Investigation on temperature deviations in vaccine distribution:
analysis within a pharmaceutical industry
|
Samir Bernardino Castro |
=
Bacharel em Administração. Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) – Brasil. samir.bernardino@uol.com.br. |
|
André Luiz Mendes Athayde |
Doutor
em Administração. Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – Brasil.
andreluizathayde@ufmg.br. |
RESUMO
O obje= tivo deste estudo foi investigar o monitoramento de temperatura adotado na distribuição de vacinas em uma indústria farmacêutica em Minas Gerais e as possíveis causas de excursões de temperatura durante o transporte. Adotou-se uma abordagem multimétodo, combinando métodos qualitativos e quantitativos. Como método qualitativo, realizaram-se entrevistas semiestruturadas em profundidade com trabalhadores responsáveis pelos processos de armazenagem e distribuição das vacinas na fábrica sob análise, incluindo gestores e analistas. Como estratégia quantitativa, levantaram-se dados da indústria concernente a todos os transportes realizados no intervalo de um ano, a fim= de explorar percentuais de desvios de temperatura e de outras variáveis. O est= udo permitiu levantar reflexões que podem servir como inputs para ajustes operacionais e estratégicos pelos gestores desta empresa e de outras organizações que também trabalham com operações de distribuição de produtos sensíveis à temperatura, farmacêuticos ou não.
Palavras-chave: gestão;
monitoramento; medicamentos; produtos termolábeis; cadeia fria.
ABSTRACT
The aim of this study was to=
analyze
the temperature monitoring practices adopted in vaccine distribution within=
a
pharmaceutical industry in Minas Gerais, as well as investigate potential
causes of temperature excursions during transport. Employing a multi-method
approach, both qualitative and quantitative methods were utilized. Qualitat=
ively,
in-depth semi-structured interviews were conducted with personnel responsib=
le
for vaccine storage and distribution processes, including managers and
analysts. Quantitatively, industry data on all transports conducted within a year was gathered=
to
explore correlations between temperature deviations and other variables. The
study offers insights that can inform operational and strategic adjustments=
for
managers within this company and other organizations engaged in distributing
temperature-sensitive products, whether pharmaceutical or otherwise.
Keywords: management; monitoring; medicines; thermolabile
products; cold chain.
Recebido em 02/01/2024. Aprovado em 05/03/2= 024. Avaliado pelo sistema double blind = peer review. Publicado conforme normas da ABNT.
https://doi.org/10.22279/navus.v14.1834<=
/span>
1 INTRODUÇÃO
A atividade = de distribuição de produtos é de interesse público, pois é responsável por abastecer o mercado e, ainda, manter as suas características e qualidade at= é o consumidor final (Carvalho Junior; Macedo, 2012). Segundo a Organização Mun= dial da Saúde (OMS, 2020), 25% das vacinas no mundo chegam ao destino degradadas= por falhas na armazenagem ou transporte, e 50% sem eficácia por problemas de temperatura e tempo de distribuição até os locais de vacinação.
O processo de distribuição de produtos farmacêuticos engloba a movimentação de vacinas, s= endo a distribuição qualquer atividade de posse, abastecimento, armazenamento e expedição (Mercado Comum do Sul, 2002). Conforme a Health Products Regulato= ry Authority (HPRA, 2011), agência reguladora irlandesa de saúde, quando expos= tos por um breve período a condições de temperatura desapropriadas, os medicame= ntos termolábeis (sensíveis a mudanças de temperatura), dentre eles as vacinas, podem sofrer alterações irreversíveis, levando à perda da sua eficácia imunológica. Dessa forma, é necessário oferecer as condições adequadas de armazenamento e transporte a esses produtos durante toda a chamada cadeia f= ria, que trata-se de uma série de operações responsáveis por manter a temperatur= a de medicamentos termolábeis entre 2 e 8 °C durante o processo de armazenamento= e distribuição (Silva, 2020; Brasil, 2019).
A cadeia fri= a também abrange o armazenamento e o transporte das substâncias ativas utilizadas na fabricação dos medicamentos termolábeis (Taylor, 2001). Em tal cadeia, o transporte de vacinas configura uma prática de risco para a qualidade do imunobiológico (World Health Organization, 2006). A título de exemplo, estu= dos prévios já avaliaram a eficácia da cadeia fria, identificando que o transpo= rte das vacinas representou 46% das falhas (Turner; Laws; Roberts, 2011).
Esta pesquisa norteou-se pelos seguintes questionamentos: Como é realizado o monitorament= o de temperatura na distribuição de vacinas em uma indústria farmacêutica? Exist= em casos de excursões de temperatura? Caso positivo, quais fatores podem contribuir para esses desvios? Para responder a essas perguntas, estabelece= u-se como objetivo geral investigar o monitoramento de temperatura adotado na distribuição de vacinas em uma indústria farmacêutica em Minas Gerais e as possíveis causas de excursões de temperatura caso identificadas. Subsidiand= o o alcance desse objetivo, estabeleceram-se os seguintes objetivos específicos: levantar as percepções de trabalhadores do Setor de Expedição do Almoxarifa= do e do Setor de Transporte acerca do processo de monitoramento de temperatura na distribuição de vacinas e verificar, em um horizonte de um ano, a existênci= a de desvios de temperatura, explorando a existência de associações entre a ocorrência de excursões de temperatura e outras variáveis, tais como a data= do transporte, o tipo de vacina, a plataforma de carregamento, a empresa transportadora contratada responsável pelo carregamento e o momento da excu= rsão de temperatura.
Este estudo é composto por cinco seções. Além desta seção introdutória, em que o tema, o problema e os objetivos foram abordados, será apresentada, a seguir, a fundamentação teórica da pesquisa. Posteriormente, apresentar-se-ão os procedimentos metodológicos adotados no estudo. Por fim, os resultados empíricos serão apresentados e discutidos à luz da teoria e de estudos prév= ios relativos à temática, e considerações finais serão tecidas com a sugestão de estudos ulteriores.
2 REVISÃO DE LI= TERATURA
A cadeia fria envolve processos logísticos q=
ue
garantem a regulação da temperatura de produtos farmacêuticos termolábeis e
abrange desde a sua fabricação até a sua administração em pacientes (Taylor,
2001). O gerenciamento da cadeia fria de produtos farmacêuticos termolábeis
demanda o monitoramento da temperatura em todas as etapas da distribuição a=
fim
de manter a qualidade do medicamento até a sua administração em usuários
finais, além de outros fatores recomendados por fabricantes e agências regu=
lamentadoras.
Por isso, é necessário implementar controles que gerem registros, fluxo e
armazenamento eficientes (Bogataj e=
t al.,
2015).
O transporte de medicamentos termolábeis pre=
cisa
garantir que o produto chegue ao consumidor final em condições ideais sem
alterar a sua formulação, alcançando, assim, os efeitos esperados (Brasil,
2017). As boas práticas de transporte fazem parte da garantia de qualidade
(Godoy, 2012). Para tanto, os transportadores devem possuir infraestrutura
física adequada, pessoal devidamente treinado e toda documentação sanitária
exigida pelos órgãos reguladores (Carvalho Junior; Macedo, 2012).
De acordo com a Portaria nº 1.052 de 1998 (B=
rasil,
1998), para realizar as atividades de transporte de medicamentos, as empres=
as
devem atender as Diretrizes de Boas Práticas de Transporte do Ministério da
Saúde, como, por exemplo, comprovar que o veículo utilizado é adequado para=
o
transporte de medicamentos e fornecer evidências da assistência profissional
farmacêutica. É necessário possuir Autorização de Funcionamento (AFE),
Autorização Especial (AE) para o transporte de substâncias controladas e Li=
cença
Sanitária emitida pelas autoridades sanitárias estaduais e/ou locais.
