedoras de PMEs nos = EUA, foram analisados diversos aspectos da comunidade brasileira nos EUA e de se= us negócios.
Dentre os 652 participantes da survey, destaca-se uma feminiz= ação do fluxo migratório (com 64% do público entrevistado do público feminino), = em linha com o trabalho de Oliveira Assis (2014), e uma faixa etária predominantemente entre 25 e 54 anos (82% na faixa economicamente ativa). A comunidade também é composta em maioria (82,3%) por pessoas que já possuíam ensino superior concluído no Brasil antes de realizar a sua migração. As ár= eas profissionais mais relatadas incluem Negócios, Administração e Direito, representando 41,15% do total, seguidas por Engenharia, Produção e Construç= ão, com 13,59%. Cerca de 30% dessas pessoas se motivaram a mudar devido à falta= de oportunidades no Brasil e em busca de melhores perspectivas de trabalho. As principais barreiras enfrentadas incluem questões relacionadas ao idioma e burocracia. Das pessoas entrevistadas, 29% residem nos EUA há mais de 10 an= os, 25,2% entre 5 e 9 anos, 32,4% entre 1 e 4 anos, e apenas 13% estão no país = há menos de um ano.
Já relativo = ao perfil dos empreendedores, as informações extraídas das entrevistas e da observação de campo evidenciam que uma das principais motivações identifica= das para empreender foi a necessidade. Os entrevistados atuam em diversos setor= es, como corretagem imobiliária e de seguros, consultoria financeira, advocacia, veículos de mídia (como revistas), lojas de veículos e floricultura. Há tam= bém aqueles dedicados às áreas de construção (reforma e manutenção), saúde e estética, e alimentação.
Ao se utiliz= ar o framework de análise da incorporação mista (Kloosterma= n & Rath, 2018), divide-se os principais acha= dos nos níveis micro, meso e macro.
No nível de = análise micro, foram evidenciados os motivos que impulsionaram a migração para os E= UA ligados ao desenvolvimento profissional e às questões pessoais/familiares, incluindo a busca por qualidade de vida, relacionada em um sentido mais amp= lo à segurança material e financeira, a oportunidade de se realizar profissionalmente, de adquirir bens materiais como um imóvel, veículos e be= ns de consumo. Foi também relatada em alguns casos, a exclusão nos processos do mercado de trabalho por problemas na validação de diplomas ou de proficiência do idioma, podendo ser gerada uma guetização= do mercado (Ram, Jones, & Villares-Varela (201= 7), ou seja, um foco no público-alvo da comunidade brasileira. Além disso, os brasileiros frequentemente possuem um capital humano vinculado tanto às habilidades técnicas quanto às soft skills (Bourdieu, 1986), como flexibili= dade e a capacidade de se destacar em ambientes de trabalho caóticos (Da Matta, 1984). Para que o processo migratório seja bem-sucedido, se faz necessário = uma boa integração à sociedade local e adaptação ao país e suas normas (Kloosterman, 2010; Kloosterman & Rath, 2018). Portanto, foram analisadas questões relacionadas ao comportamento e atitudes que impactam diretamente o processo de socialização (Bourdieu, 1986). As entrevistas revelaram percepç= ões diversas sobre o comportamento dos brasileiros em relação aos novos imigran= tes, destacando tanto aspectos negativos (como preguiça e falta de comprometimen= to) quanto aspectos positivos (como criatividade, habilidades de comunicação e relacionamento interpessoal).
Já no nível = de análise meso, os empreendedores de pequenos neg= ócios, frequentemente relatam a falta de planejamento, o que pode incluir tambpem a falta de conhecimento sobre questões cultur= ais do país de acolhimento e o planejamento financeiro, que muitas vezes afeta o f= luxo de caixa e torna a manutenção dos negócios desafiadora. Nesse sentido, como propõe Dheer (2018), é essencial entender a interseccionalidade das estruturas de oportunidade que emergem no ambiente norte-americano, dos recursos (seja capital humano, social ou econômico) dos empresários migrantes, e do contexto sociocultural e institucional mais amp= lo dos Estados Unidos, o que impacta diretamente suas estratégias de negócios.=
Ainda no nív= el meso, dado que a comunicação é crucial para a realiza= ção de transações comerciais e que a dificuldade com o idioma é um dos problemas m= ais mencionados nas entrevistas (Collins & Low, 2010), muitos chegam ao país com a intenção de aprender o idioma através da prática no trabalho. Isso, no entanto, pode criar barreiras para oportunida= des de trabalho e integração. Foi relatada também a ocorrência do fenômeno da desconfiança mútua entre brasileiros (e até sabotagem), observada em outros contextos de migração brasileira, como no trabalho de Casado, Falcão e Cruz (2022). Os entrevistados também relatam que a principal fonte de captação de clientes é por meio das conexões e do despertar do senso de pertencimento à comunidade, explorando o capital social (Bourdieu, 1986).
Por fim, no = nível de análise macro, deve-se compreender cada detalhe, especialmente aqueles relacionados à legislação sobre a autorização para permanecer no país e continuar seus negócios. Entre os desafios mencionados estão a "burocracia", a "falta de planejamento", a "intera= ção social" e as "fraudes". As possibilidades de dar um jeitinho para resolver as coisas, conforme apontado por Da Matta (1984) como um traço cultural do brasileiro, também são relevantes. Autorizações legais, incluin= do vistos e green cards, são fatores que precisam = estar devidamente legalizados.
Recomenda-se= para futuras investigações um aprofundamento nos processos empresariais, especialmente na inovação e no marketing digital, bem como o desenvolviment= o do empreendedorismo digital em um contexto de larga escala. Além disso, sugere= -se explorar as dimensões do radar de inovação, organização e controle para aumentar as possibilidades de faturamento e visibilidade do negócio.=
As sugestões= de trabalhos futuros também envolvem uma análise mais aprimorada incluindo uma ampliação da amostra para garantir maior representatividade dos resultados obtidos.
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