Segundo Carvalho Junior e Macedo (2012), a f=
im de
que um transportador se qualifique e cumpra as boas práticas de transporte =
de
produtos farmacêuticos termolábeis, ele deve respeitar as recomendações do
fabricante, como temperatura e empilhamento, pois o fabricante conhece a
estabilidade do produto contra possíveis complicações durante o transporte.=
Os
veículos e equipamentos utilizados no transporte de medicamentos devem estar
aptos para esse fim e deve ser evitada a exposição dos produtos a condições=
que
possam afetar a sua estabilidade e integridade. Os veículos devem ser fácei=
s de
limpar, livres de insetos e roedores e desinfetados regularmente (World Hea=
lth
Organization, 2011).
De acordo com o Conselho Regional de Farmáci=
a de
Goiás (2009), o transporte não deve expor os produtos ao calor excessivo (a=
cima
de 30ºC), ao sol ou chuva, com gelo seco, dentre outras recomendações. As
temperaturas durante o transporte de medicamentos termolábeis devem ser
monitoradas e registradas, tais registros devem ser mantidos durante a vida
útil do produto e os equipamentos de monitoramento devem ser calibrados
regularmente (World Health Organization, 2010). De acordo com a European
Commission (2013), o transporte desses produtos deve ser feito com embalagem
térmica ou através de veículos refrigerados para garantir as condições idea=
is
de transporte.
Alguns estudos já investigaram questões simi=
lares
ao problema deste estudo. A título de exemplo, Di Maio e Silva (2014)
examinaram os procedimentos de distribuição a serem seguidos para preservar=
a
integridade dos produtos termolábeis desde a fase de armazenamento até a
entrega ao cliente final. Os
resultados evidenciaram que a adoção de tecnologias por empresas especializ=
adas
na gestão da cadeia fria pode mitigar os desafios relacionados ao armazenam=
ento
e à distribuição, prevenindo problemas decorrentes de variações de temperat=
ura
e assegurando a qualidade do produto. Os autores também salientaram que por=
tos
e aeroportos estão se adaptando cada vez mais para lidar com as especificid=
ades
de produtos da cadeia fria de medicamentos.
Cardoso e Milão (2016) desenvolveram um estu=
do
para tratar das melhores práticas adotadas no transporte de medicamentos
termolábeis e fornecer evidências acerca da estabilidade desses medicamentos
após excursões de temperatura, isto é, após a “quebra” da cadeia fria. Os
autores salientaram que as organizações envolvidas na distribuição de
medicamentos termolábeis precisam aderir às boas práticas de armazenamento e
transporte desses medicamentos, tornando-se imperativo o aprimoramento desse
processo, uma vez que a inadequada preservação da temperatura desses produt=
os
representa a principal ameaça à sua qualidade.
Silva (2020), por sua vez, realizou uma pesq=
uisa
cujo objetivo foi examinar o panorama da cadeia fria de medicamentos e aval=
iar
os elementos empregados na conservação e monitoramento de temperatura, bem =
como
a competência dos profissionais envolvidos no processo. A pesquisa envolveu=
a
coleta de dados de 1.793 farmacêuticos por meio da aplicação de questionári=
os.
Constatou-se deficiência nos profissionais abordados quanto ao treinamento
específico para lidar com medicamentos termolábeis. Menos de um quarto dos
participantes da pesquisa afirmaram sentir-se capazes de analisar relatório=
s de
validação. Ademais, quase metade dos respondentes relatou armazenamento
inadequado de medicamentos próximo à porta de geladeiras e congeladores,
enquanto 55% desconheciam a durabilidade térmica das embalagens.
As dificuldades existentes nas operações da =
cadeia
fria e as potenciais soluções foram abordadas por Vital e Braga (2020) por =
meio
de uma pesquisa bibliográfica. Tais autores salientaram a relevância das bo=
as
práticas de armazenamento e distribuição de medicamentos termolábeis a fim =
de
garantir aos clientes a eficácia das características dos produtos
farmacopeicos.
Souza et al.
(2023), por sua vez, desenvolveram estudo cujo propósito foi descrever as
práticas ideais na logística de medicamentos, com foco particular nas vacin=
as.
A pesquisa salientou que as vacinas, por serem produtos sensíveis a antígen=
os,
sofrem deterioração e perda de eficácia quando expostas a temperaturas fora=
dos
limites especificados. Por essa razão, o armazenamento e o transporte de
vacinas constituem uma preocupação relevante para várias organizações nacio=
nais
e internacionais. Ficou evidente que a logística de transporte ainda carece=
de
aprimoramento, tanto no âmbito tecnológico quanto operacional. Isso requer =
uma
capacitação contínua dos profissionais envolvidos, bem como a participação =
de
farmacêuticos especializados, ações que devem ser implementadas pelas empre=
sas
que oferecem esse serviço especializado.
Spagnol et
al. (2018) destacam que, em uma economia marcada por forte concorrência=
, os
setores de produção e logística devem ser ágeis, flexíveis e aptos a enfren=
tar
desafios típicos de produtos perecíveis, como carnes, laticínios e produtos
farmacêuticos (vacinas, biomedicamentos e hemoderivados). As condições de
conservação dos produtos variam inevitavelmente ao longo das etapas da cade=
ia
fria, podendo afetar a vida útil dos produtos perecíveis. Tanto no
armazenamento quanto no transporte refrigerado, as temperaturas flutuam em
relação ao ideal, sendo que a maioria dos sistemas ainda utiliza monitorame=
nto
de temperatura por meio de poucos sensores.
Ainda são poucas as tecnologias de monitoram=
ento
de temperatura empregadas para prevenir perdas de qualidade e garantir a
segurança alimentar e farmacêutica. Desafios como esse têm incentivado grup=
os
de pesquisa em países desenvolvidos a aprimorar a aplicação de redes de
sensores sem fio (RSSF) e a identificação por radiofrequência (RFID), que p=
odem
detectar, em tempo real, as condições dos produtos perecíveis durante as
operações logísticas. Isso não apenas ajuda a evitar perdas e aprimorar a
qualidade desses produtos, mas também a reduzir os custos envolvidos (Spagn=
ol et al., 2018).
Nunes (2019), por sua vez, realizou uma pesq=
uisa
em uma indústria farmacêutica em Goiás com o propósito de examinar o proces=
so
de armazenamento de produtos sensíveis à temperatura. Para tal, realizou
observações in loco e entrevist=
as com
trabalhadores responsáveis pelo processo de armazenagem. O estudo demonstrou
que, embora a empresa analisada esteja em conformidade com os requisitos
estabelecidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), há
dificuldades na gestão do armazenamento, em especial relacionadas à compree=
nsão
que os trabalhadores têm das especificidades dos produtos sensíveis à
temperatura. Ademais, foi identificada a necessidade de maiores investiment=
os
na automação dos procedimentos concernentes ao controle de temperatura.
Braga (2020) desenvolveu um estudo sobre a
relevância da qualificação do transporte de medicamentos e os principais
desafios envolvidos no processo. O autor destacou que, a despeito dos
obstáculos típicos encontrados, é essencial que haja uma parceria eficiente
entre as empresas farmacêuticas e as transportadoras. Portanto, a seleção da
transportadora e do modo de transporte deve ser feita com critério rigoroso
para evitar possíveis alterações físico-químicas e microbiológicas que poss=
am
afetar a saúde dos usuários finais e, por consequência, a reputação da
indústria farmacêutica. Para prevenir tais situações, é crucial manter uma
supervisão eficaz, um compromisso com a melhoria contínua e uma expansão
constante das boas práticas de transporte.
Avaliações da cadeia de frio de vacinas real=
izadas
em diversas partes do mundo indicam que nem sempre é observada a manutenção=
dos
equipamentos na faixa de temperatura recomendada pela Organização Mundial da
Saúde (OMS). Acontece também que os funcionários dão prioridade à protecção=
das
vacinas contra os danos provocados pelo calor, expondo, assim, as vacinas a
temperaturas congelantes. Como resultado, o congelamento inadvertido de vac=
inas
é um problema largamente ignorado em todo o mundo. Em uma revisão sistemáti=
ca
recente, a comparação da ocorrência de temperaturas congelantes durante o
armazenamento e o transporte revelou ser um problema global que ocorre tant=
o em
ambientes ricos em recursos como em ambientes com recursos limitados (Falco=
n et al., 2020).
As vacinas têm provado o seu valor inestimáv=
el
para o mundo através, por exemplo, da erradicação da varíola, dos ganhos
alcançados rumo a um mundo livre da poliomielite e do controle de outras
doenças evitáveis
A vacinação tem sido aclamada como uma das m=
edidas
de saúde pública com melhor custo-benefício na história médica moderna. Para
que essa intervenção seja eficaz, as vacinas devem ser armazenadas e
transportadas dentro das faixas de temperatura recomendadas de 2°C a 8°C. Y=
auba
et al. (2018) sugerem o
desenvolvimento de mais estudos que avaliem a exposição da vacina a
temperaturas fora do intervalo recomendado durante o armazenamento e transp=
orte
dentro do sistema de cadeia de frio, em especial pelo seu impacto direto na
eficácia de programas públicos de imunização.
Expostos alguns estudos prévios relativos à
temática de controle de temperatura durante o transporte, apresentar-se-ão,=
a
seguir, os procedimentos metodológicos que foram adotados nesta pesquisa pa=
ra
alcance de seus objetivos.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
No que se refere à abordagem do problema, a
presente pesquisa caracterizou-se =
como
multimétodo, pois combinou métodos qualitativos e quantitativos,
proporcionando, assim, maior robustez à análise dos dados e ao cumprimento =
do
objetivo precípuo do estudo (Creswell, 2010). Para a abordagem qualitativa,
foram amostrados seis trabalhadores envolvidos diretamente com a distribuiç=
ão
de vacinas, com tempo médio de empresa superior a 15 anos, sendo dois
vinculados ao Setor de Transporte, três vinculados ao Setor de Expedição do
Almoxarifado e um vinculado a ambos. Foram escolhidos para serem entrevista=
dos
aqueles indivíduos considerados boas fontes de informação (Kauark; Manhães;
Medeiros, 2010) e que, portanto, apresentavam melhores condições de discorr=
er
detalhadamente acerca das possíveis causas de desvio de temperatura de vaci=
nas
durante a distribuição. Nas entrevistas, foi utilizado um roteiro
semiestruturado e, anteriormente à sua realização, os respondentes assinara=
m um
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), no qual foram expostos os
objetivos do estudo e garantido o anonimato dos participantes.
Foi empregada a Análise de Conteúdo para os =
dados
obtidos nas entrevistas realizadas. A Análise de Conteúdo foi realizada em =
três
etapas, de acordo com Bardin (2011): a) Pré-análise: etapa em que se fez a
leitura e organização da composição textual coletada que, neste caso, foram=
as
entrevistas transcritas; b) Exploração: etapa em que se executou a análise =
de
semelhanças e diferenças entre as respostas dos entrevistados, com foco
interpretativo; e c) Tratamento: etapa em que se realizou o entrecruzamento=
teórico-empírico,
ou seja, discutiram-se os resultados empíricos à luz da teoria sobre a temá=
tica
e à luz de estudos prévios.
O corpus textual composto pela transcrição d=
as
seis entrevistas, foi representado com o auxílio do software Iramuteq,
consideravelmente utilizado em estudos de Análise de Conteúdo para análise =
de
dados textuais estruturados e não estruturados de diferentes tamanhos. Foi
apresentada uma nuvem de palavras (word cloud) para representar os
termos mais frequentes nas falas dos entrevistados, e foi realizada a Análi=
se
de Similitude, técnica que evidencia a força de conexão entre as palavras m=
ais
frequentes nas entrevistas realizadas. A Análise de Similitude realizada no=
software
Iramuteq contribuiu com a sugestão de categorias a posteriori pa=
ra a
Análise de Conteúdo.
Para a abordagem quantitativa, foram coletad=
os
todos os dados relativos aos carregamentos de vacinas que ocorreram no ano =
de
2022, por ser o ano completo mais recente até o momento da realização da
pesquisa. Além disso, outro motivo da escolha de um horizonte de um ano int=
eiro
foi abarcar todas as estações do ano, haja vista que a temperatura externa =
dos
caminhões e a temperatura entre o percurso da câmara fria até o carregamento
nos caminhões poderiam ser causas de desvios de temperatura. Foram analisad=
os
dados provenientes de 128 transportes de vacinas entre a fábrica e suas
empresas clientes. Na análise quantitativa dos carregamentos de transporte,
foram descritas as frequências percentuais de desvios de temperatura e outr=
os
dados relacionados a motoristas, veículos utilizados, datas dos carregament=
os,
produtos transportados, etc.
Embora a indústria multinacional farmacêutica
tomada nesta pesquisa também atue no ramo de saúde humana, a unidade de aná=
lise
deste estudo foi uma de suas filiais, cuja atividade econômica principal é a
fabricação de medicamentos para uso veterinário. A companhia atua no ramo de
saúde animal desde 1940. A fábrica selecionada para análise se situa no est=
ado
de Minas Gerais e conta com cerca de 700 trabalhadores diretos e indiretos.=
Nessa
unidade, são fabricadas vacinas bacterianas e virais e medicamentos diversos
injetáveis para pecuária, principalmente para uso em ruminantes. O material
fabricado atende tanto o mercado nacional quanto o latino-americano. Cerca =
de
95% da produção fica no mercado pecuário brasileiro. O restante (5%) se div=
ide
entre Paraguai, Bolívia, Uruguai, Venezuela e Argentina.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Caracteriza= ção dos entrevistados
Quanto aos participantes da pesquisa, foram entrevistados 06 (seis) trabalhadores, a saber: um analista de logística responsável pela expedição de vacinas, o qu= al será referido doravante neste estudo como Entrevistado 1 (E1) para garantir= o seu anonimato; um inspetor de recebimento e expedição, responsável pela coordenação de embarques de vacinas, o qual será referido como Entrevistado= 2 (E2); um gerente de logística, responsável pelo almoxarifado, transporte e movimentação interna de materiais da fábrica, o qual será referido como Entrevistado 3 (E3); um analista de logística responsável pela programação = do transporte, o qual será referido como Entrevistado 4 (E4); e dois coordenad= ores de logística, sendo um deles responsável por coordenar a operação de transporte, o qual será referido como Entrevistado 5 (E5), e outro responsá= vel pelo almoxarifado, o qual será referido como Entrevistado 6 (E6). O Quadro 1 sumariza as informações dos participantes da pesquisa quanto ao seu setor de trabalho, gênero, cargo, idade e senioridade.
Quadro 1 –
Caracterização dos entrevistados
|
Participant=
es |
Setor de
trabalho |
Característ=
icas |
|
Entrevistado 1 (E1) |
Almoxarifado |
Homem; Analista de logística; 38 anos; há 14 anos na empresa. |
|
Entrevistado 2 (E2) |
Almoxarifado |
Homem; Inspetor de recebimento e expedição; 35 a=
nos;
há 07 anos na empresa. |
|
Entrevistado 3 (E3) |
Almoxarifado e Transporte |
Homem; Gerente de logística; 54 anos; há 15 anos na empresa. |
|
Entrevistado 4 (E4) |
Transporte |
Mulher; Analista de logística; 50 anos; há 25 anos na empresa. |
|
Entrevistado 5 (E5) |
Transporte |
Mulher; Coordenadora de transporte; 48 anos; há 18 anos na empresa. |
|
Entrevistado 6 (E6) |
Almoxarifado |
Homem; Coordenador de almoxarifado; 44 anos; há 21 anos na empresa. |
Fonte: Dados da pesquisa
4.2 Percepções = dos entrevistados acerca das possíveis causas de excursões de temperatura
Durante as entrevistas conduzidas com os trabalhadores da empresa, foi possível identificar dois pontos principais de convergência nas opiniões sobre as possíveis causas subjacentes aos desvios de temperatura na distribuição de vacinas: infraestrutura inadequada em algumas etapas da movimentação de materiais e a influência do clima.
Primeirament= e, quanto à infraestrutura, foi notável nas entrevistas a preocupação com a infraestrutura inadequada nas docas de carregamento, locais (aberturas) de comunicação entre o almoxarifado e o baú dos caminhões a serem carregados, = isto é, são espécies de portas onde caminhões encostam para receber ou descarreg= ar materiais, normalmente equipadas para nivelar a altura, deixando o processo mais seguro. Neste caso, trata-se do momento e local em que as vacinas são transferidas do Setor de Expedição do Almoxarifado para o interior dos caminhões para posterior transporte. O ponto em questão é que tanto o Setor= de Expedição quanto o interior dos caminhões são ambientes climatizados de aco= rdo com o intervalo ideal de temperatura de armazenamento e transporte das vaci= nas (2 a 8°C), todavia, durante a passagem da carga do Setor de Expedição do Almoxarifado para os veículos por meio das docas, há pequenos espaços não climatizados que, potencialmente, promovem oscilações de temperatura na car= ga.
Os entrevist= ados observaram que a falta de uma antecâmara climatizada em alguns dos locais de carregamento (docas) representa um desafio significativo em relação à manutenção da temperatura dentro intervalo adequado. Isso se torna particularmente problemático quando ocorrem transferências térmicas durante= o processo de carregamento, principalmente quando os medicamentos termolábeis= são transferidos para os caminhões de transporte. Andrade et al. (2018) relatam que a presença de antecâmaras climatizadas adjacentes às câmaras de refrigeração previne a dissipação de ar frio, resultando na diminuição no gasto de energia dos sistemas de resfriamento utilizados na produção. O Entrevistado 1, por exemplo, delineou essa questã= o ao comparar locais de carregamento na fábrica com e sem antecâmaras, evidencia= ndo como a transferência térmica é minimizada quando a estrutura adequada está disponível.
Hoje, no bloco E [...],
ele tem uma antecâmara que o caminhão consegue encostar o fundo do
baú e a transferência térmica de calor entre o baú do caminhão e a antecâma=
ra
não é tão perdida (E1).
O caminhão deveria entrar na antecâ=
mara, para lá
dentro a gente pegar e abrir a porta [...] uma porta só e fazer o carregame=
nto
tranquilo, do jeito que a temperatura não entra ar quente, e também o ar
frio não sai (E2).
Essa antecâmara, o caminhão entra praticamente dentro=
da
câmara [...] ele absorve a temperatura dentro da câmara e não a temperatura=
que
está lá fora.... de repente, se todos os locais de carregamento fossem
adequados da forma que é o Bloco E, por exemplo, pode ser que seria uma das
medidas a serem tomadas para livrar esse desvio de temperatura no momento do
carregamento e no momento da descarga (E4).
Acho que a principal melhoria era m=
exer
na estrutura das câmaras frias, colocar elas adequadamente. Se a gente tive=
sse
uma estrutura adequada onde o caminhão chegasse e acoplasse ali a porta den=
tro
da câmara fria
As causas estão atribuídas para o ato do carregamento=
em
que o local não apresenta uma doca específica para fazer a cobertura ali,
manter o clima, né, o ambiente nessa faixa de dois a oito graus celsius=
com
o caminhão ambientalizado, né, o caminhão antes de abrir a porta, a gente
certifica se ele está cumprindo de dois a oito graus celsius, mas a aber=
tura
da porta junto com a câmara fria, tem uma interface aí que entra em contato=
com
o ambiente externo e esse ambiente externo obviamente tem um diferencial de
temperatura com amplitude alta, e aí a gente entende que isso é um agravant=
e,
uma das causas-raiz está atribuída aí (E6).
Pela análise= da fala dos entrevistados, infere-se que nem todas as áreas de carregamento apresen= tam uma estrutura adequada como “no Bloco E”, tido pelos respondentes como mode= lo do que seria adequado para o carregamento das vacinas. Nos demais locais, os entrevistados consideram que a ausência de uma “antecâmara” expõe a carga à temperatura ambiente, o que pode provocar excursões de temperatura para for= a do intervalo recomendado. Ademais, de acordo com a fala do Entrevistado 5, 56%= dos carregamentos apresentam desvios de temperatura, o que sugere um problema representativo para a fábrica sob análise. O Entrevistado 2 corroborou essa preocupação, ressaltando que a abertura das portas dos veículos durante o carregamento permite a entrada de ar quente, afetando a temperatura interna. Essa convergência de opiniões sobre a influência crítica da infraestrutura inadequada nas docas de carregamento enfatiza a necessidade de investimento= s e melhorias nesse aspecto para garantir um transporte seguro e eficaz das vac= inas.
Então não tem jeito, os loggers<= /i> lá dentro, a temperatura se tiver no padrão, que é de 2 a 8 (graus celsius), que é o da vacina, ela [a temperatura] pode [...] quando abre a porta vai para quinze graus celsius e tanto [...] na minha opinião, se tivesse onde o caminhão entrasse e o ar não saí= sse, seria a temperatura ideal, para mim (E2).
Pela fala do entrevistado 2 acima, percebe-se que, no momento em que a carga entra em contato com a temperatura ambiente, na transição do Setor de Expedição do Almoxarifado para o interior do caminhão, a temperatura, que estava dentro = do limite ideal (2 a 8° C), atinge mais de 15°C, conforme identificado no dispositivo monitorador de temperatura (logger), apontando para uma excursão substancial de temperatura, possivelmente gerada pela infraestrutura inadequada das docas de carregamento.
Segundo, qua= nto à influência do clima quente da região onde a fábrica se localiza, os entrevistados apontaram que este pode ser um fator que contribui para os desvios de temperatura das vacinas. O Entrevistado 4, por exemplo, destacou como as oscilações de temperatura durante o carregamento são agravadas pelas altas temperaturas do ambiente externo. A região em que o transporte ocorre, notadamente quente, torna-se um desafio adicional para manter as vacinas de= ntro da faixa de temperatura adequada.
Eu creio que um dos fatores que = pode ter impacto é essa questão de temperatura da nossa cidade. O nosso clima é bastante quente [...], então, no decorrer do carregamento, as portas fi= cam abertas. Isso faz com que tenha uma troca de temperatura dentro do baú. Mesmo que ele chegue refrigerado na temperatura de dois a oito graus celsiu= s, no decorrer do carregamento, essa temperatura ela vai oscilar [...] (E4).
O Entrevista= do 1 também confirmou essa possível influência, salientando que o calor é um fat= or que afeta a manutenção das condições ideais de temperatura na distribuição = das vacinas. Essa convergência de perspectivas em relação ao clima quente como = um obstáculo para manter as temperaturas adequadas durante o carregamento e transporte enfatiza a importância de considerar o contexto climático local = ao planejar e executar operações de transporte de vacinas.
A temperatura é muito quente, né?!<= /span> A gente, às vezes, carrega o camin= hão à tarde [...] e é pico de temperatura nossa, né?! E tem hora que de manhã também que tá dez da manhã com temperatura de meio dia, meio-dia e meia, mu= ito quente (E1).
Pela análise= das falas dos Entrevistados 1 e 4 acima, fica claro que não basta que os caminh= ões cheguem já refrigerados adequadamente para o carregamento, pois o clima que= nte da cidade onde se localiza a fábrica aumenta a probabilidade de trocas de t= emperatura segundo os respondentes. Tal fato já foi observado em outros países de clima quente, como é o caso da Índia (Murhekar et al., 2013), Bolívia (Nelson, 2007) e Nigéria (Sarley et al., 2017), que buscam enfrentar desafios operacionais para a implementação da cadeia fria.
Por outro la= do, surgiram diversas perspectivas divergentes em relação às causas subjacentes= aos desvios de temperatura durante o processo de transporte de vacinas. A análi= se dessas perspectivas divergentes revelou opiniões distintas, em especial, so= bre a eficácia dos dispositivos monitoradores de temperatura (loggers ou thermokings<= /i>) e a influência dos horários de carregamento.
Alguns entre= vistados expressaram certa confiabilidade nos loggers, outros, por outro lado, demonstraram incertezas sobre a calibração e precis= ão desses dispositivos. O Entrevistado 4, por exemplo, levantou dúvidas sobre a confiabilidade dos loggers e co= mo eles podem influenciar a identificação dos desvios de temperatura. Essa incerteza em relação aos loggers sugere a necessidade de maior clareza e transparência em relação à tecnolog= ia de monitoramento utilizada, bem como possíveis aprimoramentos nessa área. O Entrevistado 3 ainda apontou problemas na manutenção desses sistemas como u= ma possível causa de desvios de temperatura.
Outra coisa que pode ter uma implicação são esses =
loggers,
uma vez que a gente não conhece verdadeiramente como que é feita a calibraç=
ão
deles. Então, se o logger tem uma calibração “x”, e=
le
fica no almoxarifado em uma temperatura “y” [...] ele leva uma queda antes =
de
ser colocado dentro do caminhão. Será se isso tem alguma implicação nesse <=
i>logger
não ter mais uma eficácia nessa medição?! [...] pode ser que sim, pode ser =
que
não [...] não tem nenhum estudo que comprove o contrário, entendeu?!
Então, assim, às vezes, eu fico meio que receosa (E4).
E o caminhão, a manutenção dos <= i>thermokings e a falta de distribuidor [...] distribuidor de frio dentro do caminhão (E3).
Pela análise= das falas dos Entrevistados 3 e 4 acima, percebe-se que não há, por parte deles, confiança nos dispositivos monitoradores de temperatura (loggers) nem nos dispositivos que promovem o resfriamento dos caminhões (thermokings), em esp= ecial pelo desconhecimento de como os dispositivos são calibrados e pelo desconhecimento da existência de estudos que comprovem a sua confiabilidade. Destarte, infere-se que, do ponto de vista dos clientes da empresa, tomar conhecimento de que trabalhadores da própria fábrica não se sentem seguros quanto ao monitoramento de temperatura dos produtos a serem comercializados= no mercado pode gerar, naturalmente, desconfiança na qualidade dos medicamento= s.
A divergênci= a de opiniões também se estendeu aos horários de carregamento. Enquanto o Entrevistado 4 enfatizou a possível influência do clima durante os horários mais quentes do dia, o Entrevistado 3, por exemplo, não considerou os horár= ios de carregamento como um fator significativo na ocorrência de desvios de tem= peratura.
O ideal é não carregar caminhão depois do meio dia. P=
or
quê?! Porque [...] depois do meio dia, o sol está mais
quente, então é uma causa a mais de ter esse desvio de temperatura (E4)=
.
Não [...] eu acho que não [...] hor= ário não muda muita coisa não... mudar pode até mudar se mexer, assim, de noite com o tempo frio, mas não muda, porque qualquer hora que você abre o veículo a temperatura de = fora é mais alta que de 2 a 8 graus celsius, então, horário, para mim, acho que = não muda não (E3).
Os horários = de carregamento na fábrica sob análise dependem de uma série de fatores, inclu= indo a disponibilidade de mercadoria para carregamento e a urgência de abastecim= ento do produto. É uma área que pode exigir análises mais detalhadas para determ= inar sua influência real nas excursões de temperatura.
4.3 Nível de conhecimento dos entrevistados sobre o procedimento de monitoramento de temperatura no transporte de vacinas
O conhecimen= to dos trabalhadores acerca do procedimento operacional padrão interno sobre o monitoramento da temperatura no transporte de vacinas desempenha um papel v= ital na adesão às práticas recomendadas, garantindo que os produtos sejam mantid= os nas condições ótimas (Carvalho Junior; Macedo, 2012).
Dentre os pr= incipais pontos tratados pelos entrevistados acerca do procedimento operacional padr= ão adotado na fábrica concernente ao monitoramento de temperatura, destacaram-= se a climatização do caminhão, a importância do posicionamento dos loggers, a relevância do monitoram= ento contínuo da temperatura e a responsabilidade do motorista.
As respostas refletiram uma considerável familiaridade com o procedimento por parte dos entrevistados. A maioria deles demonstrou entendimento detalhado do procedimento. O Entrevistado 1, por exemplo, descreveu, minuciosamente, as etapas do processo desde a climatização do caminhão até a avaliação de impa= cto em caso de desvio de temperatura durante o transporte. Por outro lado, o Entrevistado 3 exibiu um entendimento mais superficial, mencionando aspectos gerais acerca da importância da circulação de ar. Entretanto, é compreensív= el que o Entrevistado 3 tenha um nível de conhecimento técnico operacional men= os detalhado, visto que ele é um gestor e a aplicação e execução do procedimen= to não faz parte do seu dia a dia.
[...] a vacina nossa hoje é de 2 a 8. Ela tem que
estar abaixo de 8 para o início do carregamento. Outro ponto que a gente
pede também, sempre carregar no período da manhã, que é onde a temperatu=
ra
está mais branda... Outro ponto que a gente pede, a gente sempre pede
para deixar os loggers antes de carregar ambientado dentro da câmara
fria 24 horas antes do carregamento. Para quê?! Para você não te=
r a
condição de pegar o logger quente e botar no caminhão e já ligar, né=
?!
Os caminhões têm que ter a cortina de temperatura... É sempre ideal a ge=
nte
usar a antecâmara para fazer o carregamento, o logger de
posicionamento, são sempre dois loggers, um no meio do caminhão e=
um
atrás, sendo que é preenchido um checklist no meio do carregamento
[...] (E1).
Eu conheço esse procedimento, mas v=
ocê
quer saber a diferença, não é?! [...] a gente tem que climatizar o senso=
r e
o caminhão, fazer o transporte, o carregamento de maneira ágil, né?!
É salutar qu= e se garanta que todos os envolvidos na cadeia fria estejam bem informados e apt= os a seguir os procedimentos estabelecidos. A pesquisa de Silva (2020), por exem= plo, apontou que, dentre as principais falhas na manutenção de temperatura duran= te o transporte, destacou-se a deficiência nos profissionais abordados quanto ao treinamento específico para lidar com medicamentos termolábeis.
4.4 Sugestões d= os entrevistados para evitar excursões de temperatura
Após a análi= se das respostas dos entrevistados sobre as medidas que poderiam ser tomadas pela empresa para reduzir a quantidade de excursões de temperatura durante o transporte, foi possível identificar opiniões convergentes e também divergentes. Vários entrevistados destacaram a importância de investir em melhorias estruturais nas câmaras frias e nas docas de carregamento. A idei= a de acoplar o caminhão dentro da câmara fria, minimizando a troca de temperatura com o ambiente externo, foi citada como uma solução potencial. Alguns entrevistados mencionaram a experiência de uma empresa no estado de São Pau= lo, um dos parceiros logísticos da fábrica sob análise, como um exemplo positivo desse tipo de estrutura.
A gente fala muito da parte estrutural né?! Talvez=
a
gente teria que desenvolver uma câmara fria ideal para o carregamento de va=
cina
que a gente consiga o caminhão encostar com a antecâmara climatizada e tudo
para o caminhão sair [...] (E1).
[...] se tiver uma câmara fria, que é onde o ar
circula e o caminhão não vai baixar a temperatura, isso aí com certeza iria
diminuir cem por cento os desvios (E2).
[...] a gente tira como exemplo a empresa de São Paulo [...] dificilmente dá um problema no recebimento. P= or quê?! Porque eles têm uma estrutura de recebimento muito bem estruturada [.= ..] (E5).
Outra sugest= ão comum foi realizar estudos mais aprofundados para determinar quanto tempo as vaci= nas poderiam permanecer fora da temperatura ideal sem prejudicar sua qualidade. Isso permitiria que a equipe de logística tomasse decisões mais respaldadas= em relação aos desvios de temperatura, sem necessariamente acionar uma não conformidade, redundando em uma análise morosa pelo Setor de Logística em conjunto com o Setor de Qualidade.
[...] talvez se a gente tivesse =
um
estudo parecido como esse, a gente conseguiria falar e ter uma árvore de
decisão, falar assim: “oh, essa vacina, se ela saiu da excursão de temperat=
ura
em até duas horas, não é desvio” [...]. Seria um estudo de estabilidade
técnica do produto da vacina (E1).
Por fim, é i= mportante ressaltar que alguns entrevistados levantaram questionamentos sobre a falta= de informação acerca da eficácia das medidas usualmente tomadas para tratar ca= sos de excursões de temperatura, visto que eles desconhecem um estudo rigoroso = que mostra a efetividade de tais medidas.
A gente já fez várias tentativas com acompanhamentos =
de
diversas formas para tentar descobrir a causa raiz de temperatura e não
chegamos a uma conclusão efetiva [...] (E4)=
.
[...] talvez teria que fazer alg= um estudo mais aprofundado: “que horas que começou a descarga efetivamente= ?” [...] teria que fazer um acompanhamento mais rigoroso, e a gente nunca f= ez, pelo menos que eu tenha conhecimento [...] (E6).
Assim, as pr=
incipais
sugestões recebidas concentraram-se em aprimoramentos estruturais nas câmar=
as
frias e na realização de pesquisas que estabeleçam o limite de tempo dentro=
do
qual as vacinas podem permanecer fora da faixa de temperatura ideal.
4.5 Representaç= ão quantitativa do corpus textual = das entrevistas
Para represe= ntação e análise quantitativa do corpus textual composto pelas seis entrevistas transcritas, utilizou-se o software= Iramuteq. O corpus textual composto pelo conteúdo das seis entrevistas transcritas totalizou 948 formas (palavras diferentes) com total de 4.888 ocorrências. Primeiramente, o conteúdo das entrevistas foi representado por= uma nuvem de palavras (word cloud), ilustrada na Figura 1, selecionando-se substantivos, adjetivos e verbos. Em= tal representação, são destacadas as palavras de maior frequência.
Figura 1 – Nuvem de palavras
Fonte: Dados da pesquisa (software Iramuteq)
Pela análise= da Figura 1, percebe-se que a palavra “câmara” foi um dos termos de maior destaque, o que pode estar relacionado ao fato de os entrevistados terem ressaltado a possível influência da antecâmara no momento do carregamento d= os veículos como uma das possíveis causas de “desvio” (também uma das principa= is palavras, conf. Figura 1) de temperatura na distribuição de vacinas. Ademai= s, chama atenção a palavra “bloco” como um dos principais termos utilizados pe= los entrevistados, embora em menor proporção, o qual está relacionado ao fato de nem todos os blocos de carregamento na fábrica analisada apresentarem a inf= raestrutura adequada para carregamento, também apontado pelos entrevistados como um dos possíveis motivos de excursões de temperatura na distribuição das vacinas. =
Em seguida, realizou-se a Análise de Similitude, a qual indica a força de conexão entre= as palavras mais frequentes de um corpus textual. Para tal análise, também for= am selecionados substantivos, adjetivos e verbos, descartando-se palavras com frequência muito baixa (palavras que ocorreram menos de 15 vezes), em benef= ício da visibilidade e comunicabilidade do gráfico (Camargo; Justo, 2013 apud Souza et al., 2018). A similitude está ilustrada na Figura 2. =
Figura 2 – Análise de similitude do
Fonte: Dados da pesquisa (software Iramuteq)
Na Análise de Similitude (conf. Figura 2), a espessura dos ramos expressa a força de cone= xão entre as palavras, bem como a força de conexão entre os grupos de palavras entre si, chamados de comunidades. As duas principais co-ocorrências se der= am entre os termos “temperatura” e “caminhão”, utilizados conjuntamente por 16 vezes, e entre os termos “carregamento” e “caminhão”, utilizados de forma conjunta também por 16 vezes. Esses dados apontam que, ao se expressarem ac= erca dos possíveis motivos da excursão de temperatura na distribuição de vacinas= , os entrevistados deram destaque para o momento de carregamento do caminhão e p= ara a sua temperatura.
Analisadas as entrevistas, a próxima subseção focalizará os dados quantitativos levantados relativos aos 128 carregamentos realizados pela empresa em um histórico de = um ano (janeiro a dezembro de 2022).
4.6 Análise quantitativa dos carregamentos de vacinas
A fim de complementar a análise qualitativa proveniente das entrevistas com colaboradores da empresa, foram levantados dados quantitativos de todos os = 128 transportes de vacinas realizados durante o ano de 2022 na fábrica sob anál= ise. Optou-se por obter dados de transportes relativos ao horizonte de um ano completo haja vista que períodos diferentes do ano com temperaturas médias distintas poderiam oferecer informações importantes acerca dos possíveis motivos de excursões de temperatura durante o transporte.
A Tabela 1 s= umariza os seis tipos de vacinas transportados durante o referido período. Percebe-= se que dois tipos de vacina se destacaram, representando, conjuntamente, 63,28= % do total de transportes.
Tabela 1 – Tip=
os
de vacinas transportados durante o período de análise
|
Vacina |
Percentual =
em
relação ao total de carregamentos |
|
Tipo 1 |
32,81% |
|
Tipo 2 |
30,47% |
|
Tipo 3 |
21,88% |
|
Tipo 4 |
8,59% |
|
Tipo 5 |
4,69% |
|
Tipo 6 |
1,56% |
Fonte: Dados da pesquisa
A Tabela 2, = por sua vez, sumariza a representatividade das duas transportadoras contratadas pela fábrica para realizar a distribuição das vacinas durante o período analisad= o. A Transportadora 1 se destacou com 100 transportes (78,13% do total de carreg= amentos).
Tabela 2 – Tra=
nsportadoras
contratadas para a distribuição de vacinas
|
Transportad=
ora |
Número
de carregamentos |
Percentual<=
/span> |
|
1 |
100 |
78,13% |
|
2 |
28 |
21,87% |
Fonte: Dados da pesquisa
Os transport= es foram realizados por um total de 17 motoristas diferentes vinculados às duas empr= esas transportadoras. Um dos motoristas se destacou por ter participado de 29 carregamentos, seguido por outro que participou de 20 transportes. Os demais tiveram contribuições menores.
Os carregame= ntos das vacinas foram realizados em três setores distintos na fábrica sob análise, denominados blocos de carregamento. Neste ponto, o termo carregamento diz respeito ao ato de inserção dos materiais (vacinas) do Setor de Expedição do Almoxarifado para dentro do baú dos caminhões das transportadoras terceiriz= adas para posterior transporte. A Tabela 3 sumariza a distribuição de carregamen= tos por bloco durante o período analisado. Tais dados mostram que houve uma distribuição equilibrada dos transportes entre os blocos de carregamento.
Tabela 3 – Car=
regamentos
por bloco
|
Bloco |
Número
de carregamentos |
Percentual<=
/span> |
|
1 |
45 |
35,16% |
|
2 |
42 |
32,81% |
|
3 |
41 |
32,03% |
Fonte: Dados da pesquisa
De acordo co= m Remor (2017), o transporte de medicamentos sensíveis à temperatura representa um desafio logístico. Tal desafio manifestou-se expressivo neste estudo, haja vista que, dos 128 carregamentos analisados, 90 deles (70,31%) apresentaram desvios de temperatura aquém ou além do intervalo preconizado de armazename= nto e transporte (2 a 8º C) segundo procedimento operacional padrão da indústria sob análise. Tais dados reforçam a justificativa da execução do presente estudo, haja vista que o desvio de temperatura durante a distribuição das vacinas mostrou-se representativo na fábrica analisada.
A maioria dos desvios (54,44%) teve duração total igual ou inferior a 1 hora, seguido pel= os intervalos de 1 a 5 horas (18,89%), 5 a 10 horas (10%), 10 a 15 horas (3,33= %), e acima de 15 horas (12,22%). Os desvios de temperatura ocorreram em difere= ntes momentos: apenas no início da viagem (44,44%), no início e durante a viagem (25,56%), no início e fim da viagem (2,22%), apenas durante a viagem (17,78= %), durante e fim da viagem (1,11%), e apenas no fim da viagem (8,89%). Analisa= ndo esses percentuais, infere-se que os desvios de temperatura ocorreram, morme= nte, no início do transporte (fase de carregamento do veículo), seja de forma isolada ou em conjunto com outros momentos (aproximadamente, 72,22% dos transportes). Isso pode estar relacionado à inserção dos materiais (vacinas= ) do Setor de Expedição do Almoxarifado para dentro do baú dos caminhões das transportadoras terceirizadas para posterior transporte. Esses dados são relevantes para a fábrica analisada neste estudo, uma vez que sugere que os esforços de gestão da empresa, em especial do departamento de qualidade, precisam focalizar investigações no início do carregamento, momento em que = os desvios de temperatura se mostraram mais recorrentes.
A estrutura inadequada para o carregamento dos caminhões foi apontada pelos entrevistad= os como um dos prováveis motivos para variações de temperatura na distribuição= de vacinas pela fábrica analisada. Esse achado está alinhado com a pesquisa de Andrade et al. (2018), a qual enfatizou que a presença de antecâmaras climatizadas adjuntas às câmaras de refrigeração evita a dissipação de ar frio, resultando na redução do consum= o de energia dos sistemas de resfriamento empregados e na manutenção das condiçõ= es adequadas de temperatura.
A presente investigação se mostra intrincada, pois, ao se tentar estabelecer uma associação entre o bloco de carregamento e a ocorrência de excursões de temperatura no início de transporte, foram identificados desvios de tempera= tura no momento de carregamento no bloco considerado pelos entrevistados como aq= uele com estrutura adequada pela existência de antecâmara. Dos 90 transportes com desvio de temperatura, 65 (72,22%) apresentaram desvios no início do transp= orte (momento de carregamento dos veículos) e, desses 65 transportes com desvio = de temperatura no início do transporte, 26 (40%) ocorreram no bloco de carregamento considerado pelos entrevistados como aquele com estrutura adeq= uada pela existência da antecâmara. Portanto, contrastando os apontamentos dos entrevistados com os dados quantitativos dos transportes realizados ao long= o de um horizonte de um ano na indústria sob análise, aparentemente não há uma associação tão clara das excursões de temperatura com o bloco de carregamen= to. Tal dado aponta para a existência de outras variáveis intervenientes que favorecem o desvio de temperatura no momento de carregamento para além da existência ou ausência de uma antecâmara.
Concernente às duas empresas de transpor= te contratadas pela fábrica para a distribuição das vacinas, dos 100 transport= es realizados pela Transportadora 1, foram identificadas excursões de temperat= ura em 70 deles (70%). Dos 28 transportes realizados pela Transportadora 2, for= am identificadas excursões de temperatura em 20 deles (71,43%). Portanto, embo= ra uma das transportadoras contratadas seja responsável pela maioria dos carregamentos, ambas apresentaram altos e muito próximos índices de desvios= de temperatura em seus transportes. <= /span>
No tocante a= os 10 veículos utilizados na distribuição de vacinas, diferenciados entre si neste estudo por suas respectivas placas, alguns se destacaram pelo alto número de desvios de temperatura durante o transporte. 22,22% dos desvios de temperat= ura aconteceram com um veículo específico vinculado ao Transportador 1 e 21,11%= dos desvios de temperatura ocorreram com outro veículo específico também vincul= ado ao Transportador 1. Quanto ao Transportador 2, um de seus veículos esteve ligado a 22,22% das excursões de temperatura identificadas durante a distribuição das vacinas. Esses dados chamam a atenção, haja vista que é possível inferir que, dos 10 veículos utilizados na distribuição de vacinas= na fábrica sob análise, 3 veículos estão relacionados a um número substancial = do total de desvios identificados (65,55%), o que representa uma esfera a ser investigada mais profundamente em estudos ulteriores. O estudo de Silva (20= 20) constatou que 30,6% dos equipamentos utilizados no transporte não são qualificados. A calibração regular de todos os dispositivos de medição de temperatura e a qualificação térmica dos ambientes são práticas essenciais, como observado por Taylor (2001), para garantir uma correta acomodação dos equipamentos.
Quanto aos 17 motoristas que estiveram envolvidos na distribuição de vacinas durante o período analisado, dois se destacaram por estarem relacionados a carregamen= tos com excursões de temperatura. Dos 90 desvios de temperatura identificados, = um dos motoristas vinculado à Transportadora 1 participou da distribuição de 24 carregamentos com excursões de temperatura (26,67%). Outro motorista vincul= ado à Transportadora 2 participou da distribuição de 19 carregamentos com excur= sões de temperatura (21,11%). Os demais motoristas ou não participaram de transportes com desvios de temperatura ou participaram de um número entre 1= e 8 carregamentos com excursão de temperatura. Tais resultados apontam uma suge= stão de melhoria às empresas transportadoras contratadas no sentido de realizarem reciclagem junto aos seus motoristas sobre os procedimentos a serem adotados durante o transporte, considerando que tais treinamentos podem ser uma das causas de desvio de temperatura durante a distribuição de vacinas. Esse cen= ário está alinhado aos achados da pesquisa de Silva (2020) que identificou deficiências nos profissionais em relação ao treinamento específico para li= dar com medicamentos termolábeis. Portanto, torna-se imperativo investir em capacitação e treinamento para promover a adesão aos procedimentos operacio= nais padrão e aprimorar a qualidade do transporte de produtos sensíveis à temperatura.
Haja vista q= ue alguns entrevistados mencionaram o horário de carregamento e o clima quente= da região como um dos possíveis motivos para excursões de temperatura, foram levantados os dias em que cada um dos 128 carregamentos ocorreram. Tomando-= se como referência os 90 carregamentos com desvios de temperatura, 42 deles ocorreram nos meses considerados mais quentes do ano, abarcando primavera e verão (outubro, novembro, dezembro, janeiro, fevereiro e março), enquanto 48 desvios de temperatura ocorreram nos meses considerados mais frios do ano, abarcando outono e inverno (abril, maio, junho, julho, agosto e setembro). Portanto, as estações do ano parecem não exercer influência na ocorrência de excursões de temperatura na distribuição de vacinas na fábrica analisada. É interessante observar que houve um número até ligeiramente maior de desvios= de temperatura em carregamentos que ocorreram na temporada mais fria (outono e inverno).
Em se tratan= do de horário do carregamento, conforme destacado na análise das entrevistas, hou= ve divergência entre os entrevistados quanto à possível influência desse fator= na ocorrência de desvios de temperatura. Alguns consideraram que carregamentos= realizados em momentos do dia mais quentes poderiam propiciar maiores chances de desvi= os de temperatura, enquanto outros reconheceram que esse não é um fator significativo. Na fábrica analisada, os horários de carregamento dependem de uma série de fatores, incluindo a disponibilidade de mercadoria para carregamento e a urgência de abastecimento do produto. É uma área que exige análises mais detalhadas em estudos futuros para determinar sua influência = real nas excursões de temperatura. Por esse motivo, os horários dos carregamentos não foram levantados nesta pesquisa para o período analisado.
É importante mencionar que, dos 6 tipos de vacinas produzidas e distribuídas pela fábrica sob análise, 3 delas se destacaram por estarem relacionadas a um número mai= or de desvios de temperatura. Dos 90 transportes com desvios de temperatura identificados, a vacina tipo 3 esteve ligada a 28 deles (31,11%), a vacina = tipo 6 a 23 (25,56%) e a vacina tipo 5 a 22 (24,44%). Esse dado é relevante e me= rece ser investigado mais profundamente pela empresa, haja vista que aponta que 3 dos seus 6 produtos estão relacionados, conjuntamente, a 81,11% dos casos de excursões de temperatura. Por fim, ao analisar a duração dos desvios de temperatura durante o transporte, foi observada uma predominância de desvio= s de temperatura com duração de até 1 hora (54,44%), seguidos por desvios com duração entre 1 e 5 horas (20%), e desvios com mais de 15 horas de duração (12,22%).
O estudo per= mitiu levantar reflexões sobre o processo de monitoramento de temperatura na distribuição de vacinas pela fábrica analisada que podem servir como inputs para ajustes operacionais e estratégicos pelos gestores desta empresa e de outras organizações que tamb= ém trabalham com operações de distribuição de produtos sensíveis à temperatura, farmacêuticos ou não.
5 CONSIDERAÇÕES= FINAIS
O interesse = em investigar, neste estudo, as possíveis causas de desvios de temperatura dur= ante o transporte de vacinas não surgiu aleatoriamente, mas baseado em apontamen= tos da literatura concernente à temática. O transporte de medicamentos termoláb= eis é um grande desafio para o setor logístico, pois é necessário garantir que esses produtos sejam transportados de forma adequada, preservando suas características químicas e microbiológicas durante a distribuição. Nesse cenário, o objetivo geral deste estudo foi atingido, a saber, investigar o monitoramento de temperatura adotado na distribuição de vacinas em uma indústria farmacêutica em Minas Gerais e as possíveis causas de excursões de temperatura sob uma abordagem multimétodo.
Os resultados apontaram que, apesar da convergência de opiniões dos entrevistados em rela= ção ao potencial impacto da infraestrutura das docas de carregamento nas excurs= ões de temperatura, a análise quantitativa não corroborou essa possibilidade. P= or outro lado, a infraestrutura de carregamento ainda merece atenção, haja vis= ta que se observou que a maioria dos desvios de temperatura ocorreu no início = do transporte, indicando a possibilidade de problemas durante o processo de carregamento dos veículos. Os resultados também apontaram que ambas as empr= esas transportadoras contratadas para realizarem a distribuição exibiram taxas substanciais de desvios de temperatura em seus carregamentos, o que sugere a possibilidade de deficiências em termos de qualificação de motoristas e de manutenção preventiva de seus veículos, haja vista que os desvios de temperatura se concentraram em poucos motoristas e em poucos veículos.
Relativament= e às estações do ano, não se identificou uma influência clara destas na ocorrênc= ia de desvios de temperatura. Surpreendentemente, houve um número levemente ma= ior de casos de desvios de temperatura em meses tipicamente mais frios, opondo-= se à opinião de alguns entrevistados que acreditavam que os desvios aconteciam m= ais comumente em dias e estações mais quentes. Vale salientar que, possivelment= e, a ausência de influência das estações do ano se deve à falta de uma distinção clara entre elas no local de pesquisa.
A análise também enfatizou que, dos seis= tipos de vacinas produzidas e distribuídas pela fábrica sob análise, três deles estiveram relacionados a uma parcela substancial dos casos de desvios de temperatura, indicando a relevância de aprofundar investigações nessa área específica. Dentre as sugestões de melhoria, de acordo com o ponto de vista= dos entrevistados, destacaram-se os aprimoramentos estruturais das câmaras fria= s e a realização de pesquisas que estabeleçam o limite de tempo dentro do qual = as vacinas possam permanecer fora da faixa de temperatura ideal sem implicar a perda e descarte da mercadoria.
Espera-se qu= e este estudo possa ter contribuído para o aprofundamento da investigação de um problema logístico considerado recorrente na fábrica estudada, redundando, futuramente, na redução de custos, maior satisfação do cliente e redução de tempo despendido pelo setor de qualidade nos processos de investigação de desvios de temperatura durante o transporte. Além disso, os resultados desta pesquisa podem servir como reflexões para diversas outras empresas que tamb= ém lidam com o transporte de produtos farmacêuticos termolábeis. A distribuiçã= o de produtos termolábeis é um tema relevante dada a elevada ocorrência de desvi= os de temperatura durante a distribuição destes globalmente (Kartoglu; Milstie= n, 2014).
Uma limitaçã= o deste estudo reside na não consideração do volume, tamanho e embalagem de cada um= dos seis tipos de vacina, uma vez que isso poderia exercer influência direta so= bre a estabilidade de temperatura desses produtos imunológicos. Além disso, é importante mencionar a não consideração da capacidade dos caminhões e seu t= empo de uso, já que a diferença tecnológica entre caminhões pode afetar a manute= nção adequada da temperatura no compartimento de carga. Por fim, para pesquisas ulteriores, dado o escasso número de estudos sobre a estabilidade desses imunológicos na fábrica analisada, sugere-se a realização de uma investigaç= ão mais aprofundada e específica para cada tipo de vacina. Isso ajudaria a com= preender melhor suas particularidades em termos de estabilidade de temperatura.
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ISSN 2237-4558
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Navus •
